segunda-feira, 21 de abril de 2014

feios interessantes



Homens interessantes ficam menos feios
O outdoor com o arguto poeta Fabricio Carpinejar foi colocado de frente para a sacada do meu quarto, na José do Patrocínio com Perimetral, uma das artérias da Cidade Baixa. Ele diz: “Homens inteligentes ficam mais bonitos”. Ora, da falta de beleza à inteligência me identifiquei com o tema. Essa perspicaz frase publicitária é acertada por acidente. Seu intuito era destacar as roupas da loja em propaganda. Seu acerto acidental é que de fato homens inteligentes podem ficar mais bonitos. Não pela inteligência em vestir Aduana, mas pela inteligência manifesta enquanto “interessância”. O ponto é ser interessante. Como não sou bonito e careço de várias inteligências, passei definitivamente a valorizar esse horizonte a partir de certo momento. Isto é, buscar crescer como pessoa para ser uma pessoa cada vez mais interessante. Percebi o afrodisíaco da interessância não a partir do meu próprio umbigo, mas na relação com os outros. A sensibilidade do outro é sempre um fundamental parâmetro para o quão interessante o nosso jeito de ser se constitui. Tive o estalo quando percebi que todas as pessoas que eu gostava bastante (família, amigos, amores) eram muito interessantes. Ao pensar neles sempre cheguei a uma multiplicidade de características diferentes, talvez só passíveis de reunião na categoria dos interessantes. Acho que os interessantes largam na frente dos só bonitos, porque normalmente contam com a sabedoria e nego-velhice das boas práticas. Aliás, do que adianta um bonito pouca prática ou um intelectual chato? Tem isso também, inteligência conceitual vale só na academia. Pessoas que são reféns desse tipo de inteligência são chatos de carteirinha; digo isso por experiência própria. Assim sendo, muito melhor um feio interessante que um bonito vaidoso que se preocupa só com o próprio prazer na hora da cama. Ou um mala que fala só sobre assuntos éticos o tempo todo. A interessância gera o encantamento e esse a sensação de vida como um filme. Daí a realista conclusão: homens interessantes ficam menos feios!
 Jayme C.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

politicamente (in)correto



Patrulheiros do politicamente (in)correto.
A era facebook nos legou mais um tipo de mala: os patrulheiros do “politicamente (in)correto” (doravante “PPI”). São os sujeitos que estão sempre prontos para fazer um adendo no post alheio em nome da moral e dos bons costumes. Jogam somente no time do politicamente correto. Normalmente são chatos e desagradáveis, além de materialmente não agregarem nada com seus comentários furados. Estão sempre e apenas na espreita de temas polêmicos: política, drogas, sexo, futebol, religião, feminismo, racismo, violência e outros de igual envergadura. Esse texto seria sobre a geral do grêmio. Desisti. Fatalmente viria alguém dizer que eu estava generalizando a geral, dadas às críticas e repulsa que estão latentes em minha mente sobre aqueles supostos torcedores. Os patrulheiros diriam: “não são todos que são violentos, conheço vários que estão lá e não vão para brigar”. Daí a minha conclusão (depois de muita análise) que os PPI em geral são meio ignorantes. Eles têm dificuldade de interpretação, isto é, de sacarem o sentido do argumento alheio. Ou pior, são mal intencionados mesmo. Sigo no meu exemplo, se escrevesse sobre a merda que é a violência oriunda da geral do grêmio, qual o cérebro de ervilha não compreenderia que estou falando apenas dos baderneiros? Que não estou incluindo os torcedores carentes que vão ao estádio só para torcer e ocupam aquele espaço por ser o mais barato. Nesse tipo de horizonte eles vão dando a sua opiniãozinha. É importante pontuar que os PPI normalmente não conseguem escrever mais de 10 linhas com sujeito, predicado e algum significado. São sanguessugas das ideias dos outros. Se o cara critica o capitalismo, então é comunista; se defende argumentos liberais, então é má pessoa. Se o cara fala bem das jovens, então não gosta das velhas. Se acha que tem que haver um marco regulatório para a nossa ardilosa imprensa, então é defensor da ditadura. Se fala que está só pela putaria com as minas, então é machista. Se defende a legalização da maconha, então é maconheiro. Se expressa que Caetano Veloso inventou um jeito brasileiro de ser bixa, então é homofóbico... Chega! Meu conselho é que os PPI devem aprender a defender o seu ponto de vista a partir da vista do seu ponto. Aproveito para me desculpar de alguma posiçãozinha PPI que tenha ocupado. O filtro próprio é rigoroso, mas às vezes nos escapa.
Jayme C.       

quinta-feira, 10 de abril de 2014

motel e feminismo



DIVIDIR A CONTA DO MOTEL (pensamentos “feministos”)
Na virada do milênio, as raras vezes em que eu ia para um motel com uma garota achava que tinha o dever de pagar a conta. Catorze anos depois percebi ter mudado de opinião. A lamparina dessa ideia foi acesa em um debate com os meus afáveis colegas de trabalho. Nesse tempo que passou houve uma construção de práticas. Primeiro, como já disse, achava que os homens tinham a obrigação de pagar a conta do motel. E assim o paguei silenciosamente durante muitos anos. Entretanto, o caminhar da vida amadureceu as experiências. Re-significou alguns conceitos. E frente a essa mistura de sensibilidades e ideias passei a achar cada vez mais justo a divisão da conta. Desse modo, passei algumas situações de não saber como falar para a garota que achava justo dividir. Muitas vezes calei. Continuei assumindo a responsabilidade pelo pagamento. Porém, me descobri um “feministo”, ou seja, um sujeito que defende os reclames feministas. E assim um novo passo foi dado. Desenvolvi uma técnica de como perguntar para a mulher se dividiríamos a conta. “Vamos ser (pós)modernos ou eu pago conta?”. Frase genial que roubei de um grande amigo. E é a sentença perfeita, pois é leve como devem ser as saídas do motel.

Importante tecer alguns comentários sobre o feminismo. Namorei uma feminista de muito fundamento quando morei em Brasília. Esses dias em um descontraído papo ela comentou sobre um texto no qual eu me declarei feministo. Aproveitei para tirar a prova real e perguntei se ela me considerava um homem machista. Ela respondeu: “isso você definitivamente não é, muito embora tenha outros defeitos”, terminando a frase com uma risada afirmativa em seu cativante sotaque paulista. Foi uma confirmação importante no constante crescimento que me cobro frente a uma imensidão de imperfeições. Repito-me: “uma acertada tese de várias feministas é que os homens nunca vão conseguir saber como se sente uma mulher em um mundo machista full time como o nosso. Assim sendo, ser feministo reflete a condição de alguns homens, a saber, sensíveis à defesa dos direitos feministas, porém cientes de sua condição existencial masculina. Sobretudo em sendo fruto mais de grandes mulheres do que de grandes homens, como no meu caso”.

E é nesse contexto de tentativa de diminuição das desigualdades de gênero que acho justo a divisão da conta. Ora, se o motel como um todo é dividido, se o prazer deve ser recíproco, porque o custo capitalista da brincadeira deve ser masculino? Nossa cultura machista fabrica esses mitos. Nosso horizonte deve ser derrubá-los. Talvez filosofar a marteladas e quebrar as práticas conservadoras. Senão, quem vai pagar essa conta? É claro que são as mulheres... As mulheres “mi-mi-mi” (estilo “mulherzinhas”), que acham obrigação do homem pagar a conta e estão odiando o argumento, talvez não percebam que culturalmente seja mais benéfico para si.
Jayme C.

terça-feira, 1 de abril de 2014

racismo e futebol



Sobre o racismo no futebol provinciano (crônica de um crioulo gremista)

Quando alguém agride outro alguém pela cor da pele, sempre ressoa em minha mente aquela velha máxima que o Homem é um projeto que não deu certo. Puxa vida, fico impressionado com a capacidade que o ser humano tem de se mostrar vazio. Idiota. Desprezível. Acho tão absurdo o preconceito racial, que não consigo não sentir certa náusea existencial por aquele que assim agride. E vamos ser honestos com o problema. Somos racistas. Nossa linguagem é preconceituosa. Os termos “negros” que usamos denotam sempre coisas ruins. E ainda existem os imbecis que manifestam o seu racismo de forma consciente. Eles estão em todos os lugares. Em todas as classes. Estão soltos por aí no cotidiano. Na torcida do grêmio e na torcida do inter. Eu estava na Arena domingo e senti vergonha alheia por um idiota que vaiava o inter imitando um macaco próximo onde estava sentado. Repito, existem racistas na torcida do colorado também. Hoje em dia não há essa mítica exclusividade que resvala no imaginário de alguns colorados. Eu próprio lembro ter ouvido em um tom escroto um “sai pra lá negão”, durante um jogo de bola em idos de 1996, na sofrida oitava série do colégio Rosário. De um playboy caucasiano e colorado. Infelizmente cânticos que chamam os colorados de macacos são racistas. Infelizmente eles estão impregnados na torcida do grêmio. Sou um torcedor com 23 anos de estádio. Também pela violência de alguns cânticos normalmente opto pelo radinho e o foco no time em campo, ante a manifestações mais exageradas. Aliás, sempre digo: a magia do futebol é maior que qualquer clube em particular. O time é o acesso direto a esse mundo maior que é o futebol como um todo. Entretanto, futebol é apenas futebol. E fala aqui um apaixonado que olha jogo até da segunda divisão gaúcha. Porém, o limite do futebol é muito anterior ao de qualquer integridade de outro ser humano. Física e moral. É tolo escutar como volti-e-meia escutamos: “eu morreria pelo grêmio/inter”. Tais pessoas normalmente são as que colocam em risco a segurança das outras pessoas. São sujeitos vazios e infantis, que não conseguem preencher a própria vida com experiências de valor existencial. E assim precisam da violência contra o outro para se constituírem como sujeitos. Lamentável o racismo. Lamentável a violência no futebol como um todo.
Jayme C.