A paixão na identidade e o amor na diferença
Normalmente nos apaixonamos por pessoas que julgamos serem parecidas com a gente. Que compartilhamos gostos. Musicas, filmes, lugares. Sentimos frio na barriga quando estamos nos apaixonando a cada objeto compartilhado. Nossa paixão é altamente identitária. É o nosso ardente desejo pelo espelho. Entretanto, as paixões costumam ter prazo de validade. São finitas. E às vezes acabam com a gente. E aí não conseguimos entender como toda aquela afinidade não resistiu ao tempo. E em muitos casos não sobrevive. Apenas a menor parcela das paixões transforma-se em amor. E só se transformam em amor aquelas que cumprem uma condição. As que as afinidades objetivas viram crescimento. Aquelas no qual o jeito do outro nos agrega pela sua diferença. Quando na convivência aprendemos com as suas virtudes. E vice e versa. Essa troca gera o crescimento sem dor. Único modo humano que temos de crescer sem sofrimento é pelo aprendizado no amor. De resto, geralmente só aprendemos sofrendo. Por exemplo, nos casos em que a afinidade não vira amadurecimento. Casos em que os objetos das paixões nos criam ilusões. Viram amor as paixões de sujeitos de jeitos diferentes. Sujeitos só jeito. Onde cada evolução marca as experiências de ambos. Onde a intimidade revela cobranças que valem à pena – que nos trarão benefícios ao longo do tempo. Aquelas pequenas cobranças que tantos amores fizeram e que surdos não demos bola. É triste quando apenas um está preocupado com o crescimento. Significa que na prática só um está amando. Aqueles que não recebem aprendizados sentem-se não-amados. E em geral uma relação não se suporta sem a admiração. E em sua maior virtude habita o amor na diferença.
Jayme Camargo da Silva
Jayme Camargo da Silva