quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Do “barraco” dos aflitos à decisão do Brasileirão 2009 – o Grêmio e um destino.


O campeonato brasileiro de dois mil e nove chegou a última rodada. Certame que se notabilizou pela irregularidade dos times, possui em Flamengo, Internacional, Palmeiras e São Paulo a possibilidade de sagrarem-se seu campeão. Minhas justificativas para defini-lo como um campeonato irregular, têm como referência o time que terá a missão de fazer a final do campeonato junto ao Flamengo, ou seja, o Grêmio Porto Alegrense. O Grêmio é o time mais medíocre do campeonato. Um leão atuando em seus domínios – o temível Olímpico Monumental – o mesmo não passou de um gatinho assustado quando jogou fora. O medíocre termina sempre no “medículo”. O surreal começa a se dar, ao olharmos para as estatísticas do campeonato, e verificarmos que o Grêmio é o melhor ataque da competição. Sim. Nenhum outro clube foi tanto às redes quanto o tricolor da Azenha. O Grêmio pela primeira vez em um campeonato de pontos corridos não perdeu nenhum jogo em seu estádio. Bateu, por exemplo, Atlético-MG, Cruzeiro, Palmeiras, Internacional e Flamengo. Dos melhores ranqueados só não ganhou do São Paulo jogando no Olímpico. Qualquer um desses cinco times, porém, são melhores que o Grêmio no conjunto e nas individualidades técnicas. Tal superioridade acontece a partir de presenças como as de Diego Tardeli e Ricardinho (Galo), Gilberto e Kleber (Cruzeiro), Diego Souza e Wagner Love (Palmeiras), D'alessandro e Juliano (colorado) e Adriano e “Pet” (Flamengo). O tricolor gaúcho tem apenas dois gols sofridos a mais que o São Paulo, detentor da melhor defesa do campeonato. Como destaque, ainda, referimos o fato de Cruzeiro e Atlético terem sofrido quase dez gols a mais que o Grêmio. Alguém dirá, é obra de Vitor, tranqüilamente o melhor goleiro do campeonato, entretanto não se pode creditar apenas ao arqueiro a impossibilidade de se ter as redes vazadas. O campeonato é irregular mesmo. Nenhum clube se impôs ao longo de toda a competição - como Cruzeiro e São Paulo fizeram outrora. Muitos subiram, como o Palmeiras, mas não tiveram subsistência para confirmar a arrancada e garantir o caneco. Nesse caso, inclusive, a queda revelou mais uma vez o nivelamento por baixo, vez que o Palmeiras ao arrancar foi dito como o virtual campeão, sob a singela razão do tri campeão Muricy Ramalho ser o seu comandante. Pois vimos esse ano até mesmo Muricy ser “des-comandado”. Um campeonato medíocre em seu nível só poderia ter seu futuro decidido pelo mais medíocre de seus figurantes. Voltamos ao tricolor gaúcho. Pois o Grêmio ganhou apenas uma partida fora do sul. Do pornográfico Náutico, time que parece fadado a ser a “Geni” dos tempos modernos para o tricolor gaúcho. Os aflitos, como diria o Juremir Machado, sempre esteve mais para um “barraco” que para uma “batalha”. Como sabemos que o cotidiano existe sempre na interpretação que a coletividade dele o faz, solidificou-se como uma batalha. Acho que tal fato foi um pouco prejudicial ao Grêmio. Glorificaram-se alguns pernas-de-pau. Idolatraram-se alguns medíocres. E quiçá por isso passou-se a comemorar “vices”, “vagas” e afins. No futebol o “quase” é o mesmo que a presença do nada. Enfim, talvez “2000 e love” encerre um ciclo gremista que começa no “barraco” da segunda, e se estende até a decisão do campeonato deste ano. Enquanto medíocre, o Grêmio decide já sabendo que “o nada” levará. Decidir pelos outros é como “pegar à gatinha” usando o charme de outro. Por acaso, porém, o destino quis que o Grêmio tivesse um singelo interesse na “gata” deste ano. Joga contra o Flamengo, que chega à partida como primeiro colocado, e que garante o título com uma vitória simples. Detalhe, deixa como vice campeão seu arqui rival, o Internacional de Porto Alegre. Ou seja, o Grêmio garante o campeonato ao Flamengo, deixando o colorado com o “quase”, com uma derrota simples. Puxa vida, que situação! Quase como um tutor do destino do campeonato, o tricolor gaúcho se apresenta como o detentor da guarda da tão cobiçada taça. Aliás, que o diga o Flamengo, que não há trinta anos como o colorado gaúcho, mas a dezessete não consegue leva-la para casa. E o Grêmio, entrega ou não entrega? Acho simples. Analisemos o passado recente do colorado em tais circunstâncias. O Inter decidia o rebaixamento do Corinthians contra o Goiás, e não hesitou em não-vencer e condenar o timão à segunda divisão, como “paga” pelo campeonato fraudulento que o Corinthians vencera outrora. O “Zveitão”, como ficou conhecido, devido a manobra de Luiz Zveiter, um “cartola” altamente suspeito que anulou os jogos em benefício do timão. Temos, ainda, o time de reservas do colorado no enfrentamento com o São Paulo, na reta final do campeonato de 2008, cujo título o tricolor paulista disputava com o gaúcho. Nesse horizonte, temos um modelo. E ele diz que a ética de um clube de futebol tem compromisso apenas com o afeto de seus torcedores (a maioria). Sim, sabemos, os dirigentes não podem ser passionais, pois em uma “era dos mercados” como a nossa, devem a responsabilidade pelas contas e negócios do clube. Entretanto, todo dirigente começou como um “torcedor”. Alguns poucos torcedores se profissionalizam, e assim se transformam em “dirigentes”. Mas a passagem do vínculo ocorre do torcedor para o dirigente. Dessa forma, é o sentimento afetivo dos torcedores a essência de um clube de futebol. É a sua aura, a sua alma, a sua pulsão de vida. Os homens cotidianos enquanto torcedores, permitem-se a paixão verdadeira de Homens cotidianos ali completamente “abertos”. Quem já experimentou pedir um “cigarrinho” amigo a um sujeito no jogo de futebol? Se o time está ganhando, ele dá pela felicidade compartilhada, se está perdendo ele dá pela união na angústia. O estádio é um grande “cimento social”, como diz Maffessoli. É um casamento na saúde e na doença. Talvez o único casamento eterno que um sujeito possa se comprometer. Por isso os clubes devem a sua existência a tal conjunto de paixões. Assim o colorado agiu. Creio que o Grêmio agirá também. Todos aprenderão. O tempo continua fazendo com o que o mundo dê voltas. O Internacional sofrerá de seu veneno de outrora, aprenderá que Nilmar “custa” caro na “decisão”, e que um vestiário muito tempo raxado também. O Grêmio se de fato estiver encerrando um ciclo, que não apenas o do “lento” capitão Tcheco, talvez aprenda a ser gente grande ao sair de casa para voltar a vencer. Se “quem sempre quer vitória perde a glória de chorar”, então restará aos clubes da província cantarem com Camello e lamberem às feridas do centenário ano do clássico grenal.

Jayme Camargo da Silva.

Um comentário:

  1. Gostaria de lembrar que contra o São Paulo no Morumbi, em 2008, o Inter colocou este time para jogar: Lauro; Angelo, Álvaro, Bolivar, Marcão; Edinho, Sandro, Guiñazu, Alex; Taison e Walter. Longe de ser um time considerado reserva. E contra o Goiás, no ano em que o Curintia foi rebaixado, Clemer pegou duas cobranças de penalti, e só na terceira a bola entrou....

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