terça-feira, 21 de junho de 2016

tempo no envolvimento

LÁ VEM TEXTINHO (leitura de 1'13 para não te cansares)



Na minha dispensável opinião, a expressão “lá vem textão” reflete algo do pior que a nossa geração tem. Simboliza a ilusória falta de tempo para o envolvimento com qualquer coisa. Entregamos a nossa felicidade às ordinárias rapidinhas existenciais (nos múltiplos campos da vida). Zygmunt Bauman escreveu sobre o amor liquido, sob essa perspectiva de que as pessoas não conseguem mais se conhecerem verdadeiramente; e essa condição implicando a fragilidade dos laços no cotidiano. Com relação à leitura, local-de-fala originário da malfadada expressão, a pobreza de conteúdo (“de geral”) é uma terrível consequência de não lermos mais de dez linhas sem perdermos a atenção. Nada mais nos prende, nada mais nos toca, nada mais... nada! Obviamente, o vazio existencial torna-se imperante. Carência, ansiedade e angústia são as marcas da geração que não sabe lidar/respeitar o tempo das questões mais essenciais e, desse modo, lê apenas o raso e o superficial. Comecei a ler ontem (pela terceira vez), “O idiota” (683 pgs.), do Dostoievski. Na última tentativa fui até a página 317, mas fui vencido pelo que agora é objeto da crítica. Dostoievski é o meu escritor do coração – aprendi a delícia que é investigar a alma humana a partir de sua literatura. “O idiota” traz no personagem central o “homem bom dostoievskiano”. Entretanto, os nossos idiotas são os que precisam de desculpa quando diante de um textão; esses, infelizmente, não conhecerão “Dostô” – até porque dilacerar a alma humana leva bem mais do que alguns minutos.
Jayme C.

amor

APRENDENDO (A MOR)RER


O querido amigo Mau Saldanha me procurou dizendo que ia fazer um documentário sobre os términos das relações amorosas. O Mau é um sujeito de muito coração e que acredita na força do amor como um elemento essencial na vida. Desse modo, é esse o pano de fundo que ele quer captar por trás dos términos das relações. Afinal, o amor nos toca nos começos, mas o seu anunciado desaparecimento nos términos implica o desconforto da presença na ausência...


Gravamos a minha participação no filme e devido ao meu estado de espírito atual soltei mais o lado bem humorado do que o melancólico. Narrei um “causo” de uma malfadada história com uma garota paulista que era defensora do Paulo Maluf, pois tive que terminar com ela em meio ao natal (época sugestiva para correções de rumo). Como ela era adepta da inqualificável direita cristã, revestiu-se de dificuldade o meu movimento em uma data tão significativa. O Mau deu muita risada, mas não escondeu que estava querendo o meu lado triste e não o seguro de si em suas galhofas cotidianas.

Em nossa conversa filmada, sustentou a sensível ideia de que o amor é o nosso grande ensinamento para a morte. Ou seja, com o passar do tempo nos entramos nas relações amorosas com um grau bem diminuto da ilusão de que será eterna. Depois da repetição de alguns términos, a maturidade inscreve-se em nossa derme já curtida pela melancolia da finitude. Nesse contexto, as lágrimas que por amor derramamos são preparatórias para as mortes concretas que enfrentaremos ao longo da tarefa de vivermos a vida. Ao escutar o meu amigo cineasta, imediatamente, disparei: “aprendendo a morrer... ” (será o título do documentário!). Talvez, esse horizonte faça justiça à grandiosidade do amor em todos os seus atos, isto é, pela quimera encantadora dos começos, mas também pelo difícil aprendizado nos finais.
Jayme C.