Nos livramos de uma bronca – sobre o papa não ser brasileiro (e
muito menos gaúcho)
O fato do papa escolhido ser
argentino e não brasileiro (e muito menos gaúcho) pode ter nos livrado de uma
complicada bronca. Se o principal líder da igreja católica fosse brasileiro,
então talvez pudéssemos viver uma pequena ditadura de suas opiniões acerca de
determinados temas. Não esqueçamos os temas que necessariamente o papa sempre
fala: aborto, eutanásia, casamentos homoafetivos, drogas, pena de morte, dentre
mais alguns de igual envergadura. A ingerência de um papa em nossos assuntos
dessa ordem poderia ser maléfica em questões tão delicadas, visto que pequenos
avanços verificados em nossa sociedade poderiam ser revogados. Se de fato
acontecesse, seria uma bronca terrível. Os católicos, desgastados pelo seu
contumaz apequenamento desde o fim do século XX, cresceriam novamente falando
em nome do papa. Quiçá tentassem voltar a usufruir das relações de poder em um
nível mais despótico, tal como fizeram na história do século passado. Só que
dessa vez fariam em um nível tecnológico, no embalo de nossa época e sua vida
on line. No Rio Grande do Sul, o fervor provinciano-bairrista seria
desgovernado. Seria um orgulho extraterrestre. E quem sabe uma influência maior
ainda, dado o bairrismo dos gaúchos em sua costumeira autoconsideração como a
“terra prometida”. Os gaúchos poderiam finalmente bradar a sua verdade como a
verdade de todos: ucho, ucho, ucho, o papa é gaúcho! Tudo isso pode ser apenas mais
um delírio (na província). Porém, talvez não. Na dúvida prefiro ver a igreja
católica ou renovar-se, ou estar bem longe das questões essenciais na sociedade
brasileira.
Jayme C.