sexta-feira, 9 de junho de 2017

termômetro existencial

Termômetro existencial
Para o cara ser feliz tem de ser bem resolvido financeiramente, tem de ter grana, sob pena de não ter acesso aos melhores bens materiais da vida (viagens, passeios, conforto em geral). Mas tem que ganhar o “capim” fazendo o que se gosta, senão bate a crise existencial e instaura-se uma razão para justificar o nosso lado mal-humorado e reclamão.
O cara também não pode ser carente na relação com a família, com os amigos e com o amor. Tem de ser seguro o suficiente para que esse tripé não o sinta como um peso, mas, ao mesmo tempo, ser afetivo e atencioso, sob pena da tríade subjetiva (não) sentir a reciprocidade do amor que lhes dirigem. Para achar a sintonia fina interior, o cara gasta com análise e terapia, na medida em que apenas a minoria já vem com a ansiedade controlada de fábrica. Ansiedade, carência e insegurança, três estados subjetivos que tem de se lutar diariamente, sobretudo para jamais projetá-las sobre o outro (luta que infelizmente sabemos que não venceremos em 100% dos dias).
O cara tem de ser equilibrado em uma miríade de circunstâncias que constituem a sua vida. Tem de ter uma existência meio bossa nova e rock’n roll. Ou seja, tem de ser meio louco para não ficar sempre na mesmice quadrada, mas ao ser ousado tem que cuidar a sua integridade física, moral e psicológica. Toda vez que descuidamos e exageramos na ousadia/loucura, além dos problemas concretos que criamos, somos julgados pelo tribunal da razão alheia, local que “volti-e-meia” ocupamos no vacilo dos outros. Enfim, o cara não pode ser muito hedonista, porém também não pode ter uma relação estéril com o prazer.
O cara tem de fazer exercício regularmente, tem de cuidar o que come, onde mora, da sua imagem e do seu ego (é importantíssimo ser pelo menos tão autocrítico consigo quanto se é crítico com os outros). Os filhos únicos, em geral, têm de redobrar os cuidados, na medida em que muitas vezes foram criados por pais que não se trataram e que acabaram estimulando o desenvolvimento de déspotas egoístas. O cara tem de ser inteligente, sagaz e bem-humorado, caso deseje ser (reconhecido como) uma pessoa interessante.
Esses são alguns dos meus critérios para vislumbrar a independência plena; não acho que sejam válidos universalmente, ou seja, estou apenas compartilhando uma transparência (não quero determinar nada para ninguém). Em suma, o cara tem de ser independente na relação com os outros, porém deve saber que é no contato com os outros que mostramos quem realmente somos. Quiçá, essa seja uma interpretação possível do verso de Pessoa: “eu não sou, eu sou o outro”; isto é, os outros são o nosso termômetro existencial.
Jayme C

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