segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

pequena nota sobre o amor


(já de algum tempo tenho como princípio não escrever sobre o amor. ou, melhor, evitar escrever sobre tal tema. o filósofo francês Jacques Derrida em um livro-conferência chamado "do espírito", interpretou o significado de "evitar" na obra de Martin Heidegger. segundo essa leitura, Heidegger evitou falar sobre o espírito e assim falou não-falando; isto é, evitar em Heidegger pode ser lido como "falar não falando". voltando à escrita sobre o tema do amor - escrever não escrevendo. evito desde algum tempo, assim, e tenho minhas razões. primeiro que acho o tema mais delicado de todos. quando comecei a escrever poemas, quase todos versavam sobre o amor. e quase todos eram poemas fracos. dependentes das rimas, acabavam sendo cópias dos mestres que eu havia lido e que sempre foram minha referência na poesia (Vinícius, Neruda, Dos Anjos, Pessoa e Bandeira). desse começo sofrido retirei uma lição: o amor não é fácil nem enquanto tema do poema... além disso, enquanto filhos de uma língua rica nas metáforas e não menos grandiosa na qualidade de seus poetas, creio que quase tudo de maravilhoso sobre o tema já foi construído. evito falar sobre o amor, também, porque não acho digno do tema desprezá-lo em construções como "amor, flor e dor". tais rimas não cativam mais a minha poesia... acredito que se não for com sagacidade e "interessância" suficientes, deve-se evitar falar sobre o amor. há mais ou menos um ano e meio não escrevia sobre esse sentimento. tal vazio foi interrompido no sábado último. percebi que estava "cuspindo" a poesia ao caminhar pela província, e que seu tema mais delicado era o tema de meu delírio... estava bebado do sentimento. eis que surgiu uma prosa poética que, talvez, estivesse amadurecendo em minha alma desde este um ano e meio de ausência do amor em minha escrita. ou seja, durante este tempo, quiçá no horizonte de Heidegger, falei não-falando... mas eis que chegou a hora. ao menos na escrita chegou o "tempo do amor. quem sabe amanhã - nos "delírios na província". amor, quem sabe amanhã... )

Um comentário:

  1. olha, penso que deveria escrever mais sobre esse tema, claro sem a banalizaçao de rimas batidas porque e melhor ser tocado por este sentimento a viver a apatia ao AMOR...nao é mesmo?

    Liza

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