segunda-feira, 28 de junho de 2010

"blitz" na Cidade Baixa...

Estado atrapalhado cidadão prejudicado!

Algumas noites dos finais-de-semana na Cidade Baixa têm sido inconstitucionais. Isto é, têm se verificado uma sutil violação aos direitos fundamentais de inúmeros cidadãos que lá se encontravam. Explico: a Brigada Militar devidamente amparada pelos fiscais de trânsito da EPTC (empresa pública de transporte e circulação), vulgarmente conhecidos como “azuizinhos”, realizou barreiras no cruzamento entre as ruas Lima e Silva e República. Durante algum tempo, toda a via da Lima e Silva (pouco além do cruzamento referido) esteve bloqueada. O Estado através de duas de suas instituições, assim, fechou todo um trecho de uma via pública sem nenhum fato que ensejasse essa medida. Transgressão nem tão sutil, pois que a partir do conhecimento de princípios como – “a injustiça que se faz a um é uma ameaça que se impõe a todos” – de Maquiavel, temos presente que a violação aos direitos fundamentais acarreta na quebra do Pacto Social, instrumento simbólico de ligação entre os cidadãos e o Estado. Ou seja, a “Sociedade Civil” enquanto resultante do contrato social, é afrontada como um todo quando atos de infração às garantias fundamentais acontecem. Independente, portanto, da violação às liberdades individuais ter sido materialmente sentida apenas pelos cidadãos que ali transitavam. Sabe-se, aliás, desde a apurada teoria constitucional, que o famoso direito de “ir-e-vir” – como o populacho sustenta no dia-a-dia – caracteriza-se como direito fundamental de primeira dimensão, ou, liberdade negativa. “Negativa”, pois, são direitos de não-intervenção que o cidadão tem frente ao outro; outro enquanto todo – Estado, como também frente a qualquer outro particular. A individualidade de cada cidadão deve ser respeitada nesse âmbito de direitos, não podendo receber qualquer intervenção. Ao realizar o bloqueio em todo o trecho de uma via, sem nenhuma razão emergencial, o Estado está deslegitimando uma série de direitos que o estruturam até mesmo enquanto Estado. O mais difícil de digerir é o fato de desconfiarmos que os bloqueios, aparentemente, possuem um cunho arrecadatório, fruto do atrapalhado governo do estado. Governo que tem se caracterizado, desde seu início, pelas brigas com a própria base na Assembléia, encontra dessa forma muita dificuldade para administrar o orçamento de um Rio Grande tão complexo. As “blitz” constituem-se como um instrumento da atrapalhada gestão, para, por exemplo, tentar adimplir o décimo terceiro do funcionalismo público. O preço disso, entretanto, têm sido a infração aos direitos fundamentais dos gaúchos.

Jayme Camargo da Silva

sábado, 19 de junho de 2010

poesia do dia de chuva II

Sou a antes de tudo... Nada!
Sou a pele enfadada, o tédio
Médio que tem todo contudo
Sou sem remédio, o muro...
O furo do mundo, um ébrio!
Hiberno em sono rotundo
Quase um desmundo, eterno
Onde quero gritar, mudo...

Nada sou antes de tudo!
No riso terno da pretendente
No sonho eterno diariamente
Adio a morte nesse profundo
Construo a história de nossa vida
Fabrico a vinda de uma memória
E vou sozinho, nesta berlinda
Trazer as marcas da nossa estória...

Jayme Camargo e Lorenzo Ribas

quarta-feira, 16 de junho de 2010

sobre futebol e cotidiano


"os grandes navegantes devem sua

reputação às grandes tempestades".

EPICURO


A maior ironia da província em tempos de copa do mundo – notas sobre futebol e cotidiano.


A copa do mundo de futebol rola a bola pela primeira vez no continente africano. Copa que se notabilizou, em sua primeira rodada, por jogos burocráticos e excessivamente táticos. Carência de criatividade e de técnica – uma conseqüência quase lógica. “Quase”, pois não há lógica em futebol. Por aí também passa a magia e o encanto desse esporte. Aliás, o futebol é um movimento tão pouco preciso em seus resultados, e assim justificamos sua existência não-lógica, que faz com que às vezes um time com 5 atletas no meio perca essa faixa do campo para um time com 4 jogadores nesse setor. A contemporânea querela entre os esquemas “3-5-2” e “4-4-2”. Na África, a maioria andava cotando a Espanha como favorita ao caneco. E a Suíça foi lá provar que não é suficiente apenas com os chocolates. Mesmo sem dar um banho de bola na equipe ibérica, o chocolate já se deu enquanto o próprio resultado. Suíça 1 X 0. Não-perdendo o gancho da disputa entre os esquemas táticos das equipes, aqui pela província, o ex-técnico do internacional, o uruguaio Jorge Fossati, inclinava-se essencialmente pelo 3-5-2. Mesmo sem ter atletas qualificados para tal esquema. Persistiu no erro. Foi teimoso. Não conseguiu fazer duas partidas consistentes em 5 meses de trabalho. Foi muito pressionado. Brigou com a imprensa e não conseguiu sustentar a elegância de sua figura, vista apenas desde seus belos ternos e de seu charmoso “portunhol”. Mesmo que aos “trancos e barrancos” deixou o colorado na semifinal da Libertadores da América. Mas, Não adiantou. Terminou demitido às portas da copa do mundo, a qual não deve estar assistindo em solo gaúcho. Pois, todas as atenções do mundo da bola voltaram-se para a mãe-Africa, e o internacional ficou a procura de um novo treinador. Sonhou com Felipão. Cogitou o sempre cogitável Abel Braga. Quase contratou Adilson Batista, o denominado pelos gremistas de “capitão América”. A torcida rejeitou Adilson em terras gaúchas, exatamente pelo seu excessivo “gremismo”. E a torcida foi ouvida pela direção. Talvez pelo fato dela participar das eleições no clube, e esse ser ano de eleição presidencial no colorado. A maior ironia da província, em tempos de copa do mundo, entretanto, decorreu precisamente dos ouvidos dados à torcida, por Carvalho e demais mandatários do Beira-rio. A torcida bradou fortemente durante dois mil e love (2009): “fica Celso Roth, fica Celso Roth...”; e assim a direção colorada resolveu atender. Mesmo sem vergonha pelo movimento, foi dormir sonhando com Felipão e acordou com Roth junto ao seu lado. Para alguns, quiçá, acordou na “hora do pesadelo”. Imagine você, ir dormir sonhando com a Ana Paula Arósio (como o amigo-mestre Juremir Machado da Silva), e se levantar com a “nega-véia”, já desgastada de “anos sem-relação”?! Dada a trajetória perdedora, Roth merece tal comparação. Não que não possa ganhar. Aliás, acho que ganhará algum dia. Quem sabe seja agora que é só acertar em apenas 4 jogos. Mas, a trajetória de sua biografia não indica. Fez apenas um bom trabalho, no próprio inter, quando em 1997 ainda não possuía o enorme medo de perder. Talvez por ser um iniciante aquela época, e assim ainda ter fome e vontade de “vencer”. Sim. Poderíamos resumir o espírito de Roth na velha máxima do futebol: “o medo de perder tira a vontade de ganhar!”. Que gritem novamente os colorados, mas que dessa vez tenham os deuses da bola como remetentes desse chamado. Será necessário. Porém, como não há lógica no mundo da bola, tudo pode acontecer. Como acontece “desde-já-e-sempre” – o tempo é quem responderá.


Jayme Camargo da Silva