DIVIDIR A CONTA DO MOTEL (pensamentos “feministos”)
Na virada do milênio, as raras vezes em que eu ia
para um motel com uma garota achava que tinha o dever de pagar a conta. Catorze
anos depois percebi ter mudado de opinião. A lamparina dessa ideia foi acesa em
um debate com os meus afáveis colegas de trabalho. Nesse tempo que passou houve
uma construção de práticas. Primeiro, como já disse, achava que os homens
tinham a obrigação de pagar a conta do motel. E assim o paguei silenciosamente
durante muitos anos. Entretanto, o caminhar da vida amadureceu as experiências.
Re-significou alguns conceitos. E frente a essa mistura de sensibilidades e
ideias passei a achar cada vez mais justo a divisão da conta. Desse modo,
passei algumas situações de não saber como falar para a garota que achava justo
dividir. Muitas vezes calei. Continuei assumindo a responsabilidade pelo
pagamento. Porém, me descobri um “feministo”, ou seja, um sujeito que defende
os reclames feministas. E assim um novo passo foi dado. Desenvolvi uma técnica
de como perguntar para a mulher se dividiríamos a conta. “Vamos ser
(pós)modernos ou eu pago conta?”. Frase genial que roubei de um grande amigo. E
é a sentença perfeita, pois é leve como devem ser as saídas do motel.
Importante tecer alguns comentários sobre o
feminismo. Namorei uma feminista de muito fundamento quando morei em Brasília.
Esses dias em um descontraído papo ela comentou sobre um texto no qual eu me
declarei feministo. Aproveitei para tirar a prova real e perguntei se ela me
considerava um homem machista. Ela respondeu: “isso você definitivamente não é,
muito embora tenha outros defeitos”, terminando a frase com uma risada
afirmativa em seu cativante sotaque paulista. Foi uma confirmação importante no
constante crescimento que me cobro frente a uma imensidão de imperfeições.
Repito-me: “uma acertada tese de várias feministas
é que os homens nunca vão conseguir saber como se sente uma mulher em um mundo
machista full time como o nosso. Assim sendo, ser feministo
reflete a condição de alguns homens, a saber,
sensíveis à defesa dos direitos feministas, porém cientes de sua condição
existencial masculina. Sobretudo em sendo fruto mais de grandes mulheres do que
de grandes homens, como no meu caso”.
E é nesse contexto de tentativa de
diminuição das desigualdades de gênero que acho justo a divisão da conta. Ora, se o
motel como um todo é dividido, se o prazer deve ser recíproco, porque o custo
capitalista da brincadeira deve ser masculino? Nossa cultura machista fabrica
esses mitos. Nosso horizonte deve ser derrubá-los. Talvez filosofar a
marteladas e quebrar as práticas conservadoras. Senão, quem vai pagar essa
conta? É claro que são as mulheres... As mulheres “mi-mi-mi” (estilo
“mulherzinhas”), que acham obrigação do homem pagar a conta e estão odiando o
argumento, talvez não percebam que culturalmente seja mais benéfico para si.
Jayme C.
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