Se não formos capazes de viver
inteiramente como pessoas,
ao menos, façamos tudo para não
viver inteiramente como animais.
JOSÉ SARAMAGO
Polícia para quem precisa de polícia (facadas na “Redenção”).
Eu estava no parque da Redenção tomando um chimarrão em um fim de tarde da primeira semana de julho. Presenciei a abordagem de dois agentes da Brigada militar a dois jovens que supostamente fumavam maconha. Os jovens eram aparentemente socialmente viáveis. Não era necessário mais que um mediano bom senso para perceber que eles não eram “bandidos”. Os brigadianos estavam de bicicleta. Abordaram os jovens cada um com uma das mãos nas respectivas armas. Poucos dias depois, mais precisamente no dia 4 de julho, um jovem de 16 anos foi morto a facadas no mesmo parque da Redenção. Há poucos metros do local onde eu havia presenciado a batida nos jovens. Segundo a agência Folha de SP, o crime ocorreu por volta das 19h30min. Na última segunda-feira (12 de julho) fui fazer o fitness na Redenção. Entrei no parque pelas proximidades do viaduto da Rua João pessoa. Os brigadianos da ocorrência descrita estavam fazendo a mesma abordagem em outros três jovens. Com todo o respeito que um agente de segurança pública merece, resolvi observar: “semana passada mataram um menino a facadas aqui no parque, vocês não deveriam estar protegendo a Redenção desse tipo de violência?!”. E um dos agentes redargüiu: “eu não tava aqui, eu tava em casa”. Fiz minha última observação –“eu também estava em casa, pois tenho medo de vir para o parque, na medida em que a Brigada fica pré-ocupada com jovens que supostamente estão fumando maconha e permite que outros jovens sejam mortos a facadas.”. No direito temos algo que se chama “bem jurídico”. É o que cada lei penal busca proteger. Alguém que mata, por exemplo, desrespeita o bem jurídico vida. Alguém que rouba o bem jurídico patrimônio. Isto é, a política criminal de um estado (também) aparece para a população na relevância que o estado e seus agentes dão para cada bem jurídico. Não quero concluir que o posto da Brigada militar no parque da Redenção serve principalmente para fazer “termos circunstanciados” para usuários de maconha. Enquanto isso pessoas ficam mercê dos verdadeiros bandidos que destroem a vida com “facadas na Redenção”. É uma questão de prioridade. Toda escolha é uma renuncia. Assim, espera-se que os agentes estatais não renunciem à vida das pessoas em nome do vício. A atuação viciada implica o custo de vidas.
Jayme Camargo
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