CINCO ANOS SEM AMAR
Um grande amigo está gostando de uma garota. Fazia cinco anos que ele não gostava de ninguém. Esses últimos anos conferiram intimidade a nossa amizade. Ele é um sujeito encantador que carrega como marca existencial algo como um cosmopolitismo sustentável. A sua força cósmica é a consequência de seus anos habitando em diferentes culturas do mundo. Cosmos designa mundo em grego antigo, e no seu caso revela o ganho que a sua sensibilidade teve em contato com a diferença.
A partir desse contexto, meu amigo desenvolve uma política existencial da sustentabilidade. Política enquanto a arte de reger as relações no cotidiano, isto é, o seu modo de ser sempre acontece visando o equilíbrio sustentável. Não me refiro à sustentabilidade, restritamente, em sua relação com o “Ecos” natural. A sustentabilidade emocional é uma das grandes armas da alma de meu confrade.
Durante esses ricos anos em que nos aproximamos o escutei diversas vezes defendendo que não estava preparado para gostar de alguém. Em suas palavras: “tem que rolar a conexão... Sem a conexão natural e espontânea das energias é difícil gostar verdadeiramente de alguém”. Obviamente, essa conexão não pode ser colorida artificialmente, sob pena de a relação ser quebrada por qualquer brisa mais forte. “Zini” evitou maduramente projetar conexões. Além de ser maravilhoso subjetivamente, também é bonito, o que resultou em diversas possíveis ciladas que não entrou, porque sabia que não era amor, ou seja: a sua sensibilidade não havia se conectado com a das mulheres que atravessaram o seu caminho...
A tranquilidade de Zini garantiu que ele se fortalecesse sem bengalas existenciais. Desde que voltei à Poa ele é dos amigos que eu mais convivo. Tenho muita admiração pelas suas múltiplas inteligências e pelos maravilhosos momentos divididos. Ontem, tomávamos um café e conversávamos sobre todos esses argumentos, quando ele disparou a frase que me retirou do marasmo escritural e me estruturou previamente o sentido: “Puxa vida, Jayminho, fazia cinco anos que eu não gostava de alguém”. Isto é, ele se preparou cinco anos para poder gostar verdadeiramente de alguém. Quis o destino que eu estivesse próximo nesse seu encontro com a tal garota, uma querida amiga de outras vidas cuja amizade já está “encarnada”. Uma semana atrás, eu refletia com ela: “o Zini é muito massa, ele é maduro emocionalmente, tá prontinho para gostar verdadeiramente de alguém”. A essa altura ainda não sabia – que foram cinco anos para amar...
Jayme C.
Jayme C.
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