A greve dos ônibus e a burguesia em sua “feliz-cidade”
Certa vez Mano Brown com a sinceridade crua que lhe é peculiar cantou: “o ser humano é descartável no Brasil”. Essa é a condição que todo pobre sofre em um país que não cuida dos seus cidadãos. Exatamente por essa falta de cuidado para com os pobres é que reivindicações como a greve dos ônibus em POA são válidas. O único meio que os pobres têm de enfrentarem a força do poder do dinheiro (empresários) é se aglutinando e lutando pela sua classe. Não se espere que a burguesia do Moinhos de Vento vá ter solidariedade para com os pobres. Eles nunca têm. Vivem na bolha refrigerada de seus luxuosos apartamentos e quando precisam se deslocar utilizam seus confortáveis automóveis. Nunca dependeram de ônibus para fazer qualquer deslocamento na cidade. Não sabem o que isso significa. E assim sendo deveriam ficar calados frente a discussões que envolvem circunstâncias que a sua sensibilidade jamais tocou. Os empresários tem um lucro anual astronômico. Em uma atividade que não tem licitação há 25 anos. Ganham no mole. Repete-se a velha história do surrado capitalismo em países pobres: empresários concentram a renda – trabalhadores dividem os prejuízos. A mídia oficial demoniza os trabalhadores, ou seja, nada de novo no fronte. Os donos do poder concretizam o subjugo a partir de velhos reacionários detentores de midíocres microfones. O prefeito é parceiro dos empresários. Vai aumentar as passagens tão logo acabe a greve. Se esse for o desfecho, então acho que toda a cidade deveria parar. Seria lindo ver a autossuficiência da burguesia abalada, a partir da falta de domésticas para fazer o “trabalho sujo” em suas belas casas, da falta de porteiros e seguranças para lhe fornecer tranquilidade, da falta de empacotadores no supermercado para perceberem que economizar não é apenas comprar bem. Seria deveras lindo ver a burguesia provar um pouco do seu próprio veneno, ou seja, do egoísmo e falta de alteridade consequências da exclusividade em sua “feliz-cidade”. Dizem por aí que o homem só aprende quando sofre. Talvez esteja na hora de se compartilhar o sofrimento.
Jayme C.
Esta greve foi um grande teste de força entre os trabalhadores do transporte e os empresários. E tenho a impressão de que, encerrado o embate, o saldo politico é favorável aos trabalhadores. Penso que a categoria saiu fortalecida e ficou claramente exposto para a população que alguma coisa precisa ser feita quanto ao transporte público, no que diz respeito a novas licitações, p. ex. Estou sendo otimista, claro, imaginando que a população conseguiu pensar além das agruras que sofreu durante a paralisação.
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