sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

sobre o Mundial: a burguesia vermelho e "branca" em Abu Dahbi


Deus está morto.

Nietzsche

– a burguesia vermelho e “Branca” em Abu Dahbi


Olhei ao fatídico jogo entre Inter e Mazembe junto com meu caro amigo Atahualpa (doravante “Atah”). Não costumo secar desnecessariamente. Porém, antes para evitar um sábado próximo como foi o domingo de 17 de dezembro de 2006, do que por qualquer “anti-coloradismo”, torci muito pelos africanos. Aliás, salve mãe África, tantas vezes explorada, raríssimas vezes “exploradora”. Pois, o Congo representado pelo Mazembe explorou. Não só devido ao fracasso técnico do ataque colorado, nem de seu (ir)regular arqueiro, mas também graças à forte ligação com o divino que os africanos demonstraram. Em cada lance de perigo no jogo eles olhavam para o céu. Tanto no ataque quanto na defesa. Seu goleiro – de nome “Kidiaba” – a expressão técnica que os colorados não têm em Renan. Um goleiro com o diabo no corpo, que dança, defende e, assim, parece esbanjar um contato com deuses e demônios como poucas vezes o futebol viu. E a torcida africana não ficou para trás. Mesmo em menor número frente à maioria colorada, exibiram sua linda negritude com uma charanga, cânticos e a alegria sanguínea de sua terra. O sangue pouco apareceu nos vermelhos. Os colorados presentes em Abu Dhabi pouco refletiam o “clube do povo do RS”, como, por exemplo, se percebe no Beira-rio. Aliás, quando às câmeras de televisão passeavam pelas arquibancadas, não se via um só sujeito negro entre os colorados. Algo interessante para o clube que tanto se orgulha de seu passado “afrikaner”. Atah não deixou passar: “olha lá, a burguesia colorada da província que foi passear em Abu Dhabi”. E sem pestanejar concordei. Começávamos a des-vendar a antropologia daquele confronto. Os africanos fizeram toda a preparação com o “místico” que lhes são corriqueiras. Tanto torcida quanto jogadores em campo. Os colorados, com relação ao time, pouco lembraram aquela consistente equipe das finais da Libertadores. E nas arquibancadas, a burguesia vermelho e Branca em Abu Dhabi, passou a léguas de distância de torcedores que no Beira-rio, por exemplo, jogam balas de mel e fazem com que todos os santos apóiem o colorado em suas jornadas. Nada disso. Os colorados que lá estavam eram de outra relação com a quadratura da vida “deuses/mortais - “Terra/mundo” (Heidegger). E assim a ironia da história deu-se mais uma vez, fazendo com que o colorado perdesse também pela ausência da negritude sanguínea em Abu Dhabi. Em todos os sentidos, no campo e na arquibancada, do goleiro (Renan) ao centroavante (Alecssandro), entre deuses e mortais. No futebol como na vida, por vezes, os deuses fazem justiça aqueles que lhes são mais próximos. Tanto faz, em campo ou na torcida.

Jayme Camargo da Silva