Vitor Ramil, Edu K e os gaúchos (con)gelados no medo
de se expor.
Domingo fui ao show no
Araujo Viana. O domingo no parque estava maravilhoso. Puro groove da melhor
qualidade. A reunião de Tonho Crocco, Funkalister, Luis Wagner, Paulo Dionísio,
Andréia Cavalheiro, Edu K só poderia garantir o mel do melhor. Ao entrarmos no
Araújo sugeri que fossemos para o lado esquerdo do palco onde alguns poucos
estavam assistindo o show em pé, dançando. Ora, com essas joias a Black music
invadiu meu corpo e não me fez querer ficar sentado. Talvez porque eu seja
crioulo e quando olhava de relance para a plateia via um Araújo caucasiano e
sentado. Talvez não. Conheço muitos brancos que dançam tais como os que estavam
lá no cantinho curtindo o show sem medo de ser feliz. Creio que esse seja o ponto.
O medo de ser feliz. A galera na província anda deveras preocupada com o que os
outros pensam e vão falar sobre si. E como aqui é uma cidade grande pequena, ou
seja, na qual todo mundo se conhece e se intromete (tal como eu ao escrever
esse texto), fica todo mundo comportado mesmo que o desejo seja o extravaso.
Enfim, quando Edu K subiu ao palco sua primeira fala foi: “aí, galera, vamo se
levanta, vamo se divertir é hora da chalaça!”. Não adianta, normalmente a
maloqueiragem assegura uma vibrante presença de palco. Não à toa Edu K desceu
do palco e enlouquecido subiu nas estruturas do Araújo no primeiro momento catártico
do show. A partir daí a coisa vibrou com mais intensidade. Ontem fui ao show do
Vitor Ramil no salão de atos da reitoria da UFRGS. Bem, se no Araújo que a
coisa tinha tudo para ser naturalmente mais maloqueira e não foi, imagine na reitoria
para um show mais intelectual e com a “crasse” média universitária da federal?!
O show não começou gelado, começou congelante. O maravilhoso Vitor Ramil com a
sua categoria musical e a queridês de sempre, ao tocar “Estrela, estrela” não
deixou de observar. Ninguém cantarolou junto uma música que, normalmente, ele
nem precisa cantar, pois o público leva a melodia com a sua cantoria. Na mesma
hora me lembrei das inúmeras vezes que havia o visto tocar no próprio salão de
atos essa canção, e o quanto havia sido de plenitude a sinergia entre músico e
plateia. No mesmo horizonte de Edu K, Vitor pediu que o público semi-moribundo
viesse a se manifestar. E a partir daí o show fluiu com mais sangue, mais vida,
pois tal é a condição da música, isto é, nos retirar do marasmo existencial que
por vezes o nosso cotidiano muito racional nos afunda. Porto Alegre parece
precisar menos lulu e mais Lulu, o “Santos”, ao passo que “vamos nos permitir,
pois não há tempo que volte amor, vamos viver tudo que há pra viver...”!
Jayme C.
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