sexta-feira, 12 de julho de 2013

fakebook

FAKEBOOK: a era do vazio.
Estive durante um longo tempo na lista dos maiores carentes da província. Foram quase 10 anos de terapia com um sujeito chamado “Fausto” para preencher comigo mesmo um pedaço do vazio existencial. Nada é por acaso. Dr. Fausto foi a primeira pessoa a falar de autores definitivos à minha formação, tais como Martin Heidegger, Norbert Elias e Contardo Caligaris. Aliás, meu orientador de mestrado, o “pai-de-todos”, Ernildo Stein, foi orientador de Fausto na especialização em psicanálise da Unisinos. 

Enfim, perdi o posto dos primeiros lugares em vazio. O facebook posta diariamente essa confirmação para mim. É impressionante a necessidade que as pessoas têm de postarem o que estão fazendo. De publicizarem aquilo que estão vivenciando, mesmo que não seja algo engraçado, debochado, inusitado ou interessante para os outros. Dou esse desconto, ou seja, se a pessoa está caminhando na Rua da Praia e tropeça com Chico Buarque, então acho justo e digno que ela não só fotografe e poste, como também faça um tratado sobre a emoção desse encontro. Todos temos em nosso feed de notícias sujeitos com uma imensa necessidade de dividir até as suas agruras no banheiro. Por exemplo, postar como uma conhecida postou (por telefone), “em Paris, tudo ótimo!”, é digno de um tratado sobre a indigência existencial. Esse caso é simbólico para o relato. Fico pensando, se eu estivesse em Paris, então de onde brotaria a necessidade de avisar os outros que lá estou? Será que estar em Paris (para nós provincianos e terceiro-mundistas) não é suficiente para nos sentirmos plenos? Será necessário que os outros saibam que estamos em Paris para que a nossa viagem seja mais feliz? Temos que aprender a viajar conosco mesmos. Física e espiritualmente. Só assim seremos livres de verdade. Talvez essa carência seja fruto de tanta relação fake no horizonte das amizades cotidianas. Isto é, vazio por dentro e por fora. Devemos nos emancipar subjetivamente para ser autênticos sujeitos de desejos. Entretanto, preencher de si mesmo o vazio existencial é como a leitura, a natação, a yoga, ou seja, experiências que implicam recolhimento e solidão. Temos a tarefa de sermos nós mesmos. Ou seguir nos afirmando na dependência do mural dos outros.
Jayme C.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

festa



Festa com a galera dos vinte
Fui a duas festas onde a faixa etária era vinte anos. Aliás, acho que se o instituto Gallup fizesse uma pesquisa, apontaria precisamente os 21 como a média de idade de uma delas. Fiquei por aproximadamente 47 minutos nela – foi o tempo de tomar uma dose de uísque e questionar a minha presença lá. A dúvida surgiu inequivocamente por uma razão inicial: não me senti acolhido e minha sensibilidade acusou. Sempre gosto de sentir a vibe geral do lugar ao chegar nele para o dionisíaco. Só posterior ao sentir negativo é que o meu lado antropólogo urbano tenta compreender em linguagem o que já não curti. Daí percebi que a festa era de uma galera “jovem ainda, jovem ainda, jovem ainda”, como dizia a inesquecível melodia do Chaves. Preciso ser enfático nesse ponto: eram extremamente jovens. Era perceptível nas faces, nas práticas e na (falta de) educação. Como o lugar estava bem cheio, a ansiedade para chegar ao bar e conseguir uma bebida era atropelante. As garotas não (a)pareceram como mulheres interessantes, entretanto, apenas como garotinhas. E os papos que chegavam a meus ouvidos não eram deboches qualificados, não faziam rir. Sei que tem pessoas interessantes e maduras em todas as idades. Porém, em algumas circunstâncias, a maioria faz a força. Constitui a vibe do lugar. E se a vibe desce na força, então alguém está fora do lugar. Moral da história: prefiro lugares em que a mescla geracional seja mais para cima do que para baixo. Afinal, já basta a juventude própria a ser coordenada quando em seus rompantes de aparecimento.
Jayme C