quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Simpatia é quase amor – notas sobre o cotidiano, mágica-da-vida e outras memórias...


“Penso, logo existo – é a causa do
crime contra danço, logo vivo.”
Eboussi Boulaga


Simpatia é quase amor – notas sobre o cotidiano, mágica-da-vida e outras memórias...

Combinamos uma mistura dos laboratórios. De um lado viria o laboratório da memória. Do outro, o laboratório do cotidiano. Isto é, mescla da neurociência com os pequenos lugares formadores de sentido na realidade. Mas a ciência era o que menos importava. O essencial residia na “simpatia é quase amor”. Sim. Sexta à noite antes de sair para dançar, o jogo-de-cintura é mais fundamental que o intelecto. Eu mesmo demorei um tempo para entender. A “noite” não é o lugar do discurso. O discurso da noite é a possibilidade de “dançar”. E utilizo dançar em sentido amplo. Dança-se mesmo sem saber dançar. Dança-se ao se debochar com o fundamento, por exemplo; e também se dança sorrindo e fazendo sorrir. Não é o timing de se falar sério. Assim o encontro dos laboratórios fluiu. E fluidez é a propriedade que descreve a mistura. Logicamente, a famosa CNTP – “condições normais de temperatura e pressão” – deveriam ser observadas. É sempre uma segurança da validez do experimento. Ao menos eu creio. E não poderia possuir um local mais apropriado a CNTP do que a residência (no) verde. Uma casa verde poderia ser lida como a esperança na habitação. O verde, desde sempre, nos foi apresentado assim. E naquele local combinado com o sutil tom pastel que repartiam as paredes, parecia refletir a “vibe” de quem lá habitava. Particularmente, senti uma sinergia entre a consistência da força e a leveza da sensibilidade. Aliás, contrariando até mesmo meu filósofo de formação, Martin Heidegger, diria que ele estava enganado ao dizer que a “ciência não pensa”. Heidegger estava se referindo ao fato da ciência não pensar a “diferença”. Que, segundo ele, se daria fundamentalmente no homem. Pois, na junção dos laboratórios, o verde também significou o acolhimento da diferença. Até a ciência existiu na abertura à diferença. E, assim, a ciência existiu concretamente naquela mesa-redonda de misturas. A harmonia que se deu não foi interrompida nem pela divisão temporária dos grupos quanto à festa a ser feita. Nos dividimos, mas não nos re-partimos. Não partimos mais, dada a eficácia das misturas. E assim nos reunimos novamente no meio da madrugada. Os tubos de ensaio e pipetas do povo do laboratório do cotidiano estavam inundados de energético e vodca. O que levou a festa até a manhã do amanhã daquela noite. A diretoria brindou a completude. A completa atitude acolhedora que aconteceu. Atitude é tudo. É “atitudo”! Talvez antídoto contra a falta de experiência... E mais que isso, a raridade de se conseguir reunir uma gama de pessoas todas elas interessantes. Dançamos, cantamos e nos divertimos. Aquilo que outrora fora mensagens-de-texto passara a se concretizar como um acontecimento. E os acontecimentos fundamentais costumam nos questionar. Quiçá mudar o rumo das trajetórias. Enfim, se Heidegger acerta ao menos em dizer que o sentido do ser é o “tempo” – então o tempo dirá! Voltamos e chegamos ao mesmo tempo, dessa forma, à “simpatia é quase amor”. Dados esses acontecimentos, coloquei de nick no meu MSN tal frase. Falei com a Juju sobre, pois sei que ela é muito partidária desta filosofia. E, assim, concordamos mais uma vez. Detalhe é que desde sábado está lá. “Simpatia é quase amor”. Esses dias eu e a Juju quebramos a cabeça para lembrar qual a música que tem essa frase. Ficamos pensando um tempão, mas mesmo assim não lembramos. Daí que hoje - quarta-feira - uma amiga veio me dizer no MSN, “bah, viu que o Pedro Bial falou ontem no BBB (Big Brother Brasil) que ‘simpatia é quase amor’?!” E eu respondi que não havia visto o programa. Mas fiquei surpreso com a co-incidência. Pois toda a “coincidência”, é uma dupla incidência. Daí ser uma “co-incidência”. Elas há muito habitam o laboratório do cotidiano. Eu e Juju já vivenciamos tantas que eu acabei cunhando um nome para tal fenômeno, a saber, “mágica-da-vida”. Quem há muito me conhece, há muito partilha desta viagem. A mágica-da-vida exerce seus encantos quando grandes acontecimentos se dão no cotidiano. No domingo, já havia tido outra vivência, quando em um encontro das diretorias, um amigo, que seria apresentado, já era há muito conhecido. Grandes encontros quase sempre implicam em grandes acontecimentos. Quando as “co-incidências” acontecem é porque a mágica-da-vida permeia aos fatos. Nesta mesma quarta-feira, saí para almoçar, e, depois, passei na casa de um amigo. Liguei para a Juju, que está em SP, para narrar a mágica-da-vida do simpatia é quase amor. Ela mais uma vez sorriu frente aos idos desses dias de janeiro. Não havia mais como sair da memória. Quando a magia da vida impera, abre-se um pequeno lugar entre a nostalgia do passado e a esperança do futuro. Felizes aqueles que lá conseguem habitar. A derradeira certeza veio quando, ao sair da casa do Ronaldinho, após o almoço, resolvi fazer algo que não faço faz mais de ano. Depois que meu “i-shufle” estragou, não ouvi mais música nos meus movimentos cotidianos na província. E, há mais tempo ainda, não ouvia rádio FM no caminhar pela província. Rádio mesmo só para a minha relação com o futebol, ou seja, só AM. Mas neste começo de tarde resolvi ligar na FM. Acho que era na FM Cultura - 107,7 -, e estava tocando uma canção do Lenine. Estava sendo executada pelo próprio acompanhado de Elba Ramalho. Era uma música que eu conheço já de outrora. Passei a caminhar pela José do patrocínio e cantarolar. De repente me percebi cantando “alô, Carlos Cachaça, “pedra noventa”, falou... Valeu Rio e Bahia... simpatia é quase amor...”. Era Lenine. “Lá e Cá” é o nome da canção. “Lá” na memória, “cá” no cotidiano. Era o Bial e seu filho BBB. Era a mágica-da-vida trazendo mais uma confirmação. Estamos em um tempo de misturas essenciais. De misturas existenciais. Só a memória no cotidiano assegura a possibilidade da nostalgia. Só o cotidiano na memória qualifica a experiência dos “pequenos lugares” que se criam na vida.

Jayme Camargo da Silva.

4 comentários:

  1. Tem um bloco de carnaval no Rio, em Ipanema, que só toca uma música. O nome do bloco e da música é "Simpatia é quase amor".

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  2. Velho! Se essas co-incidências realmente existem, acho que temos mais um exemplo...finalmente me lembrei do nome do blog, e resolvi dar uma olhada ao chegar do Dam...vi o tópico e resolvi ler, não sem antes escolher algo pra ouvir no som...Lenine! Só não era "Lá e cá"; era "Paciência", uma das minhas favoritas dele...de qualquer forma, uma boa coincidência.
    Afora isso, belo texto! Certamente me tornarei um leitor e "comentarista" com significativa assiduidade...

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  3. "Só a memória no cotidiano assegura a possibilidade da nostalgia. Só o cotidiano na memória qualifica a experiência dos “pequenos lugares” que se criam na vida."

    Disse tudo!

    Abraço, João.

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  4. Velho!
    Estou eu em mais uma bela noite florianopolitana regada a Heineken e boas músicas, e boas leituras, e resolvi ler esse post de novo...e, lembrando do acontecido, é impossível não dar risada e lembrar de uma noite mais do que agradável e imprevisível...
    Realmente muito bacana a maneira como tu escreve e, principalmente, como "lê" o cotidiano...a mágica-da-vida é mais do que uma teoria; é perceptível a quem estiver aberto a ver...
    Grande abraço!

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