Eu estava na praia da barra da lagoa com uma amiga colorida. Era uma tarde linda de sol e o mar catarinense nos recebia em um tom verde-transparente. Ela me pediu o fogo para acender um cigarro. Eu lhe alcancei o isqueiro. Depois de três tentativas sem sucesso, quase me ofereci para ajudá-la, ao passo que já havia fumado dois cigarros e assim tinha um handicap favorável. Quase... No exato momento em que ia dizer “eu acendo para você”, lembrei-me que ela, apesar da tenra idade, é uma mulher muito forte subjetivamente e deveras independente. Assim, minha fala foi: “eu ia me oferecer para acender, mas como você é mega independente...”. Ao que ela respondeu: “eu sou é teimosa!”.
As palavras dela mexeram com meu cérebro abalroado pela embriaguez, oriunda das múltiplas cervejinhas que tínhamos tomado, mas também enquanto embriaguez do sol e da beleza natural que circunscrevia aquela vivência. Minha fala subsequente foi no sentido que o reconhecimento da teimosia, era algo que eu já havia notado no jeito de outras pessoas. A partir desse ponto passamos a dialogar sobre as possíveis causas desse fenômeno. Ao que concluímos pela obviedade, ou seja, o machismo constitutivo das nossas práticas culturais acarreta que algumas mulheres acabem sendo teimosas em certas ocasiões. Isto é, devido às múltiplas situações de subjugo masculino em que são acometidas, algumas mulheres acabam desenvolvendo essa disposição. Ela não deixou de observar em nosso papo: “a teimosia acaba sendo um modo de reconhecimento, na medida em que a condição feminina é inúmeras vezes sufocada pelo machismo cotidiano”. Daí a nossa ideia que a teimosia está muitas vezes NAS mulheres, mas que não é DAS mulheres. E que os homens devem fazer uma meia culpa antes de dispararem que suas companheiras são teimosas. Questão a ser recolocada: até que ponto não são esses próprios homens que disparam essa condição?
Jayme C.