Laboratório da vida: beijos e fim
no Zelig bar.
Fui
apaixonado por uma garota. Ela era linda, inteligente e descolada. Gostava de
beber, dançar, se divertir, e era neurocientista. Foi uma mistura deveras
complicada para o meu calejado coraçãozinho naqueles idos em que aconteceu.
Interessante é que hoje em dia me questiono se me apaixonaria novamente por
ela. Entretanto, escrevo essas reminiscências porque o sentimento daquele tempo
foi deveras dominante. Ela tinha amigas muito queridas que, aliás, ficaram
amigas do grupo de amigos do meu lado. Fizemos uma mistura de tribos. Tomamos
tragos homéricos. Dançamos noites a fio. Batemos papos incríveis. E em uma
oportunidade única – ficamos. O nosso grupo que foi ao encontro dessa garota e
dos seus era um grupo muito legal. Brinquei à época que era a mistura do
laboratório da neurociência com o laboratório do cotidiano. Lembro com uma
memória terna o domingo em que ficamos. Era um domingo quente. Estávamos
transpirados, pois juntos desde o mate da tardinha. Era um suor de quem dividiu
as horas e assim registrava o vivido daquela vivência. Havíamos ido a um café
ao anoitecer e ali começamos a etilizar aquele domingo. Estávamos perto da casa
de seus pais, onde ela passara vários anos, e eu me sentindo cada vez mais
próximo e encantado pelas suas qualidades. Alguns de seus amigos dividiram essa
parte do domingo conosco e nossa sinergia foi espontânea e natural. Terminamos
no Zelig bar, ou melhor, começamos e terminamos no Zelig. Bebemos, dançamos e
nos beijamos. Pelo que me recordo, senti naquele momento uma felicidade
fulgurante. Nunca mais ficamos e lembro como foi difícil ter ficado só aquela
vez com ela. Durante um tempo ficou um vazio. Era impossível ser apenas seu
amigo. Eu desejava o seu sorriso, seu corpo e sua alma. Escrevi meu melhor
poema de amor não para ela, mas para a dor que me atravessou. Ela partiu, nunca
mais voltou, porém está tudo certo. O tempo, elemento comum à memória e ao
cotidiano, sempre se encarrega de consumir com o que passou e projetar novas
felicidades. Assim sendo, o laboratório da vida continua “ensaiando” novas
possibilidades. Basta não ficar no tubo.
Jayme C. / 2013
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