sexta-feira, 2 de março de 2012

Do sushi ao prato feito

ao querido amigo Felipe Pimentel,
pela luminosa nobreza de alma.

Do sushi ao prato feito.

Meu sábado começou não sei se preguiçoso ou se covarde. Começou tarde. Quem faz samba ou amor normalmente se estende até mais tarde. Chico tinha que ser o poeta a musicar tal estado de espírito. Quem sabe esse estado de fato. Entre delongas e demoras havia tido um pé-palito na noite anterior. O samba... Depois de uma concentração na sacada feliz, a noite anterior propiciara uma dionisíaca festa. Grandes amigos reunidos garantem o desempenho do êxtase coletivo. E foi geral. Todo o grupo se jogou e dançou até o chão. Pois passaram por esta festa as razões da extensão da cama no sábado.

Juju e prima combinaram de almoçar. Ligaram-me por volta das 14 horas e eu ainda julgara impossível sair de casa. O amor... Disseram-me que almoçariam no “equilíbrium”. Restaurante natureba que fica próximo à Redenção. Fiquei baixado na sacada feliz até as quatro e meia da tarde. As meninas acabaram indo para a Padre Chagas (vulga calçada da fama). Estavam tomando um café no Z café quando eu me comuniquei. Programa chique. Em um nublado sábado que se anunciava chuvoso na província. A fama da calçada é inversamente proporcional à veracidade subjetiva de boa parcela das relações que lá se dão. Exatamente por isso a prima e a ju nada tinham a ver com essa carente estrutura. Já ouvi dizer que tal quadrilátero urbano é dos mais carentes da província. Carência, no caso da fama, deve se ligar ao fato da enorme quantidade de psicanalistas que lá estão.

Voltemos à verdade da calçada que naquela tarde residia em juju e priminha. Elas estavam lá dadas às qualidades do serviço. De fato, o alto PIB quase sempre garante a qualidade e o gabarito do serviço. As meninas passaram, pois, para me resgatar. Ao chegarem, relatei que não havia rangado ainda. Isto significava que o gordinho jejuava a mais de doze horas. Uma fome incomensurável. Minha pilha era comer uma alaminuta na Lancheria do Parque. Estava prestes a chover, a temperatura estava alta e a sensação térmica péssima, isto é, muito quente e abafado. Depois de uma deliberação entre eu, juju e prima, a lanchera foi vetada pelo calor. Eram cinco da tarde. Onde eu iria desjejuar? Pouco antes de partirmos, o que fora um dia nublado passava a ser um dia chuvoso.

Lembrei de uns botecos na Andradas que preparam uns pratos na hora. O almoço das maravilhosas amigas não havia sido no equilibrium. As meninas haviam almoçado sushi no Dado pub, ou seja, estavam no luxo da fama desde cedo. E eu louco por uma fritura no melhor estilo “junkee food”. Escolhemos um daqueles barecos que até climatizado era. Não passaríamos calor enquanto eu caísse no meu bife à parmeggiana com fritas, arroz e um caseiro feijãozinho. Só eu pedi comida, uma vez que as garotas estavam previamente “sushiadas”. Porém, não saciadas... Depois de uns vinte minutos aportou um bonito e cheiroso prato em nossa mesa. Elas que degustavam apenas sucos naturais ficaram tentadas às batatas fritas. E assim provaram. E aprovaram. Mesmo para quem havia saído da fama, aquela apetitosa refeição se mostrou como um desejo. E não hesitaram. Chamaram à atendente e imediatamente pediram um prato daqueles para ambas. Pensei, puxa vida, o sushi não se apresentou com substância. Talvez tenha sido apenas o prazer de um alimento que elas gostem. Mas se mostrou insólito em sua consistência. Ficou essa questão, será os sushis da calçada um símbolo da inconsistência antropológica da “fama”?

Jayme Camargo 2009/2012

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