quarta-feira, 25 de maio de 2011

a seta e o alvo

cada dia que nos acordamos raramente percebemos que estamos partindo rumo ao nada. isto é, ao sairmos para o mundo-da-vida nunca é psossível saber de antemão as coisas que nos afetarão. afetos que surgirão. como diz a canção de Drexler "os dias são raros", pois que são sempre únicos. quiçá não percebamos, mas quiçá de fato seja assim... somos lançados na vida para vivê-la. e assim existimos como lançados. dessa forma, devemos nos jogar, nos lançar, sobretudo quando nosso horizonte for amar, mesmo não sabendo onde o destino irá nos levar. até porque, como diz Moska "então me diz qual é a graça de já saber o fim da estrada quando se parte rumo ao nada.". Jayme C.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Pequena nota sobre um pedaço da “língua” de Caetano Veloso...

A linguagem é a casa do ser.

Martin Heidegger

Pequena nota sobre um pedaço da “língua” de Caetano Veloso.

Caetano canta: “Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção, Está provado que só é possível filosofar em alemão”. A canção se chama “língua” e sua expressão é um manifesto “pró-vocação”. A vocação da língua é fazer o sentido circular. Circuladô – como o próprio Caetano cantou...

A citação tem como origem o filósofo alemão Martin Heidegger. Também conhecido como o “pastor do ser”, o pensador perseguiu o sentido do ser da vida em geral. No cotidiano. Nas múltiplas vivências cotidianas que nos ocupamos no “viver-à-vida”. Caetano recomendou que as idéias se transformem em canções, na medida que o “filosofar” estaria recluso a língua alemã. Caetano acerta, porém em parte. A citação completa da tese de doutoramento de Heidegger é: “só é possível filosofar em grego antigo e em alemão”.

Heidegger não é tolo. Sabe que o pensamento que herdamos do mundo grego antigo é decisivo para o Ocidente. Aliás, que juntamente com o Direito Romano e com a religião judaico-cristã, constituem os três mitos fundantes do mundo ocidental. O alemão arcaico que Heidegger sustentava desfrutaria da possibilidade do filosofar, pois possuía uma estrutura similar ao grego antigo.

Heidegger re-corre aos termos gregos oriundos da filosofia aristotélica. Os termos clássicos gregos diziam respeito ao “como” as pessoas tinham acesso à vida no cotidiano. Heidegger os traduz propondo a substituição do emprego dos termos desgastados, pelo emprego de acordo com o sentido originário que esses termos tinham. Eles são: “techné”, “epistême”, “phronesis” e “Sofia”. Segundo a tradução desgastada eles significariam respectivamente: “arte”, “ciência”, “prudência” e “sabedoria”.

O “como” as pessoas têm acesso à vida se mostra como um “descobrir” a vida. Isto é, des-cobrir. O des-cobrir abre a vida para que a vivenciamos. Assim, Heidegger traduz os termos gregos como os quatro modos de descobrir a vida no viver. “Proceder técnico produtivo” – (Techné), “determinação que observa, discute e demonstra” – (Epistême), “descobrir que mostra a vida em seu mostrar-se” – (Phronesis) e “compreensão propriamente intuitiva” – (Sofia).

Voltamos a “língua de Caetano”. Ela “des-trava” a nossa própria língua enquanto língua portuguesa, ao construir um sentido que não é só melodia, mas também filosofia. Ela executa o mesmo procedimento que Heidegger faz com os termos gregos. Re-interpreta. Porém, faz isso com o sentido das palavras, tanto enquanto letra da canção, tanto quanto em relação à própria “levada” da melodia. Há a superação da separação entre forma (harmonia) e conteúdo (letra). Estão unidas em prol da circulação do sentido. Caetano heideggeriano faz a canção filosofar...

Jayme Camargo da Silva – PUCRS/CNPq

segunda-feira, 16 de maio de 2011

a culpa é do Fidel

filme que pode ser visto como a expressão do múltiplo no simples. simples, pois o fio condutor da narrativa é a vida cotidiana de uma pequena garotilda. múltiplos são os acontecimentos que povoam ao seu cotidiano. seus pais viram comunistas e toda a estabilidade que possuía se vê transformada. sabemos desde a lei de Lavoisier e da melodia de Jorge Drexler que "tudo se transforma". porém, aos 10 anos e sem uma melhor explicação vinda dos mais velhos, "tudo se de-forma"... filme sobre a solidariedade, os pequenos-lugares-do-cotidiano e o amor.

Jayme Camargo



domingo, 15 de maio de 2011

Meu coração ficou na marca do pênalti (pequena prosa de um domingo griz)


À “tampinha” do meu coração

Meu coração ficou na marca do pênalti

Meu coração ficou na marca do pênalti. Não apenas pela decisão do Gauchão, mas também pela “partida” última. Após cinco noites e quatro dias de afetiva movimenta-ação, teve na divisão geográfica mais uma vez sua condução. Domingo de decisão. Dê cisão. Separação de cidades. Separação da cidade que do gre-nal é condição. Vermelho e azul nas aortas da pulsação. O acordar-se as seis da “madrugatina”, nos últimos suspiros de nossa re-união. Unimos e nos re-unimos desde que nos encontramos. Tal qual Grêmio e Internacional nos desígnios de uma final. Um dia cinza, que chorou esporadicamente, bem como minha emoção. E assim me vi, ao fim dessa tarde griz, com meu coração duplamente na marca do pênalti. Já havia perdido na primeira partida – o triunfo na segunda significaria o calmante de meus “ais”. Tudo flui e tudo vai. A “tampinha” do meu coração foi embora a sua terra natal. Fiquei como uma criança sem papai Noel, foi uma sofrida “partida” internacional...

Jayme Camargo – 15 de maio de 2011, 21:32