sexta-feira, 14 de novembro de 2014

amores de professor



Três turmas de hermenêutica (amores de professor)
Minhas três turmas de hermenêutica despertaram-me amores diferentes. Gostei de ser professor delas por três sentimentos singulares. Já que estamos no final da última semana de aulas antes das provas finais, creio ser um ótimo momento para desvelar o(s) sentido(s) de meus amores.

Uma das turmas despertou-me o amor “pai presente”, isto é, a cobrança por amor que os pais fazem visando o nosso crescimento. Cobrei com veemência que eles lessem os textos e estudassem. Percebi com o passar das aulas que eles prestavam a atenção, em geral eram assíduos, porém precisavam dedicar-se mais as leituras. Garotas e garotos inteligentes, mas que precisavam ser sacudidos para acompanhar a matéria árida que enfrentamos. Cobrei, por amar dar aula para eles e os querer ver mais poderosos pelo ganho do conhecimento filosófico. Em certo ponto do semestre fui um pouco duro, mas de forma alguma significou outro que não amor (preocupação). Amei participar do processo de amadurecimento existencial e filosófico dessa turma.

Outra turma despertou-me o amor enquanto “o acreditar primeiro”. Das três turmas foi a que primeiro acreditou no professor, ou seja, logo na largada das aulas ganhei os seus olhares muito rapidamente. Eles me ensinaram que quando a turma está olhando para o professor é porque a turma está junto com ele. E sentir isso é maravilhoso. Resignifica a vontade de dar uma aula envolvente, de seduzi-los a embarcar nos mares da compreensão – tema por excelência da hermenêutica! A rapidez no olhar para o conteúdo os garantiu um rendimento muito bom nos primeiros trabalhos e avaliações. Enfim, uma turma mega inteligente. Turma de alguns alunos integrantes do grupo de pesquisa que temos “Aletheia – hermenêutica, desconstrução & direito. Amei a identificação recíproca no olhar com essa turma, pois me sentia refletido em seus olhares.

Ainda houve a turma que me despertou o amor dos amigos. Um grupo com mais de 55 alunos em sala de aula. Assim sendo, deveras complicado o desafio de “ganhar a turma”. Entretanto, os ganhei e ainda por cima senti vontade de me tornar seu amigo. Eles são diferentes entre si, mas tem uma bonita unidade enquanto turma. A complexidade oriunda de mais de cinquenta mundos diferentes poderia ser uma dificuldade, porém tornou o compartilhamento de nossas vivências deveras enriquecedor. E o “Dasein” heideggeriano caiu na boca da galera. Quando passavam por mim nos corredores da faculdade diversas vezes gritavam “e o Dasein, professor?!”. E, de lambuja, me mostraram um vídeo que gravaram em uma noite dionisíaca. Eles estavam na embriaguez de Dionísio e falando sobre o “Dasein”! O maior gabarito do deboche é que o aluno que tirou a maior nota da turma é o personagem principal da “filmagi”. Sinal que o conteúdo heideggeriano marcou as suas trajetórias acadêmicas. Ao final de agosto, quando meu pai morreu, eles fizeram uma linda homenagem com um cartão e uma flor sobre a minha mesa. Eu disse com sinceridade: “foi o momento em que me senti mais acolhido no Maranhão”. Amei o acolhimento e amizade construídos com eles.

Em suma, foi a maior, melhor e mais deliciosa experiência profissional da minha vida. Graças a esses maravilhosos alunos, finalmente tenho certeza do que desejo para a minha vida profissional, ou seja, ser professor de hermenêutica. Amarei eternamente esses alunos que marcaram a minha trajetória.
Prof. Jayme C.        

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