A coisa ficou russa
Fui ao Pé-palito (pé-pa) com um grande amigo que havia ficado solteiro. Esse
amigo ficou apenas uma semana em liberdade
provisória. E foi o suficiente para que realizasse um estrago na província.
Logo ao entrar no pé-pa acabamos nos perdendo. 40 minutos depois nos
reencontramos e havia duas garotas consigo. Uma delas se chamava Gi e era um
antigo affaire seu. A amiga de Gi, por sua vez, meu amigo disse que era russa,
que só comunicava-se em inglês, bem como que era para eu dar um jeito nela. Sem
titubear passei a rasgar a mina com o meu inglês basic mode. Tentei dialogar sobre aspectos da cultura russa que eu
conhecia. Assim, entre falar sobre Oleg Salenko – artilheiro russo da copa dos
EUA em 94, ou, sobre Dostoievski, preferi arriscar no mestre da literatura. Ela
nem deu bola para o meu argumento intelectual. Gesticulando me mandou deixar de
ser o idiota, pois senão meu castigo seria não conseguir o crime que homens ordinários e extraordinários executam pela noite... Enfim,
começamos a ficar e nem uma hora após o nosso primeiro beijo começávamos o
deslocamento para a residência pós-moderna da querida juju. Na época eu servia
de caseiro para a juju, pois ela passa parte de seu tempo voando pelo mundo.
Bem, fomos ao quarto de hóspedes e nos entregamos ao dionisíaco. Lá pelas 8 da
manhã, pouco antes de nos despedirmos, perguntei seu nome e algum meio de
contato. E não tinha como não pedir. Foi como ser o ator principal de um filme
de sacanagem que a atriz principal tem como fala constante: “Oh, yeah, yeah...
Oh, yeah...”. Qual homem nunca sonhou com uma gringa e gemidos internacionais?
Ela revelou que se chamava Luana e que como era casada preferia terminar o
nosso breve relacionamento naquela manhã chuvosa. Disse também, aliás, que
morava em São Paulo. No outro dia comentei o ocorrido com meu amigo Lucio. Ele
sem pestanejar interjeitou: “puxa vida, uma russa chamada Luana?!”. Não dei
bola para o deboche que rolou – “Jayminho pegou uma russa paraguaia!”. Um mês se
passou e fomos a um churrasco na casa do Fred. Narrei à história da russa e
assim fomentei a gargalhada dos amigos. Entretanto, Aline Medina pontuou que
conhecia a irmã de uma amiga nossa que tinha uma amiga chamada Gi, que mora em
São Paulo, se chama Luana e adora fazer brincadeirinhas com os meninos na
noite. Ela volti-e-meia se faz de
muda ou de estrangeira, e assim tira uma onda pelas noites da província quando
está por aí. Verificamos nos contatos de Medina e não deu outra – Luana era a
russa! Demos muitas risadas da coincidência. Não costumo citar nomes, mas Luana
deixou na reta... Literalmente! Assim sendo, sigo com Dostoievski, no horizonte
dos “Irmãos Karamazóvi”, acreditando que todo criminoso cria a sua própria
condenação. Seja ordinário(a) ou extraordinário(a). Daí é uma questão de
sorte...
Jayme Camargo