sexta-feira, 11 de setembro de 2015

sexo

VIZINHOS QUE NÃO TRANSAM
Um amigo que mora no mesmo prédio que eu, em estado catatônico de “sêmen-pânico”, veio me pedir ajuda. Ele relatou: “Jayminho, sexta feira passada fui ao “Carmelitas” tomar uma ceva com uma interessante mulher. Por volta da meia noite e vinte e oito já estávamos aqui no prédio. Transamos loucamente e o gozo recíproco foi o índice da felicidade do encontro. Ocorreu que emitimos alguns sons na expressão de nosso prazer. Nada exagerado, mas, talvez, um que outro gemido passível de ser escutado no “ap” ao lado. Sai para almoçar no começo da tarde de sábado e quando retornei havia esse bilhete embaixo da minha porta (anexo aos comentários). Jayminho, o que eu faço, estou desesperado?! Como assim eu não poderei mais transar em minha própria casa? Não havia nenhum outro emissor de sonidos ligado, éramos nós e o silêncio rompido, “volti-e-meia”, pelos dionisíacos gemidos. Me ajuda, tu podes ser a próxima vitima dos vizinhos que não transam...”. Sua narrativa durou aproximadamente um cigarro. Já emocionalmente envolvido com a querela de meu amigo, li o bilhete e disse: “vamos comprar umas cevas no mercadinho aqui ao lado, dialogar e elaborar uma estratégia”. Juntos, refletimos...
Primeiramente, essencial respeitar a dor do outro, ou seja, aconselhei o amigo a pedir desculpas, caso ele descobrisse e esbarrasse com o tal vizinho. Em segundo plano, que ele conversasse com o “Zé”, “zé-lador” do prédio, sujeito que tem acesso a informações privilegiadas no contexto do edifício. E que o papo com o Zé fosse num tom leve e debochado, fazendo-o compreender e se solidarizar com a necessidade da cópula, além de fazê-lo rir e interceder positivamente com o vizinho. Assustador, entretanto, é o tom moral do bilhete. Para além do incômodo concreto, caso a pessoa estivesse dormindo, parece que o barulho ser do sexo foi um agravante do delito, na aparente mente conservadora do vizinho. Conversei com o Zé e ele confirmou que o núcleo da reclamação era o fato dos gemidos demarcarem a transa. Aliás, há uma jovem e querida vizinha no apartamento bem embaixo ao de meu amigo, e ela não teceu nenhuma reclamação, muito embora seja a maior prejudicada no vazamento sonoro do apartamento amigo.   
Nesse contexto, eu e meu amigo bolamos a campanha: “Transem vizinhos!”, pois acreditamos que se todos do prédio transarem, então haverá mais tolerância com o gemido alheio, além de que é cientificamente comprovado que o mau humor, por vezes, é corolário do mau amor. Nesse ínterim, lembrei-me do grande livro “Eros e civilização”, no qual Herbert Marcuse defende uma sociedade menos repressora com relação às pulsões libidinais. Puxa vida, seria lindo vivenciar a implementação dessa utopia erótica no habitat cotidiano. Fica o apelo: transem vizinhos!
Jayme C.

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