terça-feira, 21 de junho de 2016

amor

APRENDENDO (A MOR)RER


O querido amigo Mau Saldanha me procurou dizendo que ia fazer um documentário sobre os términos das relações amorosas. O Mau é um sujeito de muito coração e que acredita na força do amor como um elemento essencial na vida. Desse modo, é esse o pano de fundo que ele quer captar por trás dos términos das relações. Afinal, o amor nos toca nos começos, mas o seu anunciado desaparecimento nos términos implica o desconforto da presença na ausência...


Gravamos a minha participação no filme e devido ao meu estado de espírito atual soltei mais o lado bem humorado do que o melancólico. Narrei um “causo” de uma malfadada história com uma garota paulista que era defensora do Paulo Maluf, pois tive que terminar com ela em meio ao natal (época sugestiva para correções de rumo). Como ela era adepta da inqualificável direita cristã, revestiu-se de dificuldade o meu movimento em uma data tão significativa. O Mau deu muita risada, mas não escondeu que estava querendo o meu lado triste e não o seguro de si em suas galhofas cotidianas.

Em nossa conversa filmada, sustentou a sensível ideia de que o amor é o nosso grande ensinamento para a morte. Ou seja, com o passar do tempo nos entramos nas relações amorosas com um grau bem diminuto da ilusão de que será eterna. Depois da repetição de alguns términos, a maturidade inscreve-se em nossa derme já curtida pela melancolia da finitude. Nesse contexto, as lágrimas que por amor derramamos são preparatórias para as mortes concretas que enfrentaremos ao longo da tarefa de vivermos a vida. Ao escutar o meu amigo cineasta, imediatamente, disparei: “aprendendo a morrer... ” (será o título do documentário!). Talvez, esse horizonte faça justiça à grandiosidade do amor em todos os seus atos, isto é, pela quimera encantadora dos começos, mas também pelo difícil aprendizado nos finais.
Jayme C.

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