terça-feira, 25 de novembro de 2014

música e democracia

O Estado (não) sou eu: os músicos e o fechamento dos bares
A prefeitura resolveu fechar alguns bares na Cidade Baixa. A alegação é que tal ação foi tomada visando “harmonizar” o convívio entre moradores, comerciantes e pessoas que buscam entretenimento nos bares. E os músicos, senhor Fortunati, restarão abandonados aos infortúnios do esquecimento? Música é cultura. E cultura uma garantia constitucional, ou seja, a sua prestação é um dever do Estado. Mais do que isso, temos que desconstruir uma ideia equivocada no imaginário de muitos, a saber, que os músicos estão se divertindo na Cidade Baixa, ao invés de estarem trabalhando. Os músicos são trabalhadores tais como os prefeitos, garis, mecânicos, enfermeiros, professores, enfim, estão na noite lutando pela sua subsistência e de suas famílias. Essa inclinação que alguns têm de não visualizarem essa realidade dos trabalhadores da noite, legitima o esquecimento do poder público com relação a essa classe trabalhadora.
Como exposto acima, a música cumpre um importante papel na construção da cidadania enquanto direito fundamental que é. São significativos os benefícios sociais para os participantes de comunidades que protegem e estimulam a sensibilidade cultural entre seus membros, sobretudo os jovens. Nesse horizonte, a música ajuda a educar a percepção sensível dos que estão em contato vivo com a sua presença.
Música é poesia. Assim sendo, provoca a capacidade de resignificação da vida no ser humano (fundamental em uma sociedade com dificuldade de lidar com as frustrações). Portanto, como ignorar os trabalhadores cujo ofício é tão nobre, em decisões que envolvem as suas circunstâncias profissionais? Os músicos devem ter um relevante local de fala nesse debate. Aliás, um debate plural na comunidade deve ser realizado antes que de-cisões sejam tomadas. A não observação dessa fala implicará na ausência de legitimidade das ações do poder público, sob o manto do autoritarismo e da “democratura”. Dois aspectos devem ser ressaltados: o primeiro é que a solução em curto prazo não é “despejar” o público alvo da CB para o Anfiteatro Pôr do Sol; muito embora seja uma possibilidade futura para se criar mais um espaço de fomento a cultura, e ainda, de quebra, humanizar um local que é perigoso, sobretudo à noite. O segundo, com relação aos moradores do bairro, de forma alguma considera-se que não devam ter a sua fala sopesada. Entretanto, não pode ser uma fala única, na medida em que o absolutismo e(m) suas ideias como “o Estado sou eu” – já está ultrapassado, mesmo em nossa jovem democracia. Chico Buarque, músico por excelência, também cantou em nome de sua classe: “pai, afasta de mim esse cálice”, ou seria esse cale-se?                 

Jayme C. 

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Amor, gente da gente

Amor, gente da gente

Escrevi, faz cinco anos, que um amor que seja diferente da gente nos engrandece. Mais que isso, sustentei que não havia nada melhor que amar alguém diferente. O tempo devorou implacavelmente essa idéia, tal como o faz com todas as minhas demais verdades. Talvez a explicação esteja no próprio tempo. Tinha 25 para 26 anos quando pensava diferente. Hoje em dia, quase com 32, há uma serena concretude de que um amor compartilhado de identificações é o locus do meu desejo. Nesse momento, não tenho mais saco, por exemplo, para estar com alguém que não goste de samba(r). A música é uma afirmação no meu cotidiano. Seja para escutar em casa, seja para dançar sexta à noite. E eu amo o samba, algo que está enraizado na minha história desde os vinis que escutava, ainda no ventre de mamãe. Gosto e topo outras músicas, mas não há nada melhor que estar junto com uma “enciclopédia do samba”. Da mesma forma com os filmes, ou seja, nada melhor que confiar de olhos fechados nas escolhas da companheira, na medida em que a sua vontade cinematográfica também passa há léguas dos blockbusters americanos.

Outro tipo de escolhas que creio ser o mel do melhor compartilhar a identificação é com relação aos lugares frequentados. Como estar junto com alguém que não curte botecos simples e legais, tais como o LS Meketreff e o Psiquiatra bar? Ou, então, como estar com uma mulher conservadora, positivista, enfim, que tivesse uma mente fechada em pré-conceitos enrijecidos? Não rola… E acho que não estou mais no tempo de ficar brigando por circunstâncias tão pequenas frente à grandiosidade do amor. É uma linda alegria a identificação que tenho com a sensibilidade da mulher que amo. E dadas as escolhas subjetivas que ela faz, que passam pela sua incrível sensibilidade, grande parte de meu incomensurável amor tem assento.     

Jayme C.      

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

amores de professor



Três turmas de hermenêutica (amores de professor)
Minhas três turmas de hermenêutica despertaram-me amores diferentes. Gostei de ser professor delas por três sentimentos singulares. Já que estamos no final da última semana de aulas antes das provas finais, creio ser um ótimo momento para desvelar o(s) sentido(s) de meus amores.

Uma das turmas despertou-me o amor “pai presente”, isto é, a cobrança por amor que os pais fazem visando o nosso crescimento. Cobrei com veemência que eles lessem os textos e estudassem. Percebi com o passar das aulas que eles prestavam a atenção, em geral eram assíduos, porém precisavam dedicar-se mais as leituras. Garotas e garotos inteligentes, mas que precisavam ser sacudidos para acompanhar a matéria árida que enfrentamos. Cobrei, por amar dar aula para eles e os querer ver mais poderosos pelo ganho do conhecimento filosófico. Em certo ponto do semestre fui um pouco duro, mas de forma alguma significou outro que não amor (preocupação). Amei participar do processo de amadurecimento existencial e filosófico dessa turma.

Outra turma despertou-me o amor enquanto “o acreditar primeiro”. Das três turmas foi a que primeiro acreditou no professor, ou seja, logo na largada das aulas ganhei os seus olhares muito rapidamente. Eles me ensinaram que quando a turma está olhando para o professor é porque a turma está junto com ele. E sentir isso é maravilhoso. Resignifica a vontade de dar uma aula envolvente, de seduzi-los a embarcar nos mares da compreensão – tema por excelência da hermenêutica! A rapidez no olhar para o conteúdo os garantiu um rendimento muito bom nos primeiros trabalhos e avaliações. Enfim, uma turma mega inteligente. Turma de alguns alunos integrantes do grupo de pesquisa que temos “Aletheia – hermenêutica, desconstrução & direito. Amei a identificação recíproca no olhar com essa turma, pois me sentia refletido em seus olhares.

Ainda houve a turma que me despertou o amor dos amigos. Um grupo com mais de 55 alunos em sala de aula. Assim sendo, deveras complicado o desafio de “ganhar a turma”. Entretanto, os ganhei e ainda por cima senti vontade de me tornar seu amigo. Eles são diferentes entre si, mas tem uma bonita unidade enquanto turma. A complexidade oriunda de mais de cinquenta mundos diferentes poderia ser uma dificuldade, porém tornou o compartilhamento de nossas vivências deveras enriquecedor. E o “Dasein” heideggeriano caiu na boca da galera. Quando passavam por mim nos corredores da faculdade diversas vezes gritavam “e o Dasein, professor?!”. E, de lambuja, me mostraram um vídeo que gravaram em uma noite dionisíaca. Eles estavam na embriaguez de Dionísio e falando sobre o “Dasein”! O maior gabarito do deboche é que o aluno que tirou a maior nota da turma é o personagem principal da “filmagi”. Sinal que o conteúdo heideggeriano marcou as suas trajetórias acadêmicas. Ao final de agosto, quando meu pai morreu, eles fizeram uma linda homenagem com um cartão e uma flor sobre a minha mesa. Eu disse com sinceridade: “foi o momento em que me senti mais acolhido no Maranhão”. Amei o acolhimento e amizade construídos com eles.

Em suma, foi a maior, melhor e mais deliciosa experiência profissional da minha vida. Graças a esses maravilhosos alunos, finalmente tenho certeza do que desejo para a minha vida profissional, ou seja, ser professor de hermenêutica. Amarei eternamente esses alunos que marcaram a minha trajetória.
Prof. Jayme C.        

terça-feira, 11 de novembro de 2014

umbiguismo paranóide, arrogância colorada



Paulo Santana & Kenny Braga (umbiguismo paranóide, arrogância colorada).

Kenny Braga e Paulo Santana representam o ultrapassado na opinião futebolística. Sustentam um revanchismo démodé em uma época de clamor pela harmonia entre as torcidas. Santana e Kenny falaram com sucesso para outra geração, mas não souberam resignificar as suas falas para os filhos dessa época (nascidos nos anos 70 e começo dos 80). Não se quer brigar com os amigos rivais. Se for o caso, quer-se fazer churrasco e até mesmo olhar junto o grenal. Relembro da minha época mais retardada quando eu não tinha categoria na “flauta”. O deboche é saudável desde que feito com sensibilidade. O passar do tempo deve registrar o ajuste das práticas. Os dois dinossauros da grenalização pioraram as suas com o advento da senilidade. As falas de Santana são quase sempre, com o legitimo temor da finitude, sobre si mesmo. Santana não fala mais sobre o Grêmio. Usa o Grêmio para falar sobre si mesmo (umbiguismo paranóide). E em matéria futebolística, tem opiniões ridiculamente desmoralizadas pelos fatos – vide o caso do magnífico arqueiro tricolor, Marcelo Grohe. Kenny, além de todo o modo repugnante e tacanho com que destila o seu conservadorismo, desenvolveu a arrogância pós-2010. Toda aquela arrogância que os gremistas tinham no começo dos anos 2000, tornou-se vermelha após a segunda conquista libertadora colorada. É fato: a grande massa torcedora não sabe perder e não sabe ganhar. Kenny, tal como Santana o fizera nos anos de abundância de vitórias do azul, quando ganha, pisoteia. E o esquecimento dos tempos de dor o tornou um sujeito que não sabe administrar as derrotas. Adroaldo Guerra filho, o “Guerrinha”, é colorado e equilibrado nas opiniões; não a toa é o melhor comentarista esportivo da praça. Tal como o também colorado e mestre supremo dos comentários, “Claudio Cabral”, que foi o pai-de-todos enquanto viveu e comentou. A RBS parece ter percebido que era hora de fazer uma interdição no hospício. Afinal, microfone na mão de carente é sempre um atentado violento ao bom senso.
Jayme C.