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espiritismo e amizade
Um anjo chamado Roberto (crônica sobre espiritismo e amizade)
Um dos queridos amigos da faculdade de Direito se chamava Roberto
Peruzo Barbosa. Era mais conhecido como Beto ou Betinho. Tínhamos um
grupo de amigos que sentava ao fundo da sala e Beto era um dos nossos.
Muito embora ele transitasse com tranqüilidade em todos os nichos
antropológicos da turma. Ou seja, Beto se relacionava bem com todos, dos
pretensamente intelectuais e comunistas às patricinhas de pele laranja.
Tinha grandes amizades de longo tempo em sua vida. Acabei me
aproximando de seus amigos, na medida em que em algumas oportunidades
joguei bola e dei algumas bandas com eles. Eles sempre me trataram com
carinho e sem preconceitos, muito embora fossem da elite provinciana;
algo que me fez pensar como o preconceito por vezes se disfarça mais de
hippie do que de Hilfiger. Betinho era um porto seguro de qualidades.
Era bonito, muito inteligente, generoso, rico e desapegado. Foi
certamente o sujeito da turma com maior sucesso afetivo com as colegas.
Tinha de fato inúmeras virtudes e não dava bola pra elas. Lembro com
nostalgia ele sentado ao meu lado na sala de aula e dizendo: “Jayminho,
tens que te superar a cada dia, a vida nos exige constante
crescimento...”. Beto foi o primeiro a me chamar do modo como meus
grandes amigos passaram a fazer. Ele faleceu em um melancólico sábado
chuvoso véspera do dia das mães de 2007. Fiquei muito triste com a perda
daquele amigo maravilhoso.
Semanas depois comecei a fazer o
fitness na Redenção totalmente motivado pelo problema cardíaco que havia
levado Beto embora. Em uma dessas manhãs de fitness no parque me
encontrei com a sua mãe. Ela me olhou, nos abraçamos e choramos. Ela
falou e mudou a minha vida: “O Beto gostava muito de ti. Muito mesmo.
Tua influência fez com que ele se aproximasse mais da literatura. Além
dele ser grato pela ajuda na monografia”. Aquelas palavras mexeram muito
comigo. Eu sempre havia me sentindo um amigo menor, ao passo que ele
contava com amigos de mais trajetória dividida. Todas as minhas amizades
foram re-significadas a partir desse momento. Percebi que não havia
mais espaço para contestar o afeto de vários amigos que manifestamente
com esse laço me consideravam. Não questionar o amor dos amigos ajuda a
resolver as relações. Tornando-as maduras, sólidas e não-carentes
(independentes). A mãe de Beto concluiu: “sabes que ele era espírita,
né?! Já mandou um aviso dizendo que está muito bem e que não é para
lembrar-se dele com tristeza e sofrimento”. Foi aí que percebi que Beto
era um anjo. O desapego dos bens materiais (que, repito, ele tinha em
abundância) justifica o fato de ter desencarnado tão jovem. Já estava
espiritualmente pronto. Não merecia mais as dores dos homens, pois
levitava sobre elas...
Jayme C.
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