quarta-feira, 28 de novembro de 2012


A coisa ficou russa

Fui ao Pé-palito (pé-pa) com um grande amigo que havia ficado solteiro. Esse amigo ficou apenas uma semana em liberdade provisória. E foi o suficiente para que realizasse um estrago na província. Logo ao entrar no pé-pa acabamos nos perdendo. 40 minutos depois nos reencontramos e havia duas garotas consigo. Uma delas se chamava Gi e era um antigo affaire seu. A amiga de Gi, por sua vez, meu amigo disse que era russa, que só comunicava-se em inglês, bem como que era para eu dar um jeito nela. Sem titubear passei a rasgar a mina com o meu inglês basic mode. Tentei dialogar sobre aspectos da cultura russa que eu conhecia. Assim, entre falar sobre Oleg Salenko – artilheiro russo da copa dos EUA em 94, ou, sobre Dostoievski, preferi arriscar no mestre da literatura. Ela nem deu bola para o meu argumento intelectual. Gesticulando me mandou deixar de ser o idiota, pois senão meu castigo seria não conseguir o crime que homens ordinários e extraordinários executam pela noite... Enfim, começamos a ficar e nem uma hora após o nosso primeiro beijo começávamos o deslocamento para a residência pós-moderna da querida juju. Na época eu servia de caseiro para a juju, pois ela passa parte de seu tempo voando pelo mundo. Bem, fomos ao quarto de hóspedes e nos entregamos ao dionisíaco. Lá pelas 8 da manhã, pouco antes de nos despedirmos, perguntei seu nome e algum meio de contato. E não tinha como não pedir. Foi como ser o ator principal de um filme de sacanagem que a atriz principal tem como fala constante: “Oh, yeah, yeah... Oh, yeah...”. Qual homem nunca sonhou com uma gringa e gemidos internacionais? Ela revelou que se chamava Luana e que como era casada preferia terminar o nosso breve relacionamento naquela manhã chuvosa. Disse também, aliás, que morava em São Paulo. No outro dia comentei o ocorrido com meu amigo Lucio. Ele sem pestanejar interjeitou: “puxa vida, uma russa chamada Luana?!”. Não dei bola para o deboche que rolou – “Jayminho pegou uma russa paraguaia!”. Um mês se passou e fomos a um churrasco na casa do Fred. Narrei à história da russa e assim fomentei a gargalhada dos amigos. Entretanto, Aline Medina pontuou que conhecia a irmã de uma amiga nossa que tinha uma amiga chamada Gi, que mora em São Paulo, se chama Luana e adora fazer brincadeirinhas com os meninos na noite. Ela volti-e-meia se faz de muda ou de estrangeira, e assim tira uma onda pelas noites da província quando está por aí. Verificamos nos contatos de Medina e não deu outra – Luana era a russa! Demos muitas risadas da coincidência. Não costumo citar nomes, mas Luana deixou na reta... Literalmente! Assim sendo, sigo com Dostoievski, no horizonte dos “Irmãos Karamazóvi”, acreditando que todo criminoso cria a sua própria condenação. Seja ordinário(a) ou extraordinário(a). Daí é uma questão de sorte...

Jayme Camargo

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

província em pauta

O provincianismo dominante em Porto Alegre

Na província de Porto Alegre se o sujeito não é bonito, rico, da RBS ou com um sobrenome que revela uma família tradicional na ascendência está fodido. Não tem acesso as coisas boas. Se não é bonito, então lhe falta sexo. Se não é rico, faltam as mercadorias de qualidade. Se não é da RBS, ninguém lhe enxerga. O sobrenome garante um CC no tribunal de (in)...
justiça ou algo nesse sentido. Quando venho com esse argumento, sempre tem um chato para retrucar: “é assim em todo lugar”. Talvez seja. Entretanto, como sou natural da província é lá que posso perceber e descrever o fenômeno. Quando um ex-provinciano como eu começa a conhecer outros lugares, essa condição reluz no imaginário. Reafirmo: o conhecimento de outros locais faz com que você enxergue o seu local de origem de um modo mais preciso. É a grande lição que o cosmopolitismo pode assegurar. Lembro com nostalgia uma noite em idos de 2006 que o velho amigo Marcelo Giulian, com a sagacidade costumeira caracterizou-me como um cosmopolita que nunca havia saído da província. Faltavam recursos. Sobrava a fome pelos livros. Enquanto não viaja pelos céus do Brasil, assegurei-me de conhecer as coisas através das viagens que a literatura proporciona. Foi ótimo o curso em que as coisas aconteceram. A leitura me possibilitou a escrita. As recentes viagens à confirmação de que a província é de fato provinciana, ou seja, em geral um lugar fechado. Um lugar no qual as pessoas em geral saem apenas para encontrar quem elas já conhecem. Um lugar que se orgulha de uma revolução esfarrapada de burgueses safados, escravagistas e loucos pelo lucro oriundo do charque. E que fique claro a regra do jogo social provinciano: ou você é isto ou você é aquilo. Deus o livre não pertencer apenas a uma tribo. Deus o livre ter muitas coisas diferentes constituindo a sua subjetividade. A diferença e o novo geram a desordem no imaginário dualista dos provincianos. É necessário cultuar o padrão. Seguir o padrão. Ser “normal”. E ficar bem quietinho para não contestar o status quo vigente nas pequenas cabeças provincianas. Vão me chamar de ressentido. Me junto a um de meus amigos e mestre, Juremir Machado da Silva, que também é por vezes taxado dessa forma. É o preço de quem não se cala na provocação constante dos provincianismos ultrapassados. Ademais, não sou bonito, mas tenho uma namorada linda que me ama. Não sou rico, mas estudei o suficiente para ter uma carreira que me garanta financeiramente. Não sou da RBS e agradeço por poder debochar livremente de figuras “midíocres” como Lasier Martins e outros que tais. Orgulho-me de minha família. Aliás, para os que se sentirem agredidos, é hora de repensar suas práticas e investigar uma possível mente fechada. Para os outros, vamos rir e debochar de nossas mazelas originais e originárias.

Jayme Camargo da Silva, Rio de Janeiro, 01/11/2012, 04 e 11 da manhã.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Sobre a (impossibilidade da) pena de morte

Sobre a impossibilidade da pena de morte (no caso do cinema de Aurora)

A audiência preliminar do norte americano James Holmes, que invadiu um cinema e disparou com armas de fogo nas outras pessoas, resultou em uma questão para a acusação: “estamos decidindo se pediremos a pena de morte”. Isto é, a pena de morte é aplicável a James Holmes? Para responder a questão, devemos primeiramente definir se a pena de morte em geral é uma medida cabível em um ordenamento jurídico, ou seja, segundo nossas regras enquanto sociedade civil. O Estado é constituído porque cada um de nós faz um pacto com os demais. Cada pessoa tem uma esfera de direitos que representa a totalidade dos direitos de cada um. O Estado é constituído, pois cada indivíduo abre mão de uma parcela da sua esfera de direitos, em favor de sua constituição. Assim sendo, o Estado dita como devem ser as relações entre as pessoas por meio das regras que elabora. Ele passa a constituir, isto é, estabelece uma Constituição. Fica proibida a vingança entre as pessoas. O Estado é chamado quando duas pessoas tem um problema, para através do Direito dar uma resposta sobre o litigio. O detalhe fundamental é que criamos o Estado porque queremos preservar a nossa vida. Afinal, ela é o nosso bem mais valioso e que melhor deve ser protegido. Como não temos segurança estando mercê à vingança privada, deixamos nas mãos do Estado a decisão a ser tomada em cada caso concreto. Disto concluímos que não abrimos mão da totalidade dos nossos direitos ao nos associarmos para fundar o Estado. Ora, a totalidade dos nossos direitos representa a nossa vida, pois ao perdê-la, perdemos a possibilidade de exercer todos os demais direitos constitutivos da nossa esfera. Portanto, não abrimos mão da nossa vida ao realizarmos o pacto social com os demais sujeitos. Se não colocamos a nossa vida a disposição e antes naturalmente a protegemos como o nosso bem mais valioso, então o Estado não tem em seu poder a jurisdição de decidir sobre a vida das pessoas. Ela é anterior à própria constituição do Estado. A liberdade do Estado para com a nossa vida é negativa, ou seja, é de não-intervenção. Entretanto, como nos confrontar com a atrocidade que James Holmes cometeu?

Jayme Camargo
advogado, mestre em filosofia.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Batman: um americano das trevas ressurge.

Os EUA construíram um império em todos os domínios possíveis. Com relação à indústria cultural, o fenômeno se mostrou uma peça importante na engrenagem da dominação do imaginário de pessoas não estadunidenses. O cinema do Tio Sam, nesse contexto, invadiu os lares de milhões de sujeitos no mundo moderno ocidental. Seu mote, difundir valores, bens de consumo e modos de viver norte-americanos enquanto o correto a guiar as demais pessoas originariamente estrangeiras a esse “modus vivendi”. A relação de força na qual opera o poder, entretanto, confunde controladores e controlados. Gera disfunções. E assim mistura vitimas e vitimados. Heróis e bandidos. Na recente tragédia americana, super-herói e super-bandido. O estudante de 24 anos que entrou disparando armas de fogo contra espectadores em uma sala de Cinema de Aurora, no estado americano do Colorado, mostrou-se um facínora doentio que desconhece o valor da vida humana. Ironicamente, o assassino é estudante de medicina, isto é, deveria estar se preparando para salvar vidas e não para ceifá-las. E mais, trata-se de um típico representante do “american way of life”, ou seja, bem nascido, loiro, magro, futuro médico, olhos claros, tal como nos são apresentados os heróis do cinema estadunidense. Ao passar da ficção da realidade à realidade da ficção, o atirador estava fantasiado de inimigo não só por fora, mas sua fantasia de Coringa estava também no seu imaginário. O cavaleiro das trevas, como o personagem Batman é tradicionalmente referido, fez das trevas lugar de origem e resultado final. Talvez seja esse o preço da ficção fabricada enquanto realidade.  

Jayme Camargo da Silva

terça-feira, 10 de julho de 2012

Sobre o "deus" de José Saramago

Sobre o "deus" de José Saramago

Da recente leitura de José Saramago, "Caim": Saramago, tal como fizera no "Evangelho segundo jesus cristo", ao construir o personagem "deus", reinterpreta a metáfora bíblca partindo da inversão de uma premissa. Se o homem é feito imagem e semelhança de Deus, então deus pode ser humanizado e transformado em personagem agente. Assim sendo, o deus de "Caim" e do "Evangelho" é responsável direto pelas mazelas de/do ser humano. Saramago constitui um deus egoísta, vaidoso e cruel. Daí a nossa condição humana, se levamos em conta o argumento sobre a origem da vida calcado na liturgia da revelação.

quarta-feira, 4 de julho de 2012


Corinthians, Libertadores e as “linhas de 4”.

Eu não gosto do Corinthinas enquanto clube de futebol. Enquanto cartolas que conseguem as coisas com suspeição pública aos olhos de todos. Todavia, o atual time de Tite merece ser campeão da América. Time equilibrado e consciente, logo, consistente. Diz um dito do futebol: “o jogo se ‘ganha’ é no meio-campo”. Assim sendo, vejamos a estrutura do meio corinthiano. Equilibrado, pois joga com 2 volantes modernos. Ralph, mais fixo e centralizado, com muita pegada e qualidade; junto com Paulinho, jogador que reúne força, certa habilidade e mobilidade. Fechando o meio com 2 excelentes articuladores, que aliás já foram campeões da América. E se complementam em campo. Danilo, versátil e voluntarioso, faz gols e faz com que todo o lado direito se movimente (até mesmo jogadores simplórios como o lateral Alessandro). E, Alex, o centro técnico do meio do time, jogador muito técnico, rápido, e que ainda conta com um preciso arremate. A mecânica de Tite é perfeita. Faz com que todos joguem. Pois, sem a bola, todos marcam. Os volantes avançam e jogam, e não apenas marcam (não são quebradores de bola). Alex faz Jorge Henrique e Fabio Santos trabalharem. Já Danilo, faz com que Alessandro e Paulinho movimentem as ações pelo lado direito. A mobilidade dos quatro meio-campistas faz com que eles alternem os lados dessa movimentação ao longo do jogo. Os 4 juntos, por sempre tentarem jogar o mais próximo do campo do adversário, marcando ou propondo o jogo, formam a popular linha de 4, que tantos comentaristas falam, mas nunca enxergam quando comentam o jogo. Devo confessar que tentei secar o Corinthians contra o Boca. Entretanto, o futebol bem jogado sempre me cativa e acaba determinando o time que torço ao ver um jogo em que não o meu Grêmio está ausente. Acho que esse ano, a taça da América merecidamente acabará descendo no parque São Jorge. São Jorge, aliás, que é ogum no orixá da Umbanda e do Candomblé. Ogum é o orixá da guerra, capaz de abrir caminhos. E Que ela seja feita. E o feito corinthiano desta volta da vida, a América com justiça para contemplar os deuses do futebol. E da vida.

Jayme Camargo da Silva

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Banda Roda Viva - Chico Buarque

Roda Viva – los Chicos de la província.


Agora, morando longe da província, percebo o grande valor que a banda Roda Viva me prestou. Eu sempre gostei de Chico Buarque, desde o ventre de minha mãe. Entretanto, daí a não apenas ouvir, mas também dançar as canções, o momento que eu fiz com mais afinco certamente foi ao som da banda Roda Viva. As festas são mais que vivas, sempre são floridas. Há certo quê de primavera em suas celebrações dionisíacas. Claro que Chico não tem erro. Mas, eis mais uma qualidade Roda Viva. Acertaram em cheio em um tema para uma banda. Sempre me recordo, ou seja, volta a passar pelo meu coração, como Eduardo Galeano nos traduz em “abraços”, da primeira festa que fiz ao som dos Chicos da província. Era o finado “Bastidores”, na Av. Independência, passando o mais finado ainda “Encouraçado Boutikin”. Enfim, de lá para cá foram inúmeras letras de Chico que aprendi a cantar por tê-las dançado com tanta alegria em tais festas. Aprender a cantar, dançando. E como Jorge Ben nos recorda: “tem que dançar, dançando”. Agora, longe da província, quando lembro Chico no Cotidiano, naturalmente lamento por não ter a Roda Viva por perto. Era uma forma de dançar Chico, ao som bacana de uma boa banda.

Jayme Camargo da Silva



quarta-feira, 14 de março de 2012

não voe de “webjegue”

Sambinha pós-moderno – pagodinho cosmopolita (não voe de “webjegue”)

Sai de porto alegre às 15 horas com previsão de chegada à Brasilia às 19 horas. Voando pela webjet (doravante webjegue). Havia uma escala prevista para São Paulo no aeroporto de Guarulhos. Ao chegarmos a sampa, por volta das 17 horas, fomos informados que a conexão do nosso voo para Brasília já havia decolado. E sem maiores justificativas para tal. E que iríamos com um voo da Tam que partiria às 18 e 35. Quando estávamos nos dirigindo para o check in fiquei para trás, pois carregava comigo 83 kg de bagagem. É o preço de estar mudando de habitat. Detalhe, eu não sabia para onde o funcionário da webjegue estava levando as pessoas. E fiquei para trás. Tive que atacar um transeunte e pedir que desse uma olhada nas minhas malas, enquanto eu me despenquei correndo no meio do aeroporto para alcançar o tal funcionário e lhe solicitar que me esperasse. Daí em diante ocorreu um grave descaso da webjegue para conosco. O voo das 18 e 35 da Tam estava encerrado. Não havia previsão de quando partiríamos. Cogitou-se até pernoitarmos em um hotel e rumar à capital apenas no outro dia. Ficamos jogados no meio do aeroporto, em pé, sem água ou qualquer espécie de cuidado pelos funcionários da webjegue. Havia duas crianças de colo entre nós. Ficamos parados quase duas horas ali, sendo tratados sem a menor consideração pela empresa aérea prestadora do serviço.

A crise nos uniu. Solidários uns com os outros passamos a conversar e questionar qual medida adotaríamos. Resolvemos que acionaríamos o juizado especial cível ao chegarmos ao aeroporto em Brasília. O funcionário da webjegue nos trouxe vauchers para jantarmos em um restaurante do aeroporto. Nosso voo sairia para o nosso destino as 21 e 25. Jantamos e acabamos todos tomados pelo companheirismo na dificuldade. Após o desjejum fui fumar um cigarrinho digestivo antes de embarcar. E aí que a harmonia pós-moderna (cosmopolita) de São Paulo me cativou. Na frente do portão onde parei, o primeiro taxista da fila estava tocando um cavaquinho e cantando uns partidos de primeira em pleno aeroporto. E o detalhe: um dos fiscais cantando junto. Eles tocaram a meu pedido “água de chuva no mar”, da Beth Carvalho, e outros sambas do Fundo de Quintal. Tudo acontecendo na mais plena paz. Sem grandes olhares surpresos ou de reprovação. Foi um gabarito. Não pude deixar de ligar para o meu amor e cantarolar no acústico em Guarulhos – “o meu coração hoje tem paz, decepção ficou para trás, eu encontrei um grande amor, felicidade enfim chegou...”. Foi aí que me indaguei – quando isso aconteceria no aeroporto da província, o nosso comportado Salgado Filho?! Fiquei imaginando a cara que a galera fechada da província faria para nós caso lá acontecesse o mesmo fato. Pois assim, fica a dica, se você é um bom sujeito e gosta de samba, ao chegar a Guarulhos, procure o taxista-cavaquinista Sérgio, santista de carteirinha, e o seu carro número 119c. Com ele até o serviço mal prestado pela webjegue conseguiu ser superado. Uma questão de ser bom da cabeça e não ser doente do pé.

Jayme Camargo da Silva, as 22 e 44 do dia 10/03/2012, a bordo do voo JJ3180 (da Tam).

quinta-feira, 8 de março de 2012

dia internacional da mulher

O desejo das mulheres... (o dia de todos os dias)

As mulheres querem ganhar flores ao menos uma vez na vida. Querem uma vida de cores. Querem amenidades nos domingos de sol. Mas também namorar pelo menos uma vez na chuva. As mulheres querem não só a segurança na força, mas também a sensibilidade na compreensão. As mulheres querem se sentir a inspiração do cotidiano. Querem inspiração no dia-a-dia. Oxigênio na relação. Querem a poesia do algo-mais. As mulheres querem sentir a completude que vem no concretizar dos sonhos. Querem repousar a cabeça no colo e ouvir poesia na respiração. Querem a tranqüilidade em poder contar com alguém. As mulheres querem contar, narrar, descrever as suas pequenas coisas, comprometerem-se com um contexto. As mulheres em geral querem a maternidade. Querem se doar ao ser materna a idade. Querem compromisso no carinho. As mulheres querem maturidade no companheirismo. Desejo na saudade. Querem poder se entregar sem receio. As mulheres têm a vibração existencial refletida pela lua. E assim desejam o céu. Querem no seio – o nós. As mulheres querem o poder. De querer. As mulheres querem viajar mesmo sem sair do lugar. Querem divagar mesmo sem ter por que. Querem navegar mesmo não estando em alto mar. As mulheres querem diversidade para fugir da rotina. As mulheres querem prazer sem recesso. Querem sexo com prazer. As mulheres querem doces e travessuras. Querem ser percebidas em suas pequenas buscas. Querem ser reconhecidas em suas competências. Querem ser conhecidas verdadeiramente. As mulheres querem criatividade. Querem atividade na criação. Querem vibração. Querem o sanguíneo na adrenalina, mas o sangue frio na costura dos problemas. As mulheres desejam a insustentável leveza do ser. As mulheres querem o real na vida e assim uma vida real. Querem a existência na concretude. As mulheres querem atitude. Querem antídotos contra a falta de experiência. Querem ter preparado o café numa manhã de frio. Querem a cama aquecida pelo calor do corpo. As mulheres querem ser eternamente belas como Dorian Gray. E querem compreensão nessa aspiração. As mulheres querem o desvelamento no segredo dos olhos. Querem redescobrir antigos sentidos. Querem descobrir novos modos de conhecer a vida. As mulheres querem amar na altitude e serem felizes ao nível do mar. As mulheres querem responsabilidade nas questões essenciais. E querem essências no fundamental. As mulheres querem ser felizes. Querem tratamento de igualdade entre os iguais, mas de desigualdade entre desiguais. As mulheres querem a chance do mundo as querer enquanto mulheres. As mulheres querem o vinho no inverno e o venho no verão. As mulheres querem o feitiço da embriaguez de Dionísio. Mas também a solidez de Apolo. As mulheres querem que a vida seja mitologia. Querem importância no que as constitui. As mulheres querem o melhor. As mulheres querem poder chorar sem que as suas lágrimas sejam julgadas. As mulheres não querem ser esquecidas na identificação. As mulheres querem o direito de ter rompantes de maluquice. De ter centenas de pares de sapato - mesmo sem todos usar. As mulheres querem tomar sorvete aos sábados. As mulheres querem que os sentimentos vertam. Querem que a vida brote como na infância. Que preserve o encantamento das descobertas da adolescência. E que quando adultas que tenham força para efetivar suas ações. As mulheres querem a independência como um grande valor. As mulheres querem que todos os dias sejam dias dos desejos das mulheres...

Jayme C. – 8 de março de 2012 (dia internacional da mulher).

terça-feira, 6 de março de 2012

O café dos campeões (o sexo matinal)

para o amor cosmopolita

O café dos campeões (o sexo matinal)

Não há nada melhor que fazer sexo com muito tesão e amor. A combinação desses dois elementos garante bastante prazer. É como o café da manhã posterior a uma noite anterior de grande vitória em alguma região da nossa vida. É elementar que Beber um etílico imediatamente após a conquista é sempre um gostoso embriagante. Porém, o café da manhã posterior, tomado quase ao meio-dia, é de uma alegria incomensurável. Tal é o estado de espírito que reina quando você está começando uma relação e a paixão do cotidiano é transformada em fogo na cama. Depois de um dia maravilhoso, em que se passeia, dança e transa, vem a entrega para morfeu. E a manhã posterior é brindada com um sexo desvelador. Isto é, uma transa que retira o véu que é o desconhecido das primeiras vezes. Matutina ou matinal. Não importa o nome que se dê. Fundamental é ser o prazer no começo do dia. Ser o café dos campeões.

Jayme Camargo

sexta-feira, 2 de março de 2012

Do sushi ao prato feito

ao querido amigo Felipe Pimentel,
pela luminosa nobreza de alma.

Do sushi ao prato feito.

Meu sábado começou não sei se preguiçoso ou se covarde. Começou tarde. Quem faz samba ou amor normalmente se estende até mais tarde. Chico tinha que ser o poeta a musicar tal estado de espírito. Quem sabe esse estado de fato. Entre delongas e demoras havia tido um pé-palito na noite anterior. O samba... Depois de uma concentração na sacada feliz, a noite anterior propiciara uma dionisíaca festa. Grandes amigos reunidos garantem o desempenho do êxtase coletivo. E foi geral. Todo o grupo se jogou e dançou até o chão. Pois passaram por esta festa as razões da extensão da cama no sábado.

Juju e prima combinaram de almoçar. Ligaram-me por volta das 14 horas e eu ainda julgara impossível sair de casa. O amor... Disseram-me que almoçariam no “equilíbrium”. Restaurante natureba que fica próximo à Redenção. Fiquei baixado na sacada feliz até as quatro e meia da tarde. As meninas acabaram indo para a Padre Chagas (vulga calçada da fama). Estavam tomando um café no Z café quando eu me comuniquei. Programa chique. Em um nublado sábado que se anunciava chuvoso na província. A fama da calçada é inversamente proporcional à veracidade subjetiva de boa parcela das relações que lá se dão. Exatamente por isso a prima e a ju nada tinham a ver com essa carente estrutura. Já ouvi dizer que tal quadrilátero urbano é dos mais carentes da província. Carência, no caso da fama, deve se ligar ao fato da enorme quantidade de psicanalistas que lá estão.

Voltemos à verdade da calçada que naquela tarde residia em juju e priminha. Elas estavam lá dadas às qualidades do serviço. De fato, o alto PIB quase sempre garante a qualidade e o gabarito do serviço. As meninas passaram, pois, para me resgatar. Ao chegarem, relatei que não havia rangado ainda. Isto significava que o gordinho jejuava a mais de doze horas. Uma fome incomensurável. Minha pilha era comer uma alaminuta na Lancheria do Parque. Estava prestes a chover, a temperatura estava alta e a sensação térmica péssima, isto é, muito quente e abafado. Depois de uma deliberação entre eu, juju e prima, a lanchera foi vetada pelo calor. Eram cinco da tarde. Onde eu iria desjejuar? Pouco antes de partirmos, o que fora um dia nublado passava a ser um dia chuvoso.

Lembrei de uns botecos na Andradas que preparam uns pratos na hora. O almoço das maravilhosas amigas não havia sido no equilibrium. As meninas haviam almoçado sushi no Dado pub, ou seja, estavam no luxo da fama desde cedo. E eu louco por uma fritura no melhor estilo “junkee food”. Escolhemos um daqueles barecos que até climatizado era. Não passaríamos calor enquanto eu caísse no meu bife à parmeggiana com fritas, arroz e um caseiro feijãozinho. Só eu pedi comida, uma vez que as garotas estavam previamente “sushiadas”. Porém, não saciadas... Depois de uns vinte minutos aportou um bonito e cheiroso prato em nossa mesa. Elas que degustavam apenas sucos naturais ficaram tentadas às batatas fritas. E assim provaram. E aprovaram. Mesmo para quem havia saído da fama, aquela apetitosa refeição se mostrou como um desejo. E não hesitaram. Chamaram à atendente e imediatamente pediram um prato daqueles para ambas. Pensei, puxa vida, o sushi não se apresentou com substância. Talvez tenha sido apenas o prazer de um alimento que elas gostem. Mas se mostrou insólito em sua consistência. Ficou essa questão, será os sushis da calçada um símbolo da inconsistência antropológica da “fama”?

Jayme Camargo 2009/2012

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

direitos humanos - sobre "memória, justiça e verdade"

“Para a era sem porvir, só o passado tem futuro”

N. B. Peixoto – M. C. Olalquiaga

Um argumento a favor de “memória, justiça e verdade”.

Uma das principais teses da filosofia contemporânea é que a verdade é sempre histórica. Segundo esses autores, nosso cotidiano é composto por vivências que são sempre vivências da época histórica que estamos inseridos. Por exemplo, automóveis, rodovias, semáforos e placas de sinalização são instrumentos que utilizamos para vivenciar o transito. O transito, em sua essência, não é um objeto, porém um instrumento que torna possível um determinado modo de viver o cotidiano; nesse caso, quando precisamos nos deslocar de um lugar para outro no espaço em que vivemos. Não há nada mais verdadeiro que as nossas vivências cotidianas, pois nelas existimos concretamente. Dessa forma, se as vivências se dão a partir de instrumentos históricos, e ao mesmo tempo nos são o mais verdadeiro, então o mais verdadeiro também deve ser histórico. A verdade é histórica. Nesse horizonte, o governo brasileiro através da secretaria nacional de direitos humanos está implementando as comissões da Verdade – para apuração dos fatos ocorridos durante os anos de estado de exceção no Brasil. Tornar pública a verdade dos acontecimentos em nossa história é um direito humano que se materializa enquanto direito à memória. A importância desse instrumento histórico está em evitar que o horror da ditadura se repita a partir da informação das novas gerações. A memória da verdade se mostra como o instrumento histórico da justiça. Rememorar o cotidiano vivido durante os “anos de chumbo” está organicamente enraizado em nossa condição humana. É a nossa vivência histórica.

Jayme Camargo da Silva – Fórum Social Temático 2012