Para a “siiiiiiiiiim” (é claro).
SOBRE CAFÉS & MANHÃS (o
carinho desapegado)
Passei o último mês em POA na
condição cotidiana que mais gosto, isto é, a de (pseudo) antropólogo urbano. O foco
de análise recaiu sobretudo na noite da CB e seus desvãos afetivos. Re-colhi um
farto material. Desde o texto que escrevi sobre o diálogo que tive com uma
amiga, a menção ao “café da manhã” fruto de um pós-noite dionisíaco, passou a
ser um deboche corrente entre os amigos. Era surgir algum evento festivo e já
vinha uma mensagem no grupo do “zap-zap”: “quero noite e café da manhã!”. O
ponto é o carinho desapegado. Ou seja, mesmo que o encontro afetivo dure só uma
noite, não há razão para não sermos carinhosos. Parece óbvia essa micro tese,
ao passo que se escolhemos dividir algumas horas da nossa vida com o dito cujo
que estamos ficando, um mínimo de delicadeza deve haver. Ora, quem não tem
competência que não se estabeleça, relembrava a referida amiga em minha festa
de despedida. E nesse contexto competência significa diversas questões.
Primeiro que o sujeito tenha a sensibilidade de não confundir carinho com
promessa de casamento. Carinho é coisa do ser humano (de alguns); e o casamento,
ao menos em meu poluído imaginário, remete a seguinte cadeia de conexões: noivas-->padres-->igrejas-->Deus-->morte. As duas últimas
no sentido nietzscheano dos termos!
Enfim, a sensibilidade de fazer a
leitura correta do carinho deve ser de quem dá e de quem recebe. Aliás, quem
não gosta de carinho bom sujeito não é. No mínimo é mal resolvido. Isso faz
lembrar um amigo que estava ficando com uma garota de uns 26 anos que lhe disse
não gostar de carinho. Ele, nego-véio no pagode, não deixou de perceber a
loucura da garota e logo transformou a “ficância” em amizade. Legal que esse amigo
e a amiga do diálogo acabaram ficando em uma festa. Acho que se curtiram, pois
se encontraram no carinho desapegado. O mais incrível é quando o carinho
desapegado é vivido com tanta maturidade que se transmuta em “eternidade
descompromissada”. É o último degrau antes da paixão. Daí a cadeia é outra: categoria-nas-práticas-->encantamento-->eternidade
descompromissada-->paixão.
Meu último café da manhã em POA fez perceber essa última cadeia de fatos. Era
para ser só uma cervejinha, mas virou uma viagem para dentro da gente. Nessa
frase estamos conjugados. Caetano não teria deixado de cantar essa condição da
alma: “tudo era apenas uma brincadeira e foi crescendo, crescendo, me
absorvendo...”.
Jayme C., de SLZ para POA,
05/07/2014, 02:24.
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