sexta-feira, 25 de outubro de 2013

São Borja

Diário de São Borja (o eterno retorno da história)

Após 8 horas de viagem cheguei à terra dos presidentes. É uma quarta semi-abafada, de uns 25 graus, e essa conjunção reflete a densidade existencial que sinto na cidade. Pergunto a um transeunte onde é a padaria mais próxima. Ele me indica um minimercado chamado Alaska (que também tem pães). Eu não queria um mercadinho. Queria uma simples e gostosa padaria de interior para poder tomar um justo café da manhã com um pãozinho novo. Resolvo tomar um taxi e ser mais explícito ao pedir uma padaria ao taxista. Ele me leva a maravilhosa padaria “Kitutes”. Kitutes demora apenas um café da manhã para se consagrar como a padaria do meu coração em São Borja. São 8 e meia da manhã e eu devo ir ao foro pegar um processo. Passarei o resto do dia viajando de volta à POA. Assim sendo, opto por ir caminhando e observando as pessoas e suas práticas, as construções baixinhas, enfim, libero meu lado antropólogo urbano e tento compreender algo do imaginário dessa terra que extemporaneamente me cativou. Paro para olhar o nome de uma rua em uma placa e vejo em seu canto sobre um fundo azul os dizeres: “Terra dos presidentes”! Juntamente com uma foto de Getúlio ao lado de uma de Jango. Em todas as ruas a história se repete. Desconfio que a densidade antes referida também passe por esse eterno retorno da história presente em suas ruas. As pessoas em geral são simples, amáveis e prestativas. E muitas são bugres e não caucasianas puras de olhos azuis – fator que me gerou uma identificação étnica entre seus habitantes. Ao chegar à rodoviária me deparo com uma criança e sua mãe. Elas manifestamente eram pessoas com dificuldades financeiras. A menina se chamava Gislaine e era uma graça: pura simpatia e um carisma já despontando aos 6 anos de idade. Perguntei quando era seu aniversário. Ela disse que já tinha feito em 3 de outubro, mas que tinham esquecido de convidar os convidados. Sua mãe explicou: “é que o pai dela prefere dar roupas a fazer uma festa de aniversário, é tudo muito caro”. Pedi que Gislaine cuidasse da minha mochila enquanto eu ia ao banheiro e assim na volta eu daria um presente que ela escolhesse. Fomos até uma lojinha da rodoviária e Gislaine escolheu a bola verde. Também provei do eterno retorno da história, lembrando em quantos inúmeros aniversários o meu deleite havia sido ganhar uma bola nova. Assim me despedi de São Borja, contaminado pelo sorriso da menina e mais feliz por tê-la alegrado.
Jayme C.


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