quinta-feira, 4 de abril de 2013

laboratórios



Laboratório da vida: beijos e fim no Zelig bar.
Fui apaixonado por uma garota. Ela era linda, inteligente e descolada. Gostava de beber, dançar, se divertir, e era neurocientista. Foi uma mistura deveras complicada para o meu calejado coraçãozinho naqueles idos em que aconteceu. Interessante é que hoje em dia me questiono se me apaixonaria novamente por ela. Entretanto, escrevo essas reminiscências porque o sentimento daquele tempo foi deveras dominante. Ela tinha amigas muito queridas que, aliás, ficaram amigas do grupo de amigos do meu lado. Fizemos uma mistura de tribos. Tomamos tragos homéricos. Dançamos noites a fio. Batemos papos incríveis. E em uma oportunidade única – ficamos. O nosso grupo que foi ao encontro dessa garota e dos seus era um grupo muito legal. Brinquei à época que era a mistura do laboratório da neurociência com o laboratório do cotidiano. Lembro com uma memória terna o domingo em que ficamos. Era um domingo quente. Estávamos transpirados, pois juntos desde o mate da tardinha. Era um suor de quem dividiu as horas e assim registrava o vivido daquela vivência. Havíamos ido a um café ao anoitecer e ali começamos a etilizar aquele domingo. Estávamos perto da casa de seus pais, onde ela passara vários anos, e eu me sentindo cada vez mais próximo e encantado pelas suas qualidades. Alguns de seus amigos dividiram essa parte do domingo conosco e nossa sinergia foi espontânea e natural. Terminamos no Zelig bar, ou melhor, começamos e terminamos no Zelig. Bebemos, dançamos e nos beijamos. Pelo que me recordo, senti naquele momento uma felicidade fulgurante. Nunca mais ficamos e lembro como foi difícil ter ficado só aquela vez com ela. Durante um tempo ficou um vazio. Era impossível ser apenas seu amigo. Eu desejava o seu sorriso, seu corpo e sua alma. Escrevi meu melhor poema de amor não para ela, mas para a dor que me atravessou. Ela partiu, nunca mais voltou, porém está tudo certo. O tempo, elemento comum à memória e ao cotidiano, sempre se encarrega de consumir com o que passou e projetar novas felicidades. Assim sendo, o laboratório da vida continua “ensaiando” novas possibilidades. Basta não ficar no tubo.                       
Jayme C. / 2013

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