Meu afeto pós-reprimido
por Lulu Santos
Eu nunca tinha sido muito fã do som do Lulu Santos. Paulinho da Viola, Martinho
da Vila e outros congêneres sempre me tocaram muito mais. Em idos de 2000 comecei
a ler e me dedicar para algumas atividades intelectuais. Chato, como boa parte dos
sujeitos que se dedicam exclusivamente ao pensamento, passei a criticar sem
piedade artistas que (a meu ver) faziam musicas comerciais e tinham relações
globais. Lulu não ficou de fora de críticas vorazes às suas canções.
Ocorreu que fui ao Planeta Atlântida de 2012. O grande músico e querido
amigo Chico Bretanha ia tocar no camarote do Planeta com a magnífica banda “Império
da Lã”. Fomos eu e as queridas amigas Aline Medina e Letis (namorada do Chicão).
Chegando lá havia uísque e Red Bull no camarim da Império da lã. Os rapazes da
banda foram fazer seu show e eu acabei ficando como guardador dos etílicos. Foi
uma das melhores funções que desempenhei em minha vida, isto é, de porteiro do uísque!
Puxa vida, que trago! O estrago só não foi maior porque havia Gattorades para
amenizar os delírios.
Terminado o show da Império fomos ao palco central. Estava começando o
show do Lulu Santos. Foi aí que inebriado pelas doses do “cachorro engarrafado”
me percebi cantarolando marotamente todas as canções de Lulu. Aline Medina ainda
disparou: “essas músicas são para nós, velhos, perto dessa piazada que está
aqui; nós conhecemos e acreditamos!”. E foi aí que mudou a minha relação com o som
de Lulu Santos. Não dava mais para colocar pré-conceitos na frente da minha
sensibilidade. Era hora de não mais reprimir o meu encontro com Lulu. Até o
cigano Igor apareceu (aquele que dizem ter feito merdas violentas no passado) e
se divertiu ao som de Lulu com a gente. Moral da história: na arte enquanto
forma de vida, mais vale uma sensibilidade acolhida do que uma razão pré-conceituosa.
Até porque – nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia.
Jayme C.
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