Três
turmas de hermenêutica (amores de professor)
Minhas
três turmas de hermenêutica despertaram-me amores diferentes. Gostei de ser
professor delas por três sentimentos singulares. Já que estamos no final da
última semana de aulas antes das provas finais, creio ser um ótimo momento para
desvelar o(s) sentido(s) de meus amores.
Uma
das turmas despertou-me o amor “pai presente”, isto é, a cobrança por amor que
os pais fazem visando o nosso crescimento. Cobrei com veemência que eles lessem
os textos e estudassem. Percebi com o passar das aulas que eles prestavam a
atenção, em geral eram assíduos, porém precisavam dedicar-se mais as leituras.
Garotas e garotos inteligentes, mas que precisavam ser sacudidos para
acompanhar a matéria árida que enfrentamos. Cobrei, por amar dar aula para eles
e os querer ver mais poderosos pelo ganho do conhecimento filosófico. Em certo
ponto do semestre fui um pouco duro, mas de forma alguma significou outro que
não amor (preocupação). Amei participar do processo de amadurecimento
existencial e filosófico dessa turma.
Outra
turma despertou-me o amor enquanto “o acreditar primeiro”. Das três turmas foi
a que primeiro acreditou no professor, ou seja, logo na largada das aulas
ganhei os seus olhares muito rapidamente. Eles me ensinaram que quando a turma
está olhando para o professor é porque a turma está junto com ele. E sentir
isso é maravilhoso. Resignifica a vontade de dar uma aula envolvente, de
seduzi-los a embarcar nos mares da compreensão – tema por excelência da
hermenêutica! A rapidez no olhar para o conteúdo os garantiu um rendimento muito
bom nos primeiros trabalhos e avaliações. Enfim, uma turma mega inteligente. Turma
de alguns alunos integrantes do grupo de pesquisa que temos “Aletheia –
hermenêutica, desconstrução & direito. Amei a identificação recíproca no
olhar com essa turma, pois me sentia refletido em seus olhares.
Ainda
houve a turma que me despertou o amor dos amigos. Um grupo com mais de 55
alunos em sala de aula. Assim sendo, deveras complicado o desafio de “ganhar a
turma”. Entretanto, os ganhei e ainda por cima senti vontade de me tornar seu
amigo. Eles são diferentes entre si, mas tem uma bonita unidade enquanto turma.
A complexidade oriunda de mais de cinquenta mundos diferentes poderia ser uma
dificuldade, porém tornou o compartilhamento de nossas vivências deveras
enriquecedor. E o “Dasein” heideggeriano caiu na boca da galera. Quando passavam
por mim nos corredores da faculdade diversas vezes gritavam “e o Dasein,
professor?!”. E, de lambuja, me mostraram um vídeo que gravaram em uma noite
dionisíaca. Eles estavam na embriaguez de Dionísio e falando sobre o “Dasein”!
O maior gabarito do deboche é que o aluno que tirou a maior nota da turma é o
personagem principal da “filmagi”. Sinal que o conteúdo heideggeriano marcou as
suas trajetórias acadêmicas. Ao final de agosto, quando meu pai morreu, eles
fizeram uma linda homenagem com um cartão e uma flor sobre a minha mesa. Eu
disse com sinceridade: “foi o momento em que me senti mais acolhido no
Maranhão”. Amei o acolhimento e amizade construídos com eles.
Em
suma, foi a maior, melhor e mais deliciosa experiência profissional da minha
vida. Graças a esses maravilhosos alunos, finalmente tenho certeza do que
desejo para a minha vida profissional, ou seja, ser professor de hermenêutica.
Amarei eternamente esses alunos que marcaram a minha trajetória.
Prof.
Jayme C.
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