terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

pequena nota sobre o amor II

A minha teimosia é uma arma pra te conquistar.


Jorge Ben



Procura-se um amor que procura um amor...


Procura-se um amor que em primeira mão divida o cotidiano. Que se divida no cotidiano. Que Se reparta. Que Se entregue. Que não parta frente à natural dificuldade das diferenças. Que entregue sua natureza. Procura-se um amor que finalmente nos escute. Que nos sinta. Que pressinta o momento de ser forte. Que saiba antes da dor preparar o terreno, e após ela tenha a sensibilidade do colo. Que tenha a delicadeza no cafuné ao dormir. Que tenha romantismo na pegada. Que não tenha receio em se apegar. Procura-se um amor que abra os sentimentos. Que se abra ao viver cada momento. Que tenha o prazer em conosco perder seu tempo. Que tenha coragem em repartir seus tormentos. Que tenha conosco o fim da angustia. Que nos tenha como um novo começo. Que nos seja o princípio do belo. Que nos faça um bolo no dia de chuva. Que reparta à pipoca no cinema. Que nos dê à mão no beijo do filme. Procura-se um amor que nos divirta. Procura-se um amor Que se possa conversar. Que nos recolha conchinhas no mar. Que também acredite que o “amor aumenta com o ar”. Procura-se um amor que tenha similitude no impacto das almas. Que tenha personalidade na discrição. Que tenha reciprocidade na saudade. Que nos mande mensagem no meio da noite. Que nos procure primeiro ao receber uma novidade. Procura-se um amor que nos leve para dançar. Que dance conosco a vida. Que junto à gente construa a história de nossas vidas. Que na distância fabrique a vinda de uma memória. Que a nostalgia se dê como esperança. Procura-se um amor que “no choque entre o azul e o cacho de acácias” deixe tudo “lindo”! Que faça Caetano re-fazer seu poema. Que fizesse “Chico” lamentar não ter conhecido. Procura-se um amor que não tenha medo. Que se jogue. Que se declare. Que a única forma de jogo seja jogar junto com a gente. Procura-se um amor que não só nos faça bem, mas que nos torne melhor. Que melhor seja impossível. Que nos transforme como disse “Drexler”. Que nos re-funde a partir do sentimento. Que se funda com a nossa vida. Que compartilhe seus movimentos. Procura-se um amor que preze nossa liberdade. Que acredite no valor do respeito. Que se encante pelo nosso jeito. Que tenha jogo-de-cintura na adversidade. Que tenha tranqüilidade para fornecer sossego. Procura-se um amor que nos surpreenda. Que não feche os olhos antes que adormeçamos. Que não se arrependa em viver-à-vida. Que quando não estivermos esperando – chegue. Que nos carregue em direção às nuvens. Que nos traga a consistência na leveza. Procura-se um amor que finalmente seja um delicioso “pequeno lugar”. E que lá “Cartola” seja trilha sonora. Procura-se um amor que seja equilibrado sem ser chato. Que seja louco sem nos colocar em risco. Que seja “meio bossa nova e rock´n roll”. Procura-se um amor que antes seja bela que bonita. Que seja interessante. Procura-se um amor que na base há lealdade. Que tenha alteridade em seus valores. Que seja responsável com aquele que cativamos. Procura-se um amor que se acredite. Que credite suas fichas em nosso centro. Procura-se um amor que seja por dentro, mas Que não tenha medo em botar para fora. Que dirija nossa vida quando estivermos bêbados. Que nos cuide quando convalescemos. Procura-se um amor que combine com a nossa casa. Que o astral seja harmonia. Que as noites de inverno seja acolhimento. Procura-se um amor que seja sagaz na melodia. Que no fim da tarde nos procure para saber de nosso dia. Procura-se um amor que também esteja nos procurando. Que esteja vivendo no mesmo “tempo”. Que não seja mais um futuro-do-pretérito. Que traga consigo o “tempo do amor”. Procura-se um amor que nos faça perder a noção do tempo. Que nos descontrole pelo envolvimento. Procura-se um amor que... Procura-se um amor... Procura-se um... Procura-se... Procura... Pró-cura... Quiçá o amor exista na “cura”.


Jayme Camargo da Silva – 20 de fevereiro de 2010, às 18:38.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

pequena nota sobre o amor


(já de algum tempo tenho como princípio não escrever sobre o amor. ou, melhor, evitar escrever sobre tal tema. o filósofo francês Jacques Derrida em um livro-conferência chamado "do espírito", interpretou o significado de "evitar" na obra de Martin Heidegger. segundo essa leitura, Heidegger evitou falar sobre o espírito e assim falou não-falando; isto é, evitar em Heidegger pode ser lido como "falar não falando". voltando à escrita sobre o tema do amor - escrever não escrevendo. evito desde algum tempo, assim, e tenho minhas razões. primeiro que acho o tema mais delicado de todos. quando comecei a escrever poemas, quase todos versavam sobre o amor. e quase todos eram poemas fracos. dependentes das rimas, acabavam sendo cópias dos mestres que eu havia lido e que sempre foram minha referência na poesia (Vinícius, Neruda, Dos Anjos, Pessoa e Bandeira). desse começo sofrido retirei uma lição: o amor não é fácil nem enquanto tema do poema... além disso, enquanto filhos de uma língua rica nas metáforas e não menos grandiosa na qualidade de seus poetas, creio que quase tudo de maravilhoso sobre o tema já foi construído. evito falar sobre o amor, também, porque não acho digno do tema desprezá-lo em construções como "amor, flor e dor". tais rimas não cativam mais a minha poesia... acredito que se não for com sagacidade e "interessância" suficientes, deve-se evitar falar sobre o amor. há mais ou menos um ano e meio não escrevia sobre esse sentimento. tal vazio foi interrompido no sábado último. percebi que estava "cuspindo" a poesia ao caminhar pela província, e que seu tema mais delicado era o tema de meu delírio... estava bebado do sentimento. eis que surgiu uma prosa poética que, talvez, estivesse amadurecendo em minha alma desde este um ano e meio de ausência do amor em minha escrita. ou seja, durante este tempo, quiçá no horizonte de Heidegger, falei não-falando... mas eis que chegou a hora. ao menos na escrita chegou o "tempo do amor. quem sabe amanhã - nos "delírios na província". amor, quem sabe amanhã... )

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

VERÃO - Ferreira Gullar

ao Lorenzo Ribas, pela formatura,
mas também pela "existência" na poesia.

(a despeito de não ser uma tradição dos delírios na província, o post abaixo não é próprio, mas do genial poeta Ferreira Gullar)

depois de seis dias ausente da província - mas presente à encantadora praia da Gamboa, cheguei ontem ao começo da noite, e ainda na free way recebi a ligação do querido amigo Lorenzo Ribas, relatando que havia recebido o "canudo" pela conclusão do curso de filosofia na UFRGS. bebemos no Parangolé e, em um dado momento, Lorenzo recitou esse belo poema de Ferreira Gullar sobre o verão, mas em especial sobre fevereiro...


VERÃO

Este fevereiro azul

como a chama da paixão
nascido com a morte certa
com prevista duração

deflagra suas manhãs
sobre as montanhas e o mar
com o desatino de tudo
que está para se acabar.

A carne de fevereiro
tem o sabor suicida
de coisa que está vivendo
vivendo mas já perdida.

Mas como tudo que vive
não desiste de viver,
fevereiro não desiste:
vai morrer, não quer morrer.

E a luta da resistência
se trava em todo lugar:
por cima dos edifícios
por sobre as águas do mar.

O vento que empurra a tarde
arrasta a fera ferida,
rasga-lhe o corpo de nuvens,
dessangra-a sobre a Avenida

Vieira Souto e o Arpoador
numa ampla emorragia.
Suja de sangue as montanhas
tinge as águas da baía.

E nesse esquartejamento
a que outros chamam verão,
fevereiro ainda em agonia
resiste mordendo o chão.

Sim, fevereiro resiste
como uma fera ferida.
É essa esperança doida
que é o próprio nome da vida.

Vai morrer, não quer morrer.
Se apega a tudo que existe:
na areia, no mar, na relva,
no meu coração - resiste.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

os melhores amigos da província...

aos meus amigos...


juju pelo tempo de estrada. vini-maloney pela elegância. cadu por ser um "novo grande". primaninha pela leadade. fabio alemãozinho pela cumplicidade. lucimar pela discrição. "vini e lizi" por serem os vizinhos do coração. lucia cavalli pelo vínculo. felipe pimentel pela simplicidade na complexidade. pedrão pela loucura na "acadêmia". gui-gui pelos jogos de botão aos dez anos de idade. atahualpa pelo companheirismo. "cabelo" pela categoria. gabriel diniz pelo constante apoio. pablo pela harmonia na melodia existencial. aline "medi-única" pela coragem da irreverência. ronaldo pela poesia na essência. leozinho e lô por serem os "amiguinhos". lorinha por ter sido o primeiro grande. fabiano-anão pela instituição do paradigma. lorenzo ribas pela identidade na diferença. felipe santos pela maturidade do deboche. vado vergara pelo compartilhamento da poesia. duda cunha pela "redenção". juju pela sagacidade. vini-maloney pelo constante acolhimento. cadu pela maravilhosa divisão do cotidiano ultimo. primaninha pelo inesgotável o "amor é a base". fabio alemãozinho pela justa alteridade com o mundo. lucimar pela tranquilidade na maturidade existencial. "vini e lizi" pela vizinhança pós-moderna. lucia cavalli pela arte na juventude. felipe pimentel pelo gabarito das escolhas que faz. pedrão pela transparência. gui-gui pelos 25 anos do mesmo lado da rua. atahualpa pela diplomacia. "cabelo" pelo jogo-de-cintura aliado a disciplina. gabriel diniz pelo arriscar um investimento subjetivo. pablo pelo "groove" na pegada. aline "medi-unica" pelo critério da "possibilidade do roça-roça". ronaldo pelo resgate da poesia. leozinho e lô pela eterna esperança nas crianças. lorinha pela incomensurável contribuição inicial. fabiano-anão por ter acreditado. lorenzo ribas pela inconteste afinidade nas sensibilidades. felipe santos pela "nego-velhice". vado vergara pela alma "sô Frida Khalo por aqui". duda cunha pela possibilidade de juventude com tranquilidade.

eles fazem absolutamente toda a diferença.

Jayme Camargo da Silva