quarta-feira, 20 de julho de 2011

O vazio e a saudade


O vazio e a saudade: palavras ao (meu) lado.
Vivi uma calmaria afetiva e achei ruim. Nenhum acontecimento significativo e relevante. Tempo de nenhum amor e nenhuma saudade especial sendo sentida. Achava ruim não ter de quem sentir saudade de verdade. Vivi durante um tempo assim. Sem ter alguém que me fizesse idealizar estar junto. Sem ter alguém que fosse a primeira pessoa que lembrasse quando o acaso trouxesse uma novidade. Vivi assim e senti um pouco do vazio. Acho que é isso que se sente quando não se tem alguma relação de amor. O amor é o critério de aparecimento do vazio em nossas vidas. Depois de um tempo e em alguns casos até nos acostumamos com a sua companhia. Algumas vezes acabamos namorando o vazio, cansados da inconsistência e falta de substância de nossos ex-pares soltos por aí. Não percebemos que normalmente é com o “ex” de alguém que nos envolvemos. As pessoas e seus passados. Suas biografias e trajetórias. Muitas vezes acontece a ironia da história. Quando um ex que deixou o vazio para alguém se transforma em nosso principal afeto. Todo mundo deixa de ser vazio em algum momento. A vida pode até demorar, mas ela normalmente dá essa possibilidade. No tempo do amor o vazio é quase sempre substituído por um sentimento de plenitude. Se há alguém há de quem sentir saudade. É o preço de não ter o vazio. A vida nos retira do marasmo afetivo, mas às vezes nos coloca em outra condição. Na situação de amar alguém e esse alguém nos amar, porém não podendo estar juntos. Não dividindo o cotidiano. Não o tendo ao lado nas noites de chorar. Não dividindo as pequenas surpresas e fantasias que as vivências nos colocam. Não tendo o sorriso amado para compartilhar. Nesses casos trocamos o vazio pela saudade. E acabamos trancados. Não há dor maior para alguém que ama que despedir-se de seu amor sem saber quando irá revê-lo novamente. E a incerteza de não saber se um dia haverá dia-a-dia?! Parece impensável amar, ser amado e não amar. Sentir saudade do vazio. Cansar de não ter seu amor ao lado. O lado do amor deveria sempre ser ao lado do ser amado. Parece que se esqueceu de avisar a vida, que se esqueceu de despertar os deuses. Acorda, amor, eu tive um pesadelo agora, sonhei que não estavas junto a mim. É sempre melhor acordar – amado.
Jayme Camargo da Silva

2 comentários:

  1. Muito bonito. E me tocou especialmente por eu estar num momento que não suportar a saudade, querer o vazio, e ao mesmo tempo temer o período transitório entre estes dois estados - quando passamos da dor do ex-amor ao reconforto de estar consigo mesmo. De qualquer forma, tuas palavras são um alento. A arte talvez seja o maior - ou o único - deles. Beijos!
    Giu

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