terça-feira, 27 de abril de 2010

Quem nunca cobrou por amor?

ao último grande amigo,

Mauricio Saldanha,

pelo insight do tema.

Quem nunca cobrou por amor?

Nós cobramos amor quando sentimos saudade. Cobramos amor quando ligamos, não somos atendidos e não temos re-torno. Cobramos amor quando chamamos no MSN e somos colocados em estado ausente. Cobramos amor quando sentimos falta. Cobramos amor quando o amor nos cobra uma atitude. Cobramos amor, também, ao vermos crianças nas ruas. Cobramos amor quando reclamamos presença. Cobramos amor quando nosso sentimento nos cobra. Cobramos por amor, quando cobramos que o outro leve um agasalho. Cobramos quando por amor desejamos que o outro nos agasalhe. Cobramos amor quando a melancolia de fim de domingo nos chega. Cobramos amor no vinho das noites de inverno. Cobramos um amor de verão para dividir calor. Cobramos flores não só na primavera. Cobramos vida no cotidiano a dois. Cobramos da vida ter um outro para que sejamos dois. Cobramos que com o tempo esses dois se transformem em três, ou, quatro. Cobramos a paz num tempo de tantas guerras. Mas também cobramos guerra, quando acomodados não evoluímos na paz. Cobramos um amor em letras garrafais. Cobramos amor quando jogados à rejeição. Cobramos na lembrança um amor que já foi. Cobramos do futuro um amor que será. Mas o que será que cobramos, será que um dia será? Cobramos locomoção quando estamos amarrados. Cobramos liberdade quando presos. E cobramos algemas quando apaixonados. Cobramos da paixão que se transforme em amor. E Cobramos paixão quando estamos entediados. Cobramos poesia sem que seja chata. Cobramos critérios para que sejam respeitados. Cobramos respeito quando nos relacionamos. Cobramos relações que tenham na essência sua verdade. Cobramos que as pessoas tenham coragem de suas idéias. Cobramos sensibilidade no jeito. Cobramos tolerância com nossos medos e carências. Cobramos que as pessoas assumam a sua existência. Cobramos autenticidade no pensamento. Cobramos amor para habitar em conjunto. Cobramos amor na divisão dos mundos. Cobramos que esse seja o melhor dos mundos possíveis. Cobramos transparência no desejo. Cobramos todos os dias, na esperança de por amor também sermos cobrados...

Jayme Camargo – outono de dois mil e dê

domingo, 11 de abril de 2010

Pequena doce quimera


in memorian”, literalmente.

Pequena doce quimera


Na casa verde de Julia

Pequenas poções de ilusão

Pequena doce quimera

Que movimenta o coração


Seus olhos verdes também

São olhos como os de “nefér”

No seu secreto desejo

Sem-briga se me quiser


Verdades em des(en)cobrimento

Suprimem o véu que separa

Um “acontecimento-aproriação”

De quem se encontra e nem repara...


Memória em feições do cotidiano

Ilustram suspiros na lembrança

Como frações de felicidade

“Denomina-à-dor” e tábula rasa.


em princípio sempre há começo

Em nosso começo um laboratório

O tempo nos fez perenes

sujeitos um à vida do outro


Não há como voltar

Neste trem já embarcamos

A “estação” que passou “verão”

Foi só partida à viagem...

Jayme Camargo, “nova-à-mente” em um outono...

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O desejo da voz...


O desejo da voz...


Queria poder te ouvir e me deleitar com as palavras que emanariam da tua alma.

Seria como depois de uma tempestade

poder provar o sol refletido na grama

por sobre onde deitaríamos nossos corpos.

Ou como o arrepio que sentimos quando mergulhamos

ainda secos às profundidades dos mares.

Desde o primeiro instante no qual olhei para a imagem do teu olho

minhas retinas resignificaram-se com novos sentimentos.

Agora meus ouvidos clamam pela mesma atenção

e rogam pelas palavras sussurradas

e pelos poemas falados que constituem o cotidiano e suas minúcias.

Deves adorar o cotidiano?!

Pois sinto que teu espírito está entregue ao teu corpo

mas que teu corpo pertence aos pequenos desvãos da linguagem cotidiana.

Pequenos lugares são diferente de lugares pequenos.

Pequenos lugares reconfortam nossa alma

mesmo quando a angústia nos corta as palavras.

Afinal, essa pá-que-lavra

e dá sentido ao mundo

retirando-o de seu silêncio mudo

que constitui o começo de tudo.

A palavra.

Se pudesse, não te daria apenas a minha palavra

mas daria todas as palavras que conseguissem conduzir os sentimentos que as perfazem.

Daria-te, também, mais que a fala

daria meu silêncio para que tu abrisses teu coração

e que ele pulsasse teu sentimento nu.

Nossa nudez não seria castigada.

Nossos sonhos nossa condição de possibilidade.

Nossa transa - um emaranhado de carinho, paixão e sensibilidade.

É terna a mente que ouve seu coração.

Teu coração eternamente.

Jayme Camargo