Diálogo com uma mulher: o medo nos homens.
Eu estava dançando no bar 512
quando uma velha amiga disparou: “li o teu texto sobre as garotas da geração de
20 anos. Acho que tu também podias escrever sobre a falta de coragem dos homens
da tua geração, ou seja, os trintões nossos contemporâneos”. Entre goles de uma
cerveja gelada naqueles quentes dias do começo de abril, sorri e em um tom leve
lhe disse: “fale-me mais...”. O argumento de minha amiga era que muitos homens,
que têm mais ou menos 30 anos e supostamente práticas libertárias, temem
qualquer ação da mulher quando estão se aproximando. Isto é, esses homens
quando estão tentando se permitir alguma intimidade fazem leituras equivocadas
das coisas. E assim apenas tentam ter alguma intimidade, mas na prática as couraças
criadas pelas más-leituras impedem que se efetive qualquer proximidade real.
Dizia minha interlocutora: “Às vezes a gente só tá querendo transar com o cara,
mas ele confunde os sinais e acha que estamos querendo o príncipe salvador das
mazelas afetivas!”. Quando ela falou isso acendeu uma lamparina em meu marasmo
cognitivo. Pensei comigo mesmo – porque será que isto acontece aos homens?
Deixei a pergunta amadurecer no tempo. Mudaram as estações. Mudei de casa e de
trabalho. Momento propício para sinapses mais sensíveis.
A chuva, a fumaça de sândalo e o
Merlot, reacenderam a questão nessa típica noite de inverno na província.
Porque por vezes os homens fazem leituras equivocadas ao estarem se aproximando
de uma mulher? Fui ao facebook e recordei que ela havia enviado um texto sobre
o mesmo ponto, de outro amigo seu e postado no caderno Donna Virtual. Um bom texto!
Resolvi chama-la no bate papo do facebook e pedi que me falasse novamente sobre
o tema. Ela re-afirmou: “falta de coragem. Ampla. Coragem pra
tudo, desde o primeiro passo. Medo do que as coisas simples possam significar.
E porque diabos elas tem que significar algo MAIS SÉRIO?! Não dá para deixar de
viver por medo de viver...”. Ressalvou ainda a questão do mal interpretado
visto por outro ponto solto por aí, ou seja, “tanta gente querendo
desesperadamente um pouco de afeto, que qualquer demonstração pode virar um
grude.”. E com razão de fato, pois quem nunca esteve nos polos dessa condição?!
Enfim, minha ideia é que (noss)as cabeças masculinas estão impregnadas de
machismo(s). Os homens não tem um simbólico da mulher empoderada em seus
imaginários. São ingenuamente reféns da ideia que “usam”, mas não sacam que também
são passíveis de serem “usados”. Talvez essa seja a causa dos homens não
conseguirem pensar na mulher querendo apenas coisas simples, tal como o sexo.
Ou uma manhã feliz após uma bela noite dividida, como ela finalizou a nossa
conversa: “porque eu só encontro olhares de PÂNICO quando o café da manhã está
pronto. Acabo tendo que dizer: calma, amigo, não quero casar, só quero ter uma
manhã feliz.”.
Jayme C., 05/06/2014, 01:47.
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