"Amar não é apoderar-se do outro para completar-se,
mas se dar ao outro para o completar.”
Fernando Pessoa
(Não) somos responsáveis por aqueles que cativamos?
Pois é, eu, Juju e otros(as) brincamos que o nome do grupo seria coesão. Leia-se, “co-e-são”. Mas o “e” deve ser lido de maneira fraca. Quase um “co-i-são”. É um bom nome para um grupo de amigos. Lugar onde às coisas devem ser feitas com coesão. Ademais em um encontro de pessoas que não têm algum objeto como fundamento de tal encontro. Isto é, não há algo na realidade que seja a essência do laço de tais pessoas. Não somos todos advogados, biomédicos, fisioterapeutas, psicólogos, arquitetos, ou, qualquer profissão que o valha. Não somos todos de um time só, ou seja, somos gremistas e colorados. Não somos todos de esquerda, ou de direita, mas todos minimamente politizados. Não temos uma identidade só. Poderia sintetizar assim. Estamos jogados na diferença. E essa propriedade representa sempre coisas concretas. Neste caso relações concretas. Se fossemos nos candidatar para algo, quiçá nosso slogan fosse: “concretude e co-e-são”! Não desejamos. Ainda. Depois do findado deputado Clodovil, se espera qualquer coisa da política tupiniquim. Deixemos de lado as mazelas do poder, pois o assunto é de potencial no “co-e-são”. Falávamos da diferença que nos funda. Diferença existencial. Percebida em nossas práticas, corroboradas pelas nossas estórias. Sempre me sentia deslocado, nos grupos que freqüentava, pois costumeiramente eram os sujeitos todos iguais. Surfistas, filhos de famílias “american way of life”, apaixonados pela acadêmia e manutenção do corpo. Não tinha como eu não significar a diferença. Talvez, por vezes, como fruto da sensibilidade mais tosca, “o diferente”. De fato, a diversidade impede o conforto da unidade. Nenhuma mágoa em jogo. Encontrei a minha turma. E nossa “acadêmia” é outra. Enfim, a diferença também implica a discordância sobre alguns assuntos. Estávamos, cadu, eu, juju e “primaninha”, quando surgiu a seguinte questão: “somos responsáveis por aqueles que cativamos?”. O tema surgiu, talvez, fruto de alguns acontecimentos recentes na vida de alguns. Mas surgiu de forma in-consciente. Pois estávamos etilicamente abstratos ao chegar nesse ponto. A questão se apresentou com envergadura. Discordamos dois à dois. Antes de relatar às posições, melhor esclarecer o sentido da questão. Nos indagávamos se há responsabilidade quando um sujeito se apaixona, ou gosta de outro, e faz nesse outro nascer um sentimento. Há responsabilidade para esse sujeito com relação ao sentimento brotado? Afinal, aplicando a “eterna” fórmula de Saint-Exupéry, às relações entre pares, se confirma ou não à responsabilidade defendida pelo pequeno príncipe? Primaninha e “montezuma” (cadu) julgaram que não há dita responsabilidade. Juju e eu sustentamos a sua existência. O argumento deles é forte. Defendem que não há independência entre as partes quando somos responsáveis pelo sentimento do outro. Sem independência acaba faltando oxigênio. E sem o ar não respiramos. É fato, ser responsável pelo sentimento do outro não pode significar cobranças oriundas de nossas carências. Devemos trazer o “minimo existencial” constituinte de nossa individualidade, para que no cotidiano “ser-com” o outro, possamos ter a posse da própria vida e melhor aproveitar a conjugação dos mundos. Entretanto, eu e juju não ficamos atrás. Sustentamos que quando se vive à abertura ao coração, o outro merece nossa responsabilidade dada à reciprocidade em tal abertura. Se o outro está se abrindo exatamente pelo que está sentindo, então o vínculo está formado. Ensejamos à abertura no coração do outro a partir do sentimento que nos é dirigido. Ou seja, há uma parte da estrada de um no caminho do outro. É muito fácil cairmos da individualidade no individualismo. Aliás, é uma humana inclinação. Ter o “mínimo existencial” de responsabilidade com o sentimento do outro, parece um importante critério de regulação dessa queda. Senão corremos o risco de cair no “vale-tudo”. E quem cai neste tipo de “luta” termina levando chute-na-cara. Talvez tão doloroso quanto levar o pé-na-bunda. Tão doloroso enquanto sentimento que se dá quando o outro não se responsabiliza por nós. Aquelas situações em que o outro age conosco, como se fossemos apenas “mais um(a)”. Mas se eramos especiais, por que não respeitar o espaço cativado? Indaguemos uns aos outros, somos ou não, afinal, responsáveis por aqueles que cativamos? Está mais uma vez re-lançada a demanda. E você, já se perguntou o que significa cativar?
Jayme Camargo da Silva
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