Esse é o preciso momento de questionarmos as nossas misérias. Nosso precário desenvolvimento educacional. Nosso ridículo índice de desenvolvimento humano. Brasília é uma ilha em chamas. As atividades tragicamente suspeitas do comandante do senado desencadearam um processo de desabrochar das feridas dos integrantes do parlamento. É hora de nos questionarmos, por exemplo, acerca de nossa (in)segurança pública. Deveria ser lógico. Aliás, é exatamente esse o nosso problema enquanto brasileiros. Não enxergamos a obviedade do vinculo entre nossos parlamentares e nossos defeitos estruturais. Nesses momentos de nossa história, como também o fora, por exemplo, o impeachment do senador Collor, é tempo de sermos cidadãos. Isto é, olharmos às nossas feridas enquanto nação, e compreende-las como a extensão de nossas feridas individuais - manifestas simbolicamente em nossos representantes. As atitudes e atividades de nossos senadores refletem essencialmente o nosso lado mais sombrio. Quiçá por essa razão não visualizemos o nexo referido. Vincular a nossa preocupante taxa de pobreza, portanto, com a postura de nossos dirigentes – significa assumir a nossa responsabilidade. Ou seja, a ratificação que damos para que aconteçam crimes como o do já esquecido menino “João Hélio”. Talvez, as “penas mais duras”, que pedimos às autoridades quando do acontecimento dessas tragédias, devessem ser dirigidas aos nossos dirigentes. Aos nossos parlamentares, que passeiam com diárias públicas, empregam seus parentes e, como implicação, asseguram que se abra um fosso social cada vez maior entre os mais ricos e os mais pobres. O preço que pagamos é a violência. Poderia-se tranqüilamente denominar a nossa política como a “politica da criminalidade”. Nossos políticos, enquanto isso, batem-boca e manifestam suas imensas fragilidades de caráter. A impressão que dá, quando olhamos para Brasília, é que apenas quando desaparecer toda uma geração de políticos é que conseguiremos algum progresso. Ou, quem sabe, quando nascermos de novo e tivermos desconfiança de nossa responsabilidade e cidadania. “Eles”, a parcela mal-feitora do planalto central, somos nós mesmos. O problema é que reservamos as “penas mais duras” sempre para os outros. É essa, infelizmente, a nossa condição.
Jayme Camargo da Silva
Jayme Camargo da Silva
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