segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

ciclos

MATAR O CHEFÃO E PASSAR DE FASE

Eu estava conversando com um grande amigo meu. Ele referia-se a como é difícil se relacionar com uma pessoa que não encerra as suas histórias passadas. Falávamos ao telefone, e quando ele fez essa menção, ascendeu uma lamparina em minha cabeça corroída pelo Jornal Nacional. De fato, é uma bronca grande estar com alguém que não sabe fechar os ciclos. E quantas vezes não somos nós próprios que estamos nessa condição? É sempre diligente olhar para o próprio umbigo...

Acho que essa dificuldade, quiçá, passe por não enxergarmos que já “matamos o chefão” e passamos de fase, como nos referíamos aos joguinhos de nossos video-games dos anos 90. Por falar em “jogos”, acaba sendo uma possibilidade constante para aquele que deixa as histórias em aberto. É terrível quando envolvemos o outro que não está a fim de jogar, em nossas emaranhadas “partidas” que já deveriam ter acabado.
Creio que outra consequência de deixar pequenas histórias sempre com reticências é que dificilmente conseguimos construir uma relação mais sólida e constante. Não que isso seja um problema, pois dá para ser muito feliz solteiro(a), sobretudo em uma terra pródiga como POA. Aliás, é possível utilizar a circunstância do amor aos desígnios da vida (Amor fati) para se representar essa dupla possibilidade de felicidade. É muito bom ser casado, mas também são significativos os prazeres de ser solteiro.

Voltando ao não encerramento dos ciclos já vivenciados, penso que podem revelar problemas na ligação com a própria história daquele que se mantém nessa condição. Não tenho plena certeza, mas desconfio que haja algum vínculo entre o modo com que atribuímos alguns significados a partir da nossa historicidade e o grau de maturidade que temos dos aprendizados históricos registrados. Explico: se o crescimento deriva da capacidade de superar as pequenas e grandes mortes cotidianas que atravessamos, dos prazos de validade que as coisas têm, então não saber pontuar alguns finais podem nos deixar sem o desenvolvimento destas maturidades. Deixar em aberto é não preencher conosco alguns buracos da nossa história. Talvez, não (re)conhecer o tempo lógico das coisas.

Com relação aos ciclos, a relevância das histórias nas uniões afetivas parece ser o tema de uma canção de Jorge Drexler. “Todo se transforma”, ilustra que ao nos relacionarmos, projetamos aquilo que recebemos, ou seja: o que já trazemos como nossa bagagem; pois já sempre estamos em algum ponto de nossa própria história. Nesse sentido, quando nos encontramos com o outro, “cada uno lo da, lo que recibe, y luego recibe lo que da, nada es más simples, no hay otra norma: nada se pierde, todo se transforma.”. Projetamos a nossa história e ao mesmo tempo somos projetados historicamente pelo outro. Tudo se transforma em história quando estamos afetivamente juntos. E desse modo, tudo se transforma em nossa história. Daí, o quão fundamental parece ser a maturidade com que manejamos a nossa vida histórica. E que encerrar as histórias passadas pode ser um importante aprendizado.
Jayme C

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

relações e desejos

A (anti)ética do desejo

Um critério possível para um casal estabelecer em uma relação a dois é o da ética do desejo. Ou seja, que as pessoas sempre façam aquilo que estão querendo quando distantes e não precisem compor os desejos. Evita que o outro seja visto como uma castração, na medida em que sempre apóia que banquemos o que queremos fazer.

Não ser sentido pelo parceiro como um obstáculo para a execução do seu querer é uma importante conquista de algumas relações. Não que seja fácil conseguir esse horizonte. Muita afinidade, diálogo e lealdade são elementos decisivos nessa constituição. Além de muito amor, é claro, pois a entrega de ambos à relação deve ser sentida com reciprocidade. A existência ou não de similitude na dedicação de cada um serve como termômetro da relação.

Entretanto, a ética do desejo pode ter os seus revezes. Nos momentos de instabilidade na relação, pode ser um fator de insegurança para o parceiro. Quando os casais atravessam turbulências, por vezes os sujeitos se abrem para vivências às quais estavam fechados nos tempos de felicidade... Nesses contextos pode-se ter dificuldade ao optar pela ética do desejo. Em outros termos, talvez se devesse perguntar como agir quando o nosso desejo se torna colidente com o desejo do outro. O que fazer entre bancar o que queremos e a necessária consideração com o parceiro em nossas opções? Nesses momentos, a ética do desejo pode implodir de vez com uma relação que está cambaleando.

Um olhar antropológico, sobre essas questões, pode apontar a primazia do individualismo como base da ética do prazer, pois uma relação com esse grau de liberdade só se realiza com duas pessoas com concretude, que se satisfazem consigo mesmas, que sejam plenamente independentes. A essa concepção pós-moderna se contrapõe outra que não é capaz de conceber amor sem a união dos corpos, dos desejos e dos projetos de vida. Tradicionalmente, o amor não é viável sem que as pessoas sejam capazes de se entregar ao outro.         

É difícil construir critérios quando estamos nos relacionando afetivamente com alguém. Cada sujeito é um mundo com as suas particularidades históricas. E, desse modo, cada um dos amantes chega à relação com um modo de ser único em suas práticas. Talvez, o desejo do outro seja um excelente critério quando conhecemos bem o nosso parceiro. Talvez, funcione quando haja sintonia nas maturidades de ambos. Ou não, talvez a ética do desejo se revele frágil nos momentos de crise ou de falta de reciprocidade na transparência. São os paradoxos de um mundo no qual os valores estão constantemente em franca transformação. Como diria Caetano, em seu terno dom de iludir: “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.
Jayme C.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

paradigma da dor

Chão de barro

Quando minha avó morreu abriu-se o chão e eu cai num abismo. Isso porque, mantive uma complexa relação de amor com ela. O que me atrapalhou na demonstração de afeto a outras pessoas enquanto ela foi viva. Em verdade, o afeto partiu dela.

Meu avô, com quem ela casou com 18 anos, sofreu um acidente e morreu repentinamente quando ambos tinham 46 anos. Ficaram apenas as três mulheres – minha avó, minha mãe e minha tia. O meu avô se chamava Jayme de Azevedo Camargo. Eu nasci quatro anos após a sua morte, e minha mãe lhe rendeu a homenagem projetada no nome que me deu. Resultado de tudo, é que fui dois “Jaymes” no imaginário delas.

O sofrimento pela perda de vovó foi até seu último batimento cardíaco. Deu-se ao vivo. Era uma tarde abafada de setembro. Minha avó estava tomada pelo câncer e sabia-se que eram os seus últimos dias. Estava em um quarto do hospital e não na UTI, pois não havia mais volta. Saí da Puc às 11 e 30 e fui direto para lá, onde encontrei minha mãe. Pouco depois, fomos para casa almoçar. Imediatamente, após comer disse para mamãe que ia voltar para o hospital. Discutimos, pois ela queria que eu fizesse outra coisa antes de voltar para junto de minha avó.

Saí porta afora e voltei para o hospital. Estava no quarto, eu, uma sobrinha de minha avó e mais uma pessoa que não me lembro. Eu estava sentado em um banco bem junto ao leito, abraçado nela. Meio que cochilei e me acordei com a fala da sobrinha: “o coração da tia está parando de bater”. Comecei a chorar e abraçado em sua barriga fui sentindo o coração de “vovolinha” lentamente parar. Como disse no começo, fiquei sem chão.

Anos depois, em uma das muitas sessões de terapia com o meu querido ex-psicólogo Dr. Fausto Lemos, eu me percebi relatando que não apenas tinha caído em um abismo, mas que no fim da queda eu me esborrachei em um chão de barro, aquele barro bem vermelho. Senti a condição de nenhum outro horizonte que não apenas o chão duro de barro vermelho. Dá para se imaginar o que significou esse sofrimento na minha pele... Foram meses de muita dor. De lágrimas incontidas em dias de torpor existencial. O maior sofrimento da vida.

Esse momento vivido há 14 anos tornou-se o meu paradigma para o que é sofrer e sentir dor. Em palavras terapêuticas, o meu mito de (re)fundação existencial. Acho que talvez por isso o meu imaginário referiu-se ao chão de barro, metáfora perfeita para a possibilidade de re-modelagem. A mistura da dor com a sensação de estar perdido é algo deveras difícil no horizonte do sentido. Enfim, ao se tornar o meu referencial de sofrimento, a perda da minha avó só vem à tona nos momentos mais difíceis. E sempre reverbera um ensinamento em meu coração: só a morte encerra, em definitivo, as nossas possibilidades. No mais, como diria um amigo poeta, vida é fortuna, fado e circunstância.         

Jayme C.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

música e democracia

O Estado (não) sou eu: os músicos e o fechamento dos bares
A prefeitura resolveu fechar alguns bares na Cidade Baixa. A alegação é que tal ação foi tomada visando “harmonizar” o convívio entre moradores, comerciantes e pessoas que buscam entretenimento nos bares. E os músicos, senhor Fortunati, restarão abandonados aos infortúnios do esquecimento? Música é cultura. E cultura uma garantia constitucional, ou seja, a sua prestação é um dever do Estado. Mais do que isso, temos que desconstruir uma ideia equivocada no imaginário de muitos, a saber, que os músicos estão se divertindo na Cidade Baixa, ao invés de estarem trabalhando. Os músicos são trabalhadores tais como os prefeitos, garis, mecânicos, enfermeiros, professores, enfim, estão na noite lutando pela sua subsistência e de suas famílias. Essa inclinação que alguns têm de não visualizarem essa realidade dos trabalhadores da noite, legitima o esquecimento do poder público com relação a essa classe trabalhadora.
Como exposto acima, a música cumpre um importante papel na construção da cidadania enquanto direito fundamental que é. São significativos os benefícios sociais para os participantes de comunidades que protegem e estimulam a sensibilidade cultural entre seus membros, sobretudo os jovens. Nesse horizonte, a música ajuda a educar a percepção sensível dos que estão em contato vivo com a sua presença.
Música é poesia. Assim sendo, provoca a capacidade de resignificação da vida no ser humano (fundamental em uma sociedade com dificuldade de lidar com as frustrações). Portanto, como ignorar os trabalhadores cujo ofício é tão nobre, em decisões que envolvem as suas circunstâncias profissionais? Os músicos devem ter um relevante local de fala nesse debate. Aliás, um debate plural na comunidade deve ser realizado antes que de-cisões sejam tomadas. A não observação dessa fala implicará na ausência de legitimidade das ações do poder público, sob o manto do autoritarismo e da “democratura”. Dois aspectos devem ser ressaltados: o primeiro é que a solução em curto prazo não é “despejar” o público alvo da CB para o Anfiteatro Pôr do Sol; muito embora seja uma possibilidade futura para se criar mais um espaço de fomento a cultura, e ainda, de quebra, humanizar um local que é perigoso, sobretudo à noite. O segundo, com relação aos moradores do bairro, de forma alguma considera-se que não devam ter a sua fala sopesada. Entretanto, não pode ser uma fala única, na medida em que o absolutismo e(m) suas ideias como “o Estado sou eu” – já está ultrapassado, mesmo em nossa jovem democracia. Chico Buarque, músico por excelência, também cantou em nome de sua classe: “pai, afasta de mim esse cálice”, ou seria esse cale-se?                 

Jayme C. 

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Amor, gente da gente

Amor, gente da gente

Escrevi, faz cinco anos, que um amor que seja diferente da gente nos engrandece. Mais que isso, sustentei que não havia nada melhor que amar alguém diferente. O tempo devorou implacavelmente essa idéia, tal como o faz com todas as minhas demais verdades. Talvez a explicação esteja no próprio tempo. Tinha 25 para 26 anos quando pensava diferente. Hoje em dia, quase com 32, há uma serena concretude de que um amor compartilhado de identificações é o locus do meu desejo. Nesse momento, não tenho mais saco, por exemplo, para estar com alguém que não goste de samba(r). A música é uma afirmação no meu cotidiano. Seja para escutar em casa, seja para dançar sexta à noite. E eu amo o samba, algo que está enraizado na minha história desde os vinis que escutava, ainda no ventre de mamãe. Gosto e topo outras músicas, mas não há nada melhor que estar junto com uma “enciclopédia do samba”. Da mesma forma com os filmes, ou seja, nada melhor que confiar de olhos fechados nas escolhas da companheira, na medida em que a sua vontade cinematográfica também passa há léguas dos blockbusters americanos.

Outro tipo de escolhas que creio ser o mel do melhor compartilhar a identificação é com relação aos lugares frequentados. Como estar junto com alguém que não curte botecos simples e legais, tais como o LS Meketreff e o Psiquiatra bar? Ou, então, como estar com uma mulher conservadora, positivista, enfim, que tivesse uma mente fechada em pré-conceitos enrijecidos? Não rola… E acho que não estou mais no tempo de ficar brigando por circunstâncias tão pequenas frente à grandiosidade do amor. É uma linda alegria a identificação que tenho com a sensibilidade da mulher que amo. E dadas as escolhas subjetivas que ela faz, que passam pela sua incrível sensibilidade, grande parte de meu incomensurável amor tem assento.     

Jayme C.      

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

amores de professor



Três turmas de hermenêutica (amores de professor)
Minhas três turmas de hermenêutica despertaram-me amores diferentes. Gostei de ser professor delas por três sentimentos singulares. Já que estamos no final da última semana de aulas antes das provas finais, creio ser um ótimo momento para desvelar o(s) sentido(s) de meus amores.

Uma das turmas despertou-me o amor “pai presente”, isto é, a cobrança por amor que os pais fazem visando o nosso crescimento. Cobrei com veemência que eles lessem os textos e estudassem. Percebi com o passar das aulas que eles prestavam a atenção, em geral eram assíduos, porém precisavam dedicar-se mais as leituras. Garotas e garotos inteligentes, mas que precisavam ser sacudidos para acompanhar a matéria árida que enfrentamos. Cobrei, por amar dar aula para eles e os querer ver mais poderosos pelo ganho do conhecimento filosófico. Em certo ponto do semestre fui um pouco duro, mas de forma alguma significou outro que não amor (preocupação). Amei participar do processo de amadurecimento existencial e filosófico dessa turma.

Outra turma despertou-me o amor enquanto “o acreditar primeiro”. Das três turmas foi a que primeiro acreditou no professor, ou seja, logo na largada das aulas ganhei os seus olhares muito rapidamente. Eles me ensinaram que quando a turma está olhando para o professor é porque a turma está junto com ele. E sentir isso é maravilhoso. Resignifica a vontade de dar uma aula envolvente, de seduzi-los a embarcar nos mares da compreensão – tema por excelência da hermenêutica! A rapidez no olhar para o conteúdo os garantiu um rendimento muito bom nos primeiros trabalhos e avaliações. Enfim, uma turma mega inteligente. Turma de alguns alunos integrantes do grupo de pesquisa que temos “Aletheia – hermenêutica, desconstrução & direito. Amei a identificação recíproca no olhar com essa turma, pois me sentia refletido em seus olhares.

Ainda houve a turma que me despertou o amor dos amigos. Um grupo com mais de 55 alunos em sala de aula. Assim sendo, deveras complicado o desafio de “ganhar a turma”. Entretanto, os ganhei e ainda por cima senti vontade de me tornar seu amigo. Eles são diferentes entre si, mas tem uma bonita unidade enquanto turma. A complexidade oriunda de mais de cinquenta mundos diferentes poderia ser uma dificuldade, porém tornou o compartilhamento de nossas vivências deveras enriquecedor. E o “Dasein” heideggeriano caiu na boca da galera. Quando passavam por mim nos corredores da faculdade diversas vezes gritavam “e o Dasein, professor?!”. E, de lambuja, me mostraram um vídeo que gravaram em uma noite dionisíaca. Eles estavam na embriaguez de Dionísio e falando sobre o “Dasein”! O maior gabarito do deboche é que o aluno que tirou a maior nota da turma é o personagem principal da “filmagi”. Sinal que o conteúdo heideggeriano marcou as suas trajetórias acadêmicas. Ao final de agosto, quando meu pai morreu, eles fizeram uma linda homenagem com um cartão e uma flor sobre a minha mesa. Eu disse com sinceridade: “foi o momento em que me senti mais acolhido no Maranhão”. Amei o acolhimento e amizade construídos com eles.

Em suma, foi a maior, melhor e mais deliciosa experiência profissional da minha vida. Graças a esses maravilhosos alunos, finalmente tenho certeza do que desejo para a minha vida profissional, ou seja, ser professor de hermenêutica. Amarei eternamente esses alunos que marcaram a minha trajetória.
Prof. Jayme C.        

terça-feira, 11 de novembro de 2014

umbiguismo paranóide, arrogância colorada



Paulo Santana & Kenny Braga (umbiguismo paranóide, arrogância colorada).

Kenny Braga e Paulo Santana representam o ultrapassado na opinião futebolística. Sustentam um revanchismo démodé em uma época de clamor pela harmonia entre as torcidas. Santana e Kenny falaram com sucesso para outra geração, mas não souberam resignificar as suas falas para os filhos dessa época (nascidos nos anos 70 e começo dos 80). Não se quer brigar com os amigos rivais. Se for o caso, quer-se fazer churrasco e até mesmo olhar junto o grenal. Relembro da minha época mais retardada quando eu não tinha categoria na “flauta”. O deboche é saudável desde que feito com sensibilidade. O passar do tempo deve registrar o ajuste das práticas. Os dois dinossauros da grenalização pioraram as suas com o advento da senilidade. As falas de Santana são quase sempre, com o legitimo temor da finitude, sobre si mesmo. Santana não fala mais sobre o Grêmio. Usa o Grêmio para falar sobre si mesmo (umbiguismo paranóide). E em matéria futebolística, tem opiniões ridiculamente desmoralizadas pelos fatos – vide o caso do magnífico arqueiro tricolor, Marcelo Grohe. Kenny, além de todo o modo repugnante e tacanho com que destila o seu conservadorismo, desenvolveu a arrogância pós-2010. Toda aquela arrogância que os gremistas tinham no começo dos anos 2000, tornou-se vermelha após a segunda conquista libertadora colorada. É fato: a grande massa torcedora não sabe perder e não sabe ganhar. Kenny, tal como Santana o fizera nos anos de abundância de vitórias do azul, quando ganha, pisoteia. E o esquecimento dos tempos de dor o tornou um sujeito que não sabe administrar as derrotas. Adroaldo Guerra filho, o “Guerrinha”, é colorado e equilibrado nas opiniões; não a toa é o melhor comentarista esportivo da praça. Tal como o também colorado e mestre supremo dos comentários, “Claudio Cabral”, que foi o pai-de-todos enquanto viveu e comentou. A RBS parece ter percebido que era hora de fazer uma interdição no hospício. Afinal, microfone na mão de carente é sempre um atentado violento ao bom senso.
Jayme C.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

amor



Um golpe de estados

Um golpe de estados. Da geografia das almas. Um amor que não tem distância. Múltiplas essências na mistura dos contextos. Texturas e sensibilidades ao invés de testes. Microvilosidades subjetivas. Tragos homéricos quando presentes. Estragos só nos sós: na parcial divisão dos mundos. O nosso desígnio é uma sina superável. A ilusão metafísica da ponte para unir aquilo que nunca está separado. O sentido. Sentimento acumulado. Pré-compreensão sensível. Nossa janela tem mares no horizonte. Tem lúgubres carinhos. Criativas aberturas de pequenos lugares. E o jeito do outro enquanto obra de arte. Um acontecer da verdade. De gostar do ser do outro. Não há afeto mais concreto.  Concretude afinidade existencial. Compartilhamos a política, a profissão e a poesia. Além do deboche do superficial. Amor leve, lúdico, carnal, por vezes louco. Consistente em seus infinitos instantes. Amor de questionamentos nietzscheanos. De sambas de Paulinho da Viola. Da psicanálise nos discursos e do desejo como fundamento.
Jayme C.   

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

eleição, política & politização

Qual o grau de politização dos gaúchos? Ou diálogo com um maranhense

Aqui no Maranhão uma pessoa me perguntou sobre as eleições para o Rio Grande do Sul. Meu interlocutor indagou-me se o gaúcho é um povo politizado. Daí, eu descrevi o resultado das eleições e deixei que ele próprio compreendesse a politização dos gaúchos.
Esse não é um argumento petista. Tampouco, uma crítica ao antipetismo, mas uma tentativa de interpretação de fatores da politização dos gaúchos a partir do resultado democrático concreto. Portanto, tentarei ao máximo evitar pré-concepções idealistas sobre o resultado acontecido.
O deputado federal mais votado, Luiz Carlos Heinze, revela em sua expressiva votação que representa uma considerável parcela do povo gaúcho.  Em uma audiência pública realizada no município de Vicente Dutra, em novembro de 2013, Heinze afirmou que "quilombolas, índios, gays, lésbicas são tudo que não presta". E esse é um dado conhecido de grande parte da população gaúcha. Ora, não podemos ser ingênuos como recentemente FHC o foi ao afirmar a desinformação de quem não pensa como ele. Foi amplamente divulgada nos meios de comunicação essa atitude de Heinze. As pessoas que votaram nele, de alguma forma, realmente acreditam que "quilombolas, índios, gays, lésbicas são tudo que não presta". Eu penso radicalmente diferente. Porém, sei que têm milhares de gaúchos no interior e na capital que pensam assim. Em nossa jovem democracia parte da população gaúcha acredita que o discurso de Heinze os representa. Por essa razão, votaram nele. É um exercício de olhar para dentro do que somos, enquanto povo, mesmo que nós e nossa “timeline” no Facebook consideremos até mesmo criminoso o discurso de Heinze. Repito: não podemos tolamente acreditar no desconhecimento do outro. Os próprios adversários de Heinze ocuparam-se em difundir as suas ideias e visão de mundo.
Da mesma, forma, a eleição de Jardel, apadrinhado politicamente pelo ícone do PSD no Rio Grande – Danrlei. Por isso, primeiro acho justo nos indagarmos qual o grau de cidadania que Danrlei demonstrou enquanto figura pública do esporte. Ora, se Dunga se candidatasse eu compreenderia a sua possível eleição, já que ele demonstrou, durante a sua trajetória, práticas e discurso isonômico, virtudes que me parecem importantes para um representante parlamentar. Danrlei, entretanto, passou há léguas disso.
Os cientistas políticos alegam ter sido o voto dos torcedores que elegeu Danrlei. Fico imaginando se os torcedores que votaram no arqueiro gremista, não são parte daqueles que “morrem pelo seu time”. Torcedores que, normalmente, afloram facetas selvagens dentro dos estádios de futebol. Danrlei se reelegeu e levou na carona Jardel, sujeito que tampouco teve domicílio eleitoral no Rio Grande do Sul na maior parte da sua vida. Um dado óbvio sobre a eleição de Jardel: o candidato escolheu o Estado do clube onde ele foi ídolo para concorrer ao pleito. Entretanto, novamente é importante destacar que Jardel e Danrlei representam parte dos gaúchos. Acho frágil em nível de cidadania ir às urnas no domingo da eleição e votar como torcedor e não como cidadão. Porém, essa é apenas a minha leitura.
O senador eleito Lasier Martins é o caso mais polêmico. Muitos o odeiam e muitos o amam. Tendo em vista as manifestações (reais e virtuais) que ambos os lados fizeram, a adjetivação entre o amor e o ódio cai como uma luva ao senador. Detentor de repulsa pelos cidadãos de esquerda foi aclamado nas urnas como o escolhido dos gaúchos. É quase unanime que a sua candidatura foi alavancada pelos anos de exposição na RBS. Acho que esse é o ponto, como nos casos acima. Qual o estofo político que Lasier manifestou enquanto jornalista? Lasier demonstrou cidadania em suas práticas e análises jornalísticas? Foi à primeira eleição de Lasier. Assim sendo, seus eleitores votaram no jornalista famoso e não em uma possível trajetória política que neste caso, nem sequer foi construída ainda. Lasier Martins representa pelo menos dois milhões de gaúchos.
Acredito que os exemplos analisados podem ser um Norte sobre o discurso fundante de milhões de gaúchos, povo que avoca cotidianamente a tese de ser o mais politizado do país. Não saberia dizer se isso é verdade ou não, afinal, trata-se de uma questão complexa demais para essa breve crônica. Aliás, voltando ao meu interlocutor maranhense, este descreveu o que vivemos aqui no Maranhão: depois de 50 anos a família Sarney perdeu uma eleição, confirmando a minha ideia de que atualmente as pessoas sabem quem são os seus representantes. Nesse horizonte está recolocada a questão: e os gaúchos – sabem qual o seu grau de politização?

Jayme Camargo

sábado, 16 de agosto de 2014

vida como um filme

Um sábado sobre o amor
O sábado havia sido primaveril naqueles dias de inverno. Uma trégua para o frio. Assim deslizamos abraçados em mais um de nossos incríveis encontros. Nossa familiaridade foi desenvolvida. E mesmo na discrição do nosso ser-com, o nosso compartilhamento de mundos refletido em nossos jeitos. Habitamos conjugadamente no complexamente simples. Temos no desejo do outro um critério sempre observado. E assim nossos acordos são leves e fáceis em face da sensibilidade significada. Nosso cotidiano é um acontecimento, é fenômeno, fenomenológico. Vivenciamos as vivências comungadas sempre a flor da pele. Nossos mitos fundantes demonstraram abertura para um diálogo agregador e constante. E assim mais um horizonte re-significados ao invés de re-calcados. Tivemos momentos de lampejos de paixão adolescente, aquelas primeiras que nos transbordam de sentimento, ao darmos as mãos recolhidos em nosso mundo possível. Tivemos momentos de múltiplos sorrisos no deboche oriundo do disco quebrado. Adoramos o contexto: “assim você não vai mais ser convidado”, pois nele estava implícito o nos encontramos para ficar. Fugimos já no começo da madrugada para apenas juntos re-pousar. De fato aterrissamos na vida do outro. E a partir de então as vivências ganharam um tom vida como um filme. Um golpe de estado(s)! Das almas e dos “brasis”. Naquele sábado, a vida nos re-uniu e Caetano nos cantou...
Jayme C.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

#hashtagscompartilhadas



GOSTO
Gosto dos seus múltiplos penteados. De seus mais diferentes sorrisos nos retratos. Das cores dos seus vestidos. De seu charme em sua serena inquietude. Gosto do seu jeito de ser habitado na alteridade. Gosto da sua idade, de compartilharmos a geração. Gosto do modo com o qual ela se relaciona com a sua história. Da narrativa que constrói a partir de suas tragédias e glórias. E de sua capacidade de chorar. Gosto muito de sua desenvoltura. Mas também dos seus lampejos de timidez. Gosto de sua sensibilidade forte. Gosto do seu ser maluquinha em sua alma dadivosa. Gosto que ela gosta do samba. E de amor. Ela sabe gostar... Gosto de sua criatividade. Do modo como ela adere às brincadeiras. Gosto das # (hashtags) compartilhadas. E do seu deboche sagaz permeado de “vamos viver-à-vida”!  Gosto muito da sua afrodisíaca inteligência. Gosto de dançar com ela. Gosto de transar com ela. De ouvir Lenine e trocar ideias até as altas da madrugada. Gosto da sua dedicação para o trabalho. De suas mais variadas competências. Gosto do seu apreço pelo uísque.  A cada dia que passa gosto mais dela. Gosto que ela me faz voltar à poesia...
Jayme C., de SLZ para POA, 00:12, 25/07/2014