A revolução esfarrapada
e o hino nos estádios
Faz algum tempo que se toca o hino do RS antes das partidas de futebol.
Faz também algum tempo que me chama a atenção a hipnose e o transe coletivo que
esse momento gera nos gaúchos médios. Cantam como se o retratado no hino fosse
a mais gloriosa das revoluções. Acreditam que o orgulho de ser gaúcho deriva
desse portal das virtudes que é a revolução esfarrapada em seus imaginários. Os
gaúchos médios são a maioria nos estádios após a sua elitização. São os mesmos
que acordam ouvindo e acreditando na Rosane Oliveira, almoçam com Lasier
Martins, veneram a Cia Zaffari, são contra as cotas na universidade pública,
contra médicos cubanos para atender aos pobres (dado que contam com a segurança
da Unimed), defendem a redução da maioridade penal. Ou seja, são conservadores. Tal
como os escravagistas e loucos pelo lucro oriundo do charque que levaram a cabo
a tal revolução. Desse modo, o eterno retorno do mesmo parece confirmar a
representação do passado em nosso presente bandido disfarçado de libertário.
Falam do RS como se fosse à terra prometida. Quem nunca ouviu por aí algum
gauchão tradicionalista sustentar: “aqui no Rio grande é diferente!”?! Durante
duas semanas em setembro ficam acampados em um parque chamado Harmonia, porém
acham uma barbaridade quando se acampa na Câmara municipal para se protestar
por melhorias. Harmonia desde que não apareça a diferença, na medida em que lá
é proibido que pessoas homoafetivas manifestem a sua liberdade na semana
esfarrapada. O que acho mais inoportuno é quando vejo crianças reproduzindo
esse comportamento no horizonte das atitudes dos pais. Quiçá o hino esteja
certo em um ponto: “povo que não tem virtude acaba por ser escravo” do destino
enquanto pré-conceito.
Jayme C.
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