segunda-feira, 18 de maio de 2015

atitude rock'n roll

Nietzsche e a atitude rock'n roll
Li uma crítica de um especialista em música que enxovalhou a “Banda do Mar”. A razão essencial, a falta de atitude na “pegada” da banda. Debochadamente, o autor chegou a chamá-la de “bunda do mar”, eu ainda não tinha escutado a banda. A partir do que li, escutei diversas músicas e achei bem razoável. Acho que têm bandas fazendo canções muito mais chatas e muito mais sem conteúdo, candidatas mais aptas à fúria debochada da intelligentsia musical.
O ponto, entretanto, é outro. O que de fato me incomoda é a tese que povoa o imaginário de uma galera por aí, a qual revela que apenas e exclusivamente os rockeiros têm uma postura crítica perante a vida. Essa ideia tanto se faz presente que temos a expressão cotidiana: “atitude rock ‘n’ roll”. Talvez no passado essa forma de linguagem representasse um mundo. Porém, o tempo sempre se encarrega de modificar as práticas e revelar algumas petrificações na linguagem. Ou seja, a atitude rock ‘n’ roll não está mais, necessariamente, nas bandas de rock e em seus seguidores. Ela também está no samba (música identificada com vários grupos de resistência étnico-antropológica), está no rap (tal como no samba), está na MPB, em seus acontecimentos repletos de conteúdo, tais como em Otto, Lenine, Baleiro, Criolo etc.
Perante a vida, a alternativa é a atitude nietzscheana. Ora, um dos alvos do filósofo alemão, considerado o psicólogo da cultura ocidental era a hipocrisia oriunda da moral cristã. Nietzsche tinha um colorido desprezo pela nossa condição de aceitação tácita dos valores postos. Em outras palavras, pela incapacidade do ser humano de questionar os valores (im)postos previamente aos fatos que atravessam a nossa existência. Desse modo, segundo ele, reproduzimos uma moral de escravos, no sentido de que estamos sempre esperando uma espécie de autorização senhoril (uma permissão que venha do céu, ou da nossa razão) para vivenciarmos as nossas próprias percepções da vida. Dada essa condição, interpretamos a nossa existência a partir de critérios exteriores a nós mesmos. Não nos entregamos às nossas próprias afecções; e, assim sendo, na hora do contato com o outro, somos hipócritas.
A tal “atitude rock ‘n’ roll” sempre me passou algo nietzscheano no horizonte da desconstrução da hipocrisia… Quiçá, daí derive a minha forma de referir na linguagem cotidiana a atitude como nietzscheana. Acho que é possível gostar mais do pandeiro do que da guitarra e ter uma postura crítica na vida. Já dizia Bezerra da Silva, um dos maiores “roqueiros” da música popular brasileira: “malandro é malandro, mané é mané, pode crer que é”.
Jayme C.

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