segunda-feira, 21 de novembro de 2011

paixão e amor - identidade e diferença

A paixão na identidade e o amor na diferença

Normalmente nos apaixonamos por pessoas que julgamos serem parecidas com a gente. Que compartilhamos gostos. Musicas, filmes, lugares. Sentimos frio na barriga quando estamos nos apaixonando a cada objeto compartilhado. Nossa paixão é altamente identitária. É o nosso ardente desejo pelo espelho. Entretanto, as paixões costumam ter prazo de validade. São finitas. E às vezes acabam com a gente. E aí não conseguimos entender como toda aquela afinidade não resistiu ao tempo. E em muitos casos não sobrevive. Apenas a menor parcela das paixões transforma-se em amor. E só se transformam em amor aquelas que cumprem uma condição. As que as afinidades objetivas viram crescimento. Aquelas no qual o jeito do outro nos agrega pela sua diferença. Quando na convivência aprendemos com as suas virtudes. E vice e versa. Essa troca gera o crescimento sem dor. Único modo humano que temos de crescer sem sofrimento é pelo aprendizado no amor. De resto, geralmente só aprendemos sofrendo. Por exemplo, nos casos em que a afinidade não vira amadurecimento. Casos em que os objetos das paixões nos criam ilusões. Viram amor as paixões de sujeitos de jeitos diferentes. Sujeitos só jeito. Onde cada evolução marca as experiências de ambos. Onde a intimidade revela cobranças que valem à pena – que nos trarão benefícios ao longo do tempo. Aquelas pequenas cobranças que tantos amores fizeram e que surdos não demos bola. É triste quando apenas um está preocupado com o crescimento. Significa que na prática só um está amando. Aqueles que não recebem aprendizados sentem-se não-amados. E em geral uma relação não se suporta sem a admiração. E em sua maior virtude habita o amor na diferença.
Jayme Camargo da Silva

terça-feira, 8 de novembro de 2011

sobre o hibridismo

A expressão do ser humano a partir do hibridismo.

Nosso cotidiano é carregado de inúmeros jeitos de ser. As pessoas são todas diferentes. Cada uma agindo a partir da sua própria história. Capazes de vivenciar infinitos comportamentos. Estilos de cabelo. Estilos de cabeça. Em alguns, por vezes, carecas de estilo. Nosso cotidiano é um delicioso vale-tudo. Basta vermos a beleza de ser tudo diferente. Múltiplas cores. Nas pessoas e nas vivências. A vida é um arco-íris se percebida desde a diferença. É como a natureza. A borboleta púrpura sobrevoa a rosa que o beija-flor beija e toda essa cena um colorido. É uma trama onde cada um vive o personagem de si mesmo. Nossas fantasias secretas que guardam os nossos mais íntimos desejos. Somos sujeitos de desejos. Cada um narrando a sua própria vida em cada movimento. O movimento elimina o pré-conceito. Nunca podemos prevê-lo. Isso significa nunca sabermos de antemão como será qualquer vivência. As experiências são sempre diferentes. E as pessoas se misturam nelas. Ao nos misturarmos uns com os outros tornamos as experiências mais ricas – mais vivas. As expressamos cada um de uma forma. Diferentemente, somos humanos. Eis a nossa existência enquanto hibridismo.

Jayme Camargo da Silva – PUC/RS-CNPq

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A música – crônica de minha existência.

à Joana

A música – crônica de minha existência.

(a felicidade)

a vida é uma gota de orvalho numa pétala de flor. Cai como uma gota de amor.vivemos milhares de experiências de tristeza e dor até chegar aos raros momentos de felicidade. Delicada vida. Perdemos pessoas de morte morrida e de morte no amor. São as duas formas que humanamente temos de perder o outro. E perdemos demoradamente, também aos milhares, para conseguir os pequenos espaços de beijos de amor. Há no cotidiano uma máxima: “tristeza não tem fim, felicidade sim”. Tal máxima significa a nossa máxima dor. Não há vento que afaste a nossa fantasia, de rei ou de pirata ou jardineira, de tudo não se acabar na quarta feira. As cinzas, porém, são inevitáveis. Por vezes perdemos porque terminamos, por outras terminamos porque perdemos. A grande ilusão que temos do não ter fim o carnaval. Mas, Todo carnaval tem seu fim. Abrandamos a nossa alma com pequenas poções de ilusão. É a pluma do vento que nos leva pelo ar. Nossa felicidade voa tão leve, mas tem a vida breve. É o sonho que, por sua condição, nunca sabemos quando vamos sonhar. Para que acordemos alegres como o dia, atravessamos várias noites frias. Há Travessias. Entretanto, o nosso desejo: Travessuras. O ideal maduro, acreditamos, travessias que propiciem gozos em forma de travessura. Que tenham Cores. Que viva a natureza há flora. Que floreça e que aflore. Há um certo “Tom” na vida: Tristeza não tem fim, Felicidade sim.

Jayme Camargo da Silva,
No capão novo de 30 de outubro de 2011, às 03:07.
(ao som do “caríssimo” João Gilberto)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A província psicótica (o surto tricolor na decisão da Libertadores de 2007)


é fundamental debochar de si mesmo


A província psicótica (o surto tricolor na decisão da Libertadores de 2007)


Esses fatos aconteceram no não distante ano de 2007 na província de POA. Foi quando houve um surto psicótico em mais de metade da população habitante. As pessoas pareciam zumbis tomados pelo pensamento mágico. O grêmio com um time nada além de regular foi a bomboneira decidir a libertadores e levou um pau do boca juniors. 3 a 0 na cola e o pior surto psicótico em décadas nos gaúchos: os gremistas acreditavam que poderiam fazer 4 a 0 e sagrarem-se campeões na partida de volta no Olímpico. Tinham teses mirabolantes que iam desde o retrospecto último da época, até a eterna e surrada imortalidade tricolor. De fato o grêmio havia virado um 3 a 0 contra o Caxias pela semi-final do gauchão. O que levou a oficialização da psicose pelo diretor da época: “O boca juniors é o Caxias com grife”. Puxa vida, frase antológica, mas fanfarrônica! Ora, o grêmio da época era o Caxias com grife. No gol, Sebástian Saja, muita grife hermana, mas pouca bola – na posição decisiva, pois que faz o time não perder. O centroavante camisa 9, isto é, a posição que faz ganhar – Tuta, um pecherão que não jogava nada. E o “fiador” do time, o camisa 10, Tcheco, um jogador medíocre que nunca ganhou nada. O Boca um timaço com “pato” Abondanzieri, Palacio, Palermo e Riquelme. E os gremistas não estavam nem aí para a diferença dos times. Foram contaminados pelo vírus da magia tricolor.


Achamos um vídeo da época que comprova o argumento do surto. Comentaremos passo a passo para ilustrar alguns aspectos de como a província vivenciou a epidemia.


1) A primeira dama do almoço na província se “equívoca”, logo aos 5 ss de vídeo ao falar “derrota gremista, aliás, derrota brasileira”, secadora que deve ter olhado o jogo na cama do inimigo; se pausa-se nos 16 ss de vídeo dá para ver direitinho a cara de deboche por dentro dela pela derrota e esquizofrenia gremista por acreditar na virada; 2) aos 30 ss um dos primeiros infectados que trouxeram o vírus de Buenos Aires deu o seu depoimento – a voz rouca denunciava a batalha da bomboneira “quarta feira vamos levantar o caneco”, diz o miserável sorrindo; 3) a tese de sempre do sofrimento característico das conquistas gremistas: até pode ser que as conquistas tenham sido assim, mas as vezes é sofrido porque é um grêmio sofrível e não um grêmio campeão (aos 30 ss o camelô gremista com a esperança no olhar); 4) aos 57 ss a prova de que o surto atingiu até os mais velhos, pois um senhor de seus 60 anos disse acreditar: “o que é que custa ganhar do boca”, disse o velho. Como assim o que é que custa, cara-pálida?! Custa a Boca! 5) a 1 min e 17 ss a companheira da primeira dama do almoço fala para o Paulo “Grito” – “tá complicado, mas o que tem de gente falando em milagreeee”; 6) aos 2min e 27ss um dos auges da psicose – a expulsão de Sandro Goiano, isto é, o maior símbolo de que os aflitos foi muito mais um barraco que uma batalha, esse jogador é o símbolo de uma década de derrotas gremistas (2001/2011). Confundir batalhas com barracos significa glorificar perdedores (e nesse caso alguns casos do vírus até hoje não curados...); 7) aos 3min e 12ss o gol contra mostrava o sintoma “patricius” no surto psicótico da província; 8) aos 3 min e 33 ss atrás do repórter um grupo de torcedores que foi ao aeroporto receber o time, dá para ver bem direitinho o abobado falando na roda de amigos numa postura do tipo: “é certo que vamos ganhar, o grêmio é imortal”; 9) e aos 3min e 42 é hilário um dos guris abrindo um cartaz de cartolina com os dizeres “eu acredito”; 10) aos 3 min e 46 não menos hilário o depoimento de um dos Eufóricos guris psicóticos; 11) e, para finalizar, aos 3 min e 58, os surtados do cartaz abrem ele e a câmera foca “eu acredito e sei que vocês Também acreditam”, ou seja, “tamo-junto” nessa loucura pessoal... Infecção generalizada. Admito que em alguns momentos também acreditei.


Jayme Camargo é gremista e freqüenta o Olímpico desde 1991.

domingo, 14 de agosto de 2011

Não leiam mais uma “bobagem” do coração sobre vida, amor e cotidiano

Não leiam mais uma “bobagem” do coração sobre vida, amor e cotidiano, por Jayme Camargo

Nós teríamos a vida que hoje é um sonho... Dividiríamos o cotidiano e todas as descobertas que ele proporciona. Correríamos em meio à natureza pela aurora das manhãs. Almoçaríamos juntos quando possível. Transariamos no começo da tarde sempre que as horas esporadicamente permitissem. Trabalharíamos mais felizes por saber que os prazeres da noite em algum momento seriam nossos. E nela um mundo de fantasias tomadas de tesão e amor. Beberíamos. Brindaríamos. Faríamos tudo que a fantasia de um casal unido na carne e no espírito inspirasse. Nossa vida seria pira na cama e chama na emoção. E ao mesmo tempo brisa em seus momentos de cuidado e distinção. Jogaria bola com os primos. Seria amigo verdadeiro das queridas primas. E o dindo simbólico das crianças (em nossa rotineira reciprocidade de carinho). Ah, as crianças... Continuam sendo as mais sábias criaturas. Gostam só de quem sabe gostar e bancar essa transparência. As crianças só se apegam as pessoas que se permitem apegar. É a luz interior. Alumia ou não alumia. Nossa vida seria luz. Seria encantamento ao ver a lua. Seria lembrar ao outro de vê-la. Não seria apenas ver, seria também enxergar. Afinaria a religiosidade em contato com uma mãe. Refinaria o equilíbrio em contato com um grande pai. Tudo na vida é aprendizado quando aprendemos a enxergar. Nossa vida seria somar. Isso também se diz crescer. Evoluir devido ao conviver. Não há nada mais pleno em uma vida no amor que o evoluir pelo conviver. Mudar inconscientemente sem sentir a dor. Talvez o único sentido em que a rima não seja pobre ao se rimar com amor. Nossa vida seria uma rima rica. Fraternos e queridos amigos nos visitariam. Em qualquer lugar que estivéssemos. Misturaríamos contextos de pessoas simples, sensíveis e verdadeiras. E assim seríamos capitães de uma arca batizada com algum nome de flor. Nela carregaríamos as boas emoções oriundas de nós e de nossa mistura de mundos. Seríamos simplesmente “com”. Descarece um complemento. Não há objeto que corresponda ao “com” entre vida e amor. Simplesmente viveríamos, isto é, viver-iamos. Algum dia há de viver vamos...

no ônibus da vida as 20hs e 20min do dia 09/08/2011

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O vazio e a saudade


O vazio e a saudade: palavras ao (meu) lado.
Vivi uma calmaria afetiva e achei ruim. Nenhum acontecimento significativo e relevante. Tempo de nenhum amor e nenhuma saudade especial sendo sentida. Achava ruim não ter de quem sentir saudade de verdade. Vivi durante um tempo assim. Sem ter alguém que me fizesse idealizar estar junto. Sem ter alguém que fosse a primeira pessoa que lembrasse quando o acaso trouxesse uma novidade. Vivi assim e senti um pouco do vazio. Acho que é isso que se sente quando não se tem alguma relação de amor. O amor é o critério de aparecimento do vazio em nossas vidas. Depois de um tempo e em alguns casos até nos acostumamos com a sua companhia. Algumas vezes acabamos namorando o vazio, cansados da inconsistência e falta de substância de nossos ex-pares soltos por aí. Não percebemos que normalmente é com o “ex” de alguém que nos envolvemos. As pessoas e seus passados. Suas biografias e trajetórias. Muitas vezes acontece a ironia da história. Quando um ex que deixou o vazio para alguém se transforma em nosso principal afeto. Todo mundo deixa de ser vazio em algum momento. A vida pode até demorar, mas ela normalmente dá essa possibilidade. No tempo do amor o vazio é quase sempre substituído por um sentimento de plenitude. Se há alguém há de quem sentir saudade. É o preço de não ter o vazio. A vida nos retira do marasmo afetivo, mas às vezes nos coloca em outra condição. Na situação de amar alguém e esse alguém nos amar, porém não podendo estar juntos. Não dividindo o cotidiano. Não o tendo ao lado nas noites de chorar. Não dividindo as pequenas surpresas e fantasias que as vivências nos colocam. Não tendo o sorriso amado para compartilhar. Nesses casos trocamos o vazio pela saudade. E acabamos trancados. Não há dor maior para alguém que ama que despedir-se de seu amor sem saber quando irá revê-lo novamente. E a incerteza de não saber se um dia haverá dia-a-dia?! Parece impensável amar, ser amado e não amar. Sentir saudade do vazio. Cansar de não ter seu amor ao lado. O lado do amor deveria sempre ser ao lado do ser amado. Parece que se esqueceu de avisar a vida, que se esqueceu de despertar os deuses. Acorda, amor, eu tive um pesadelo agora, sonhei que não estavas junto a mim. É sempre melhor acordar – amado.
Jayme Camargo da Silva

segunda-feira, 18 de julho de 2011

nunca tive lugar


Nunca tive lugar.
Sempre me senti um fora-de-lugar.
Talvez por trazer na essência a história de minha existência.
Todos temos marcas.
Nossas tatuagens são nossa primeira pele embora não a enxergamos.
Cada vez enxergamos menos uns aos outros.
A janela da alma está cega.
Cegonha que não chega – ninguém nasce mais.
Somos consumidores da vida.
Consumo e dores.
De consumidores da vida a vida de consumidores.
Dores.
Não há cura em lojas de conveniência.
O racionalismo sacrifica em massa.
Pessoas que não comem nada.
Massa que sobra e vai pro lixo em guetos e restaurantes.
Luxo que sobra e vai todo à mesa de madames.
Damas da ilusão.
Lixo e luxo se confundem para sua desilusão.
É o preço da vida de plástico
de toda lógica da dominação.


Jayme Camargo

quinta-feira, 14 de julho de 2011

facadas na “Redenção”

Se não formos capazes de viver

inteiramente como pessoas,

ao menos, façamos tudo para não

viver inteiramente como animais.

JOSÉ SARAMAGO


Polícia para quem precisa de polícia (facadas na “Redenção”).

Eu estava no parque da Redenção tomando um chimarrão em um fim de tarde da primeira semana de julho. Presenciei a abordagem de dois agentes da Brigada militar a dois jovens que supostamente fumavam maconha. Os jovens eram aparentemente socialmente viáveis. Não era necessário mais que um mediano bom senso para perceber que eles não eram “bandidos”. Os brigadianos estavam de bicicleta. Abordaram os jovens cada um com uma das mãos nas respectivas armas. Poucos dias depois, mais precisamente no dia 4 de julho, um jovem de 16 anos foi morto a facadas no mesmo parque da Redenção. Há poucos metros do local onde eu havia presenciado a batida nos jovens. Segundo a agência Folha de SP, o crime ocorreu por volta das 19h30min. Na última segunda-feira (12 de julho) fui fazer o fitness na Redenção. Entrei no parque pelas proximidades do viaduto da Rua João pessoa. Os brigadianos da ocorrência descrita estavam fazendo a mesma abordagem em outros três jovens. Com todo o respeito que um agente de segurança pública merece, resolvi observar: “semana passada mataram um menino a facadas aqui no parque, vocês não deveriam estar protegendo a Redenção desse tipo de violência?!”. E um dos agentes redargüiu: “eu não tava aqui, eu tava em casa”. Fiz minha última observação –“eu também estava em casa, pois tenho medo de vir para o parque, na medida em que a Brigada fica pré-ocupada com jovens que supostamente estão fumando maconha e permite que outros jovens sejam mortos a facadas.”. No direito temos algo que se chama “bem jurídico”. É o que cada lei penal busca proteger. Alguém que mata, por exemplo, desrespeita o bem jurídico vida. Alguém que rouba o bem jurídico patrimônio. Isto é, a política criminal de um estado (também) aparece para a população na relevância que o estado e seus agentes dão para cada bem jurídico. Não quero concluir que o posto da Brigada militar no parque da Redenção serve principalmente para fazer “termos circunstanciados” para usuários de maconha. Enquanto isso pessoas ficam mercê dos verdadeiros bandidos que destroem a vida com “facadas na Redenção”. É uma questão de prioridade. Toda escolha é uma renuncia. Assim, espera-se que os agentes estatais não renunciem à vida das pessoas em nome do vício. A atuação viciada implica o custo de vidas.

Jayme Camargo

terça-feira, 5 de julho de 2011

o cheiro de Luana Piovani

ao Lucio pela bonita amizade

O cheiro de Luana Piovani.

Eu havia decidido comprar um perfume que gostasse. E que se tornasse a minha marca. E que marcasse um tempo de ricas vivências. Era uma tomada de posição. Escolhi. Calvin Klein. Um perfume verdadeiro. Engraçado que foi pouco tempo depois de ter saído da casa de minha mãe. Que de fato confirmou as ricas vivências. Que duram e se dão até hoje. Uma delas se deu com o meu queridíssimo amigo Lucio Chachamovitch (lucinho ou lucildo). Eu, ele e o Antonio Carlos Falcão fomos a uma peça que era um monologo com a atriz Luana Piovani. O querido Falcão é um excepcional músico e artista aqui da província. Pois, o Falcão é muito amigo da Piovani. Assim, tínhamos tickets privilegiados para ver a bela encena-ação. Terminado o espetáculo fomos todos ao camarim. Cumprimentei Luana lembrando quantas vezes havia a homenageado em meus secretos prazeres. Brindamos sua competente performance. Meu imaginário estava pulsando libido ao lado daquela mulher exuberantemente bela. Ela falava com aquele “carioquêix” característico das belezas globais. Era um domingo e ainda havia a festa “Zeligdum” no Zelig bar. Assim fizemos a migração do teatro para a Cidade Baixa. Chegando lá, a minha amiga-presidenta Juliana Chagas (vulga juju) havia se juntado a nós. Foi aí que Luana Piovani resolveu se pronunciar. Como toda mulher que sabe que é notada, indagou com charme: “quero saber quem é que está usando o maravilhoso perfume que estou sentindo? Quem é esse cheiroso?”. E imediatamente passou a cheirar cada um dos que estávamos juntos. Pensei que fosse a cheirosissima Juju a sua eleita. E Piovani cheirou juju antes de mim e não era. Chegando até minha pessoa me cumprimentou com beijinhos pela segunda vez na noite e disse: “você é muito cheiroso; meus parabéns!”. Na hora tive a confirmação de um movimento feito quase um ano antes. A mudança no perfume havia sido reconhecida por uma mulher que eu gostaria que meu cheiro cativasse. E tal foi confirmado em diversas outras circunstâncias. Afinal de contas, alguns cheiros se transformam em nossas vivências...

Jayme Camargo

domingo, 3 de julho de 2011

estilo cachorro

a todas as mulheres integras

Não é machismo (estilo cachorro).

Mano brown, como em não raras vezes, acerta em cheio na música “estilo cachorro”. Seu tema: o comportamento que as mulheres em geral fixaram como o padrão que lhes atrai. Há quem diga – há trai. Por exemplo, Djavan canta: dizem que o amor atrai. Sim, deturpamos o sentido de Djavan. Talvez tentando dar mais su(b)stância ao seu idioma musical. Não desconsideramos o seu talento, mas somos mais amigos de Brown. E ele defende a idéia que as mulheres em geral consagraram o estilo cachorro como o padrão masculino. Elas valorizam, portanto, a sensação de poder que os cachorros as conferem no cotidiano. Logicamente não estamos falando de todas as mulheres. Nosso alvo, tal como os Racionais, são o grande número de cachorras soltas por aí no dia-a-dia. Elas determinaram a valorização dos cafajestes (doravante “cafas”). A consagração dos canalhas. Esses dias estava a conversar com três belíssimas e interessantes mulheres da faixa dos trinta. Elas falavam justamente do fato das meninas da faixa dos vinte atraírem e gostarem dos cafas. Diziam as três mosqueteiras que com o chegar aos trinta a mulher passa a gostar dos queridos. Talvez seja. O problema é que como os vinte vem antes dos trinta, a referência resta prejudicada. É corriqueiro escutarmos das próprias cachorras que elas adoram os canalhas. Brown pressupõe no cristalino a dependência freudiana que temos, isto é, temos um olhar (no) sexual. E como em geral são as mulheres que decidem com quem vão transar, elas definem o critério. Diz a canção: “pra conseguir o que sempre quer, utiliza a mesma arma que você, mulher”. O estilo cachorro é a arma das cachorras. Mas, onde late a sua alma?

Jayme Camargo


segunda-feira, 27 de junho de 2011

ficção da realidade ou realidade da ficção?

A primeira injeção de Rossalee

Eles eram grandes amigos da vida. Pois ela havia os colocado lado a lado. Estudaram na mesma academia, porém lá não compartilharam nada. Ou, melhor, lá só compartilharam o nada. O encontro com Rossalee, entretanto, havia se dado no turno da lua. Eram idos de 2007. Estavam na casa de um deles. Tinham feito versos beatniks e mexido “intensa-a-mente”. Uma noite a lá William Burroughs, ou seja, com os seus devidos dionisíacos ingeridos. Cansados da masturbação poético-intelectual, caíram na rede. Como dois participantes da era virtual, tiveram na Internet a promessa da masturbação oral. A inodora rede acabou pescando Rossalee. Primeiro passo: entraram no MSN. Segundo movimento: identificaram a vítima; ou, em linguagem de máquina, o vírus. Que era a carência de Rossalee. Terceiro passo: a utilização do argumento do sonho de Rossalee. O argumento do sonho se deu em várias partes. Primeiro eles chamaram Rossalee dizendo que haviam sonhado com ela. Rossalee, empolgada como toda mulher ficaria, ao ver à janela emeesseênica teve a sua barra de tarefas laranja. A janela piscava. O barulinho do MSN fazia com que seus ouvidos transformassem aquele chato barulho em tesão e jazz. Ella perguntou: “é mesmo? O que vocês sonharam?”. Sonhamos que estávamos em uma praia deserta, que chovia e nos escondemos em um quiosque. Nele estava teu antigo diário. Ele descrevia o teu primeiro beijo... Cada parte, é importante sabermos, era pausadamente enviada, fazendo com que cada pergunta de Rossalee a tornasse mais envolvida com a história na resposta. Quando da pausa da última parte do sonho, Rossalee não se agüentou: “o que vocês estão fazendo? Onde vocês estão?”. O medo de perdê-los ins-pirou à vontade de ir vê-los.Os rapazes estavam literalmente no Centro, nas imediações da Alberto Bins. Rossalee, não longe, estava na Independência, isto é, bem próxima ao Centro e ao mesmo tempo independente. Pediu que fossem buscá-la. Os rapazes, cavalheiramente, não hesitaram o chamado de Rossalee. Conduziram-na ao centro. Tinham segundas intenções. Ela era virgem e sonhava ser feita mulher. Não havia transado ainda, pois duvidava da capacidade de um homem para tal. Sonhava com dois. A metafísica da vida os deu. Os rapazes retribuíram as expectativas do sonho de Rossalee. Corresponderam a toda intimidade de sua terra prometida. Como messias do sexo a transformaram em uma das poucas mulheres naquela noite com as suas expectativas plenamente confirmadas. Rossalee nunca mais foi à mesma...

Vado Vergara e Jayme Camargo

quinta-feira, 23 de junho de 2011

mu-dança...

Mudar: mu-dança.

Re-encontrei uma colega que não via há mais de 11 anos. Havíamos sido colegas no segundo grau. Ela cursou biologia e trabalha com acessoria ambiental. Nos conhecemos quando eu ainda era meio selvagem. Selvagem no sentido de demasiadamente chato. Eu tinha 16 anos e era muito guri. O tempo passou. Atravessaram a minha vida diversos acontecimentos. Meu “mito-fundante” morreu. Estudei em lugares bem diferentes como o direito da PUC e a filosofia da UFRGS. Amores passaram. E, principalmente, amizades sólidas se constituíram. A carência oriunda do vazio de amigos hoje é quase inexistente. Aliás, isso faz toda a diferença. Ter amigos que te procuram quando os seus corações estão cambaleando. Eis, para mim, uma grande prova e marca de uma amizade consistente. Não posso falar como a colega era 11 anos atrás, pois não a conhecia bem. Mas, devo frisar que naquele momento ela não foi nada pré-conceituosa. Não me olhou com os olhos do passado. Ela havia convivido comigo na época em que eu beirava a barbárie comportamental. Tinha tudo para colocar esse filtro em seu olhar. Fiquei surpreso pela sua sensibilidade. Ela creditou-me a possibilidade de ter mudado. Mudar é a palavra-chave. Abre as portas para que se qualifique o cotidiano. As pessoas no cotidiano cada vez mais mudam menos. As pessoas conservam. Normalmente adotam um ponto fixo e são conservadoras. Dizem não a mudança. E assim falta a dança, falta um movimento na sua vida. Em geral as pessoas estacionam em suas selvagerias. Sorrindo a colega me disse: “estou impressionada, como tu estás diferente”. Eu compreendi: não sou mais o selvagem de outrora! Ela nem sabe, mas sacou a minha essência ao dizer “diferente”. Sensibilidade com a diferença. Eis, talvez, a essência de minha mu-dança...

Jayme Camargo, quinta-feira, 23 de junho de 2011 às 18:47.

terça-feira, 21 de junho de 2011

os homens não escutam as mulheres...

Os homens não escutam as mulheres (crônica de uma morte anunciada).

Os homens, em geral, não escutam as mulheres. Não dão bola para o que elas dizem durante um relacionamento. Todas aquelas reclamações que elas fazem com afeto. Elas falam, falam, falam, até cansarem. Daí primeiro elas param de falar. Depois param de sentir. E finalmente param de querer conviver com quem não as escuta. Para todas que não são levianas com as palavras, isto é, que prezam e são verdadeiras com aquilo que dizem, é broxante não ser escutada por aqueles que amam.

As mulheres falam a partir do seu local-de-fala, ou seja, falam enquanto mulheres. Os homens nem se dão conta que ainda não estão preparados para escutá-las como mulheres. Tentam escutá-las a partir do seu ponto de vista. E assim apenas as ouvem, mas nada é processado, ou seja, elas não são escutadas. São exclusivamente ouvidas a partir de uma visão masculina. Isso fulmina com a relação na prática. Elas se sentem desmerecidas em seu amor, pois o que queriam transmitir é exatamente a afetiva manifestação prática. Estar "perdendo" tempo com aqueles que amam é uma prova de amor para as que tampouco são levianas com o seu tempo.

Elas costumam falar aquilo que lhes incomoda, mas os homens egóica e vaidosamente não registram. Acreditam que o amor que lhes é dirigido será eterno e cheio de juventude. Os homens se posicionam como peter-pans, crentes que o feitiço do amor sobreviverá a adolescência da sua falta de ouvidos. Dificilmente ele sobrevive. Elas não agüentam e vão embora. Choram primeiro e os homens quando cai a ficha de que deveriam tê-las escutado. Pouco antes de partirem, quando das últimas discussões, ainda estão sujeitas a ouvir dos homens: "mas, você quer terminar assim, do nada... você nunca disse nada, eu não sabia que algo estava errado...". Elas quase sempre falam. São até debochadas pelo universo masculino por falarem demais.

Aliás, devemos fazer esse meia-culpa: os homens passam todo o durante a relação reclamando das intromissões delas, de suas falas exageradas. Pois, quando estão sendo abandonados, reclamam que elas não disseram nada. E o que é mais trágico, os homens inúmeras vezes fazem a pior fala que pode se dar para uma mulher que está nos deixando - "você destruiu a minha vida". É a confissão de que não a ouvimos e nem nos demos conta de tal esquecimento. Além de revelar a dependência por carência que toda a zona de conforto gera. Quem já perdeu a preciosa paixão de uma mulher legal e interessante, por não tê-la escutado, sabe a dor que dá depois que cai a ficha do erro. As mulheres falam e dessa forma dão os caminhos para que as façamos felizes. Evitemos o evitável e assim deixemos o sofrimento por conta do inevitável. Talvez assim emancipemos os nossos corações. Talvez não. Às vezes é uma questão de sorte encontrar alguém que escute o nosso amor.


Jayme Camargo

quinta-feira, 9 de junho de 2011

qual o tamanho dessa mágoa?

A garota veio me dizer na noite: “vim te dar oi, pois acho ridículo não nos cumprimentarmos. Mas, fique sabendo que eu ainda não te aceitei no facebook, pois ainda estou magoada”. Bem assim... No meio da pista de dança. Eu de pronto respondi: “nossa, você ainda está magoada, a minha mágoa já passou...”. O Lucinho, dias atrás, comentou: “sim, né, vocês trocaram farpas desmedidas”. Isto é, houve reciprocidade nas ofensas. Enfim, dias após acabei refletindo sobre o acontecido. E me conduzi a uma questão – qual o tamanho da mágoa dela para ela não ter aceitado o meu facebook? O fato era: ela havia ido me cumprimentar. O que era maior (mais importante), seus cumprimentos “ao vivo” ou a recusa virtual? Qual era o tamanho da mágoa? O mais engraçado é que quando fiz meu facebook optei por convidar todos os meus contatos do hotmail. Não escolhi pontualmente, ou seja, a tal garota veio no vácuo de todos os contatos. Guardar mágoas não me parece ser um bom horizonte. Cordialmente repeti desculpas já dadas outrora. Ela aceitou, porém disse que agora ainda demoraria para digerir as atuais desculpas. E que assim demoraria mais um pouco para aceitar meu convite “facebookeano”. O facebook é importante para ela. Foi uma óbvia conclusão. Entretanto, restou-me uma dúvida – qual o tamanho dessa mágoa?

Jayme Camargo

segunda-feira, 6 de junho de 2011

carta dos direitos humanos


Mudar é difícil, mas é possível.
Paulo Freire


Carta aberta de uma mãe em defesa de um filho: a “declaração materna(l) dos direitos humanos”

Caro filho, quem te escreve é tua mãe. Aquela que te colocou no mundo. Que tentou te cuidar enquanto pôde. E que não mais podendo, cuidou que a ética do cuidado fosse re-memorada entre os homens. A ética que as mães têm por seus filhos – do cuidado pelo amor. Tu, meu filho, deverias ser reconhecido entre os homens. Quando finalmente os direitos serão “humanos, demasiado humanos”?! É minha pergunta para tais “homens”. Que te levaram de mim, porém agora te abandonaram no mundo. Eu, na qualidade de tua mãe, jamais fecharia a porta para a tua entrada. Jamais te deixaria na rua, jamais te deixaria jogado. Olha os homens des-humanos, ciborgs de coração gelado, que te rejeitam à sarjeta... Acorda meu filho! Olha para o que fazem contigo no cotidiano... Olha para como as pessoas esquecem o teu ser. Esquecem a tua existência. Olha o que fazem com aquilo que lhes parece diferente. O olhar que as pessoas executam quando olham para a diferença. Os homens te executam ao executar a diferença. Olha para aqueles que se amam e que não tem liberdade para poder amar. Tão somente por causa de alguma diferença na composição dos pares. És esquecido e assim pessoas que se amam são discriminadas por se amar. És duplamente executado quando pessoas “selecionadas” pelo sistema das grades, são destruídas subjetivamente pela seletividade. Sejam grades de condomínio, ou grades de “penitencia-diária”. Olha e não te engana, meu filho, os homens continuam brigando por motivos de cor. Continuam no dualismo pré-conceituoso entre o escuro e o claro. E assim eterna-mente perdem a beleza dos arco-íris. Os homens, tolos reféns dos objetos, lutam por seus egos. E assim também és executado... Olha o que os homens fazem contigo, em nome de algo que eles próprios definem como o “normal”. Passei a vida querendo encontrar o tal “normal” e acabei muitas vezes perdendo minha própria história. Eu reconheço – meu amado filho – que também erramos. Que muitas vezes em teu nome cometemos alguns atropelos. Sabes como são as mães, não medem esforços para verem seus filhos se desenvolvendo... Por isso mais essa súplica. Mais esse texto. Testa a tua retirada como a abertura para um re-começo. Como a abertura de um reconhecimento. Ou, alternativamente, voltas para casa. Sai desse mundo se ele não demonstrar que te mereça. No seio de tua mãe aos teus filhos não faltará leite. À tua vida não faltará diferença. Ao teu histórico espírito não faltará memória na guarida. Guarda a tua própria vida - é o que te peço. Não imaginas o que seria para a tua velha mãe Vida, ter que presenciar ao teu enterro. Na des-humana terra em que ainda reina o preconceito. É mais difícil quebrá-lo do que quebrar um átomo, disse Einstein no ensejo. Talvez, meu filho, esta seja a "partida". O começo pela quebra do preconceito. Escreverei para que os homens o destruam. Pois será a tua vida que estará em jogo. Não quero te perder mais em guerras, em viadutos, em guetos, ou, favelas. Não quero mais te perder por questões de gênero. Tua gênese é tua própria natureza; e teu sonho – deuses. Sonho contigo saudável no cotidiano. E assim me faltam palavras. Restam-me soluços, lágrimas e desespero. Como tua mãe, sinto as dores do sofrimento de todos aqueles que não têm acesso. Ace(n)ssibilidade como um todo. É o “outro” como respeito. Um casamento com a alteridade. Ela é o amor que te desejo. Ela te dará a saúde na doença. O amparo na justiça. Um lar para tua vida. A tua vida é a minha maior pré-ocupação. Deves saber que Não há problema maior para uma mãe do que a vida de seu filho. És um pedaço de mim. Assim, és a vida desta velha senhora Vida. Tu, “Direitos Humanos”, meu amado filho, és a própria vida desta velha história chamada Vida...

Porto Alegre, sexta-feira 3 de junho de 2011.

Jayme Camargo da Silva

quarta-feira, 25 de maio de 2011

a seta e o alvo

cada dia que nos acordamos raramente percebemos que estamos partindo rumo ao nada. isto é, ao sairmos para o mundo-da-vida nunca é psossível saber de antemão as coisas que nos afetarão. afetos que surgirão. como diz a canção de Drexler "os dias são raros", pois que são sempre únicos. quiçá não percebamos, mas quiçá de fato seja assim... somos lançados na vida para vivê-la. e assim existimos como lançados. dessa forma, devemos nos jogar, nos lançar, sobretudo quando nosso horizonte for amar, mesmo não sabendo onde o destino irá nos levar. até porque, como diz Moska "então me diz qual é a graça de já saber o fim da estrada quando se parte rumo ao nada.". Jayme C.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Pequena nota sobre um pedaço da “língua” de Caetano Veloso...

A linguagem é a casa do ser.

Martin Heidegger

Pequena nota sobre um pedaço da “língua” de Caetano Veloso.

Caetano canta: “Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção, Está provado que só é possível filosofar em alemão”. A canção se chama “língua” e sua expressão é um manifesto “pró-vocação”. A vocação da língua é fazer o sentido circular. Circuladô – como o próprio Caetano cantou...

A citação tem como origem o filósofo alemão Martin Heidegger. Também conhecido como o “pastor do ser”, o pensador perseguiu o sentido do ser da vida em geral. No cotidiano. Nas múltiplas vivências cotidianas que nos ocupamos no “viver-à-vida”. Caetano recomendou que as idéias se transformem em canções, na medida que o “filosofar” estaria recluso a língua alemã. Caetano acerta, porém em parte. A citação completa da tese de doutoramento de Heidegger é: “só é possível filosofar em grego antigo e em alemão”.

Heidegger não é tolo. Sabe que o pensamento que herdamos do mundo grego antigo é decisivo para o Ocidente. Aliás, que juntamente com o Direito Romano e com a religião judaico-cristã, constituem os três mitos fundantes do mundo ocidental. O alemão arcaico que Heidegger sustentava desfrutaria da possibilidade do filosofar, pois possuía uma estrutura similar ao grego antigo.

Heidegger re-corre aos termos gregos oriundos da filosofia aristotélica. Os termos clássicos gregos diziam respeito ao “como” as pessoas tinham acesso à vida no cotidiano. Heidegger os traduz propondo a substituição do emprego dos termos desgastados, pelo emprego de acordo com o sentido originário que esses termos tinham. Eles são: “techné”, “epistême”, “phronesis” e “Sofia”. Segundo a tradução desgastada eles significariam respectivamente: “arte”, “ciência”, “prudência” e “sabedoria”.

O “como” as pessoas têm acesso à vida se mostra como um “descobrir” a vida. Isto é, des-cobrir. O des-cobrir abre a vida para que a vivenciamos. Assim, Heidegger traduz os termos gregos como os quatro modos de descobrir a vida no viver. “Proceder técnico produtivo” – (Techné), “determinação que observa, discute e demonstra” – (Epistême), “descobrir que mostra a vida em seu mostrar-se” – (Phronesis) e “compreensão propriamente intuitiva” – (Sofia).

Voltamos a “língua de Caetano”. Ela “des-trava” a nossa própria língua enquanto língua portuguesa, ao construir um sentido que não é só melodia, mas também filosofia. Ela executa o mesmo procedimento que Heidegger faz com os termos gregos. Re-interpreta. Porém, faz isso com o sentido das palavras, tanto enquanto letra da canção, tanto quanto em relação à própria “levada” da melodia. Há a superação da separação entre forma (harmonia) e conteúdo (letra). Estão unidas em prol da circulação do sentido. Caetano heideggeriano faz a canção filosofar...

Jayme Camargo da Silva – PUCRS/CNPq