Humanamente morremos
A morte é um evento que nos retira do esquecimento. Esquecemos cotidianamente a nossa humanidade. Vamos vivendo, vivendo, vivendo... Até que um dia somos lembrados. Que humanamente morremos. Quando ela nos toca parece que somos reconectados. Com o nosso senso de responsabilidade. Seja pela solidariedade, seja pelo sofrimento compartilhado. Vivemos preocupados com pequenas veleidades. E só diante de seu abismo incontornável, fica claro o que de fato é problemático. Reclamamos da fila do banco, da falta de grana, das pessoas que não compartilhamos hábitos. Reclamamos mortalmente de coisas da vida. E a vida nos cobra essa imaturidade. Brigamos com pessoas que amamos, por que não consideramos sua humanidade. Brigamos enquanto humanidade, por que amamos com o engano da eternidade. Não há para onde correr. Não há esconderijo que nos proteja. Vida é projeto lançado, compartilhado e acontecido. A morte – pura expressão do possível. Resta aprender a viver sem depender da morte para resgatar. Esgotar da vida sem considerar a morte – a forma humana de desumanizar.