O provincianismo dominante em Porto Alegre
Na província de Porto Alegre se o sujeito não é bonito, rico, da RBS ou com um sobrenome que revela uma família tradicional na ascendência está fodido. Não tem acesso as coisas boas. Se não é bonito, então lhe falta sexo. Se não é rico, faltam as mercadorias de qualidade. Se não é da RBS, ninguém lhe enxerga. O sobrenome garante um CC no tribunal de (in)...
Na província de Porto Alegre se o sujeito não é bonito, rico, da RBS ou com um sobrenome que revela uma família tradicional na ascendência está fodido. Não tem acesso as coisas boas. Se não é bonito, então lhe falta sexo. Se não é rico, faltam as mercadorias de qualidade. Se não é da RBS, ninguém lhe enxerga. O sobrenome garante um CC no tribunal de (in)...
justiça ou algo nesse sentido. Quando venho com esse argumento, sempre tem um chato para retrucar: “é assim em todo lugar”. Talvez seja. Entretanto, como sou natural da província é lá que posso perceber e descrever o fenômeno. Quando um ex-provinciano como eu começa a conhecer outros lugares, essa condição reluz no imaginário. Reafirmo: o conhecimento de outros locais faz com que você enxergue o seu local de origem de um modo mais preciso. É a grande lição que o cosmopolitismo pode assegurar. Lembro com nostalgia uma noite em idos de 2006 que o velho amigo Marcelo Giulian, com a sagacidade costumeira caracterizou-me como um cosmopolita que nunca havia saído da província. Faltavam recursos. Sobrava a fome pelos livros. Enquanto não viaja pelos céus do Brasil, assegurei-me de conhecer as coisas através das viagens que a literatura proporciona. Foi ótimo o curso em que as coisas aconteceram. A leitura me possibilitou a escrita. As recentes viagens à confirmação de que a província é de fato provinciana, ou seja, em geral um lugar fechado. Um lugar no qual as pessoas em geral saem apenas para encontrar quem elas já conhecem. Um lugar que se orgulha de uma revolução esfarrapada de burgueses safados, escravagistas e loucos pelo lucro oriundo do charque. E que fique claro a regra do jogo social provinciano: ou você é isto ou você é aquilo. Deus o livre não pertencer apenas a uma tribo. Deus o livre ter muitas coisas diferentes constituindo a sua subjetividade. A diferença e o novo geram a desordem no imaginário dualista dos provincianos. É necessário cultuar o padrão. Seguir o padrão. Ser “normal”. E ficar bem quietinho para não contestar o status quo vigente nas pequenas cabeças provincianas. Vão me chamar de ressentido. Me junto a um de meus amigos e mestre, Juremir Machado da Silva, que também é por vezes taxado dessa forma. É o preço de quem não se cala na provocação constante dos provincianismos ultrapassados. Ademais, não sou bonito, mas tenho uma namorada linda que me ama. Não sou rico, mas estudei o suficiente para ter uma carreira que me garanta financeiramente. Não sou da RBS e agradeço por poder debochar livremente de figuras “midíocres” como Lasier Martins e outros que tais. Orgulho-me de minha família. Aliás, para os que se sentirem agredidos, é hora de repensar suas práticas e investigar uma possível mente fechada. Para os outros, vamos rir e debochar de nossas mazelas originais e originárias.
Jayme Camargo da Silva, Rio de Janeiro, 01/11/2012, 04 e 11 da manhã.
Jayme Camargo da Silva, Rio de Janeiro, 01/11/2012, 04 e 11 da manhã.
sou daqui do portinho, e sei muto bem do que tu esta falando....é bem assim mesmo. Uma dualidade absurda, uma bipolaridade besta, ou isso ou aquilo. Sim! somos bipolares!
ResponderExcluirConcordamos! :-)
ResponderExcluir