quinta-feira, 29 de julho de 2010

o pecado da dúvida

é pela incerteza da vida
o que se sabe
e a quem se tem
que esmorece o pecado da dúvida
leve-natural crista
que se estende a toda particular existência
de um caminho longínquo
e tamanho
avatar de uma dor
ao lado de mil amores
soa uma frágil certeza
de estar e sentir-se vivo
esperando com minhas melancolias
a única certeza que deixo nascer:
a minha morte

Lúcia Cavalli e Jayme Camargo

quarta-feira, 28 de julho de 2010

poesia


ao Vado Vergara,

pela persistência em continuar sentindo


no dia em que ela não atende

meu coração em aperto e abandono

sou colocado no mudo

na estrada destruição do sonho


não permito mais

que meu pensamento exista nela

pensamento que des-exista

na mesma medida para ela...


o amor é jogo em seu começo

e no seu começo em jogo:

angustia, dor e sofrimento

é relação de causa – sem efeito

é defeito, é puro desafeto!


desfeito o projeto não mais a protejo

não mais a penso, não a respiro

não piro pela sua ausência

foda-se meu sentimento!


ela é quem não o merece

e assim – o desmereço

o despeço em meu despedaço

o impesso de lhe dar espaço

a desnudo do meu imaginário...


Jayme Camargo - inverno de dois mil e dê (2010)

sábado, 17 de julho de 2010

ensaio de segurança pública e amor


Ao mestre Juremir Machado da Silva,

pela independência na ironia da “província”.


A beleza da Brigada


Por essa ninguém esperava. A governadora Yeda, através de sua tentativa de reforçar a tropa de choque, terminou foi chocando aos corações dos gaúchos. Logo ela, tantas vezes acusada de ser pouco feminina, de ser dura como um xiita militante. Pois, o que a governadora pretendia com a atitude de colocar 3.500 homens a mais nas ruas, certamente era reforçar sua política criminal conservadora. Em 3 anos e meio de governo, registraram-se na área da segurança pública inúmeras práticas do governo Yeda identificadas com aquilo que, em direito penal, denomina-se “direito penal do inimigo”. Isto é, em linguagem bem cotidiana, “atira e depois vê o que acontece”. Poderíamos ser mais acadêmicos, mas não é essa a pretensão ora em questão. Assim, faremos mão de outro exemplo cotidiano, sobre a pratica da política criminal do inimigo, nos últimos anos de governo. O coronel Mendes foi o comandante geral da Brigada Militar. Promotor de (in)segurança pública, causou pânico a toda sociedade gaúcha quando, frente à acontecimentos que envolvessem “grupos de pessoas”, deveria responder pelas liberdades, igualdades e fraternidades, dos cidadãos que estivessem presentes. Como sempre, quando a violência parte das instituições oficiais, elas oficializam violentos. Conferem grau de promotor de políticas públicas, a sujeitos que des-conhecem o necessário republicanismo no trato com a esfera pública. No direito penal do inimigo é necessário referir, ainda, que ele ignora o fato concreto que a violência implica necessariamente em mais violência. Um princípio verificável constantemente em nosso cotidiano. Assim, na tentativa de reforçar o “sentimento de segurança” dos gaúchos, a governadora “recauchutou” o quadro da Brigada Militar. Incrível foi a conseqüência. O quadro não só é bastante jovem, mas também é igualitário no gênero. Ou seja, começaram a ter pelas ruas da capital inúmeras jovens brigadianas. E o mais esplendido reside no conteúdo estético: muitas delas são belas. Sim. Não pensem em brigadianas como as jogadoras da seleção brasileira de futebol feminino. Não. De fato não é esse o paradigma da brigada de Yeda. Nossa tropa de choque está qualitativamente equipada de belezas. Resolvi escrever esse texto, devo confessar, pois me peguei “secando” uma brigadiana, em uma rápida ida de T7 do Bom fim à Cidade baixa. Frente ao acontecimento, não pude deixar de perceber a presença de um duplo sentimento em meu coração. De um lado estava retido pela efêmera paixão surgida por “soldada Alves”, presente no coletivo. Por outro, temor frente ao que poderia decorrer: imaginem se soldada Alves, no horizonte do direito penal do inimigo e sua máxima intervenção penal, resolvesse me dar “voz de prisão”?! Imaginem, uma mulher em nome de uma ineficiente política criminal, não perceber que cativou alguém pelo seu lado não-policial?! Seria péssimo. Só me restaria dizer que eu estava encantado pela sua formosura, e que com todo respeito, mesmo sabendo que ela estava em serviço, eu não estava, e assim não consegui deixar de restar preso, mas preso com o coração...

Jayme Camargo da Silva


quarta-feira, 14 de julho de 2010

crueldade das mulheres

mulheres cruéis...

são...

sempre...
o tempo todo...
e já... jaz
é jazz...


Vado vergara e Jayme Camargo.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

o amor (sempre) tece


às mulheres que amei.


TECIDO O AMOR

A menina bebia para amortecer a dor
tragava o último suspiro de esperança
o amor tece e dá asas
amordassa e nos joga do abismo

nos julgamos no direito ao delito
da posse que o ciúme passa
à traça que corrói as formas
e deforma nosso firmamento

sentimos no peso dos ossos
amor ter sido nosso testamento
esquecida a textura dos sonhos
na ausência do passado presente

amor tecido da vida
tecido o amor
a história da menina...

Jayme Camargo

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O preço da coerência é carência de competência – “o caso” Dunga.



O preço da coerência é carência de competência – “o caso” Dunga.


O futebol não tem lógica. Dias atrás defendi esse argumento. Dunga, o treinador da seleção brasileira, escolheu seu grupo de trabalho defendendo a “coerência” como critério de convocação. Dessa forma, convocou jogadores medianos como Josué, Kleberson, Michel Bastos e Felipe Melo. Deixando de fora da copa do mundo, por sua conta e risco, valores como Paulo Henrique “Ganso”, Victor, Ronaldinho Gaúcho, Hernanes e Neymar. Também é verdade, certamente, que em futebol nem sempre os melhores triunfam. Sim, concedemos essa ressalva. Entretanto, impõe-se a reflexão, na medida que a seleção brasileira de futebol perdeu sendo pior que a seleção holandesa. Jogou mais no primeiro tempo, ressalva também importante. Porém, não suficiente a produção realizada na primeira etapa, restou pior que a Holanda no segundo tempo. Um jogo de dois tempos distintos; e distantes também. Isto é, o Brasil mandou no primeiro tempo, mas fez apenas um gol, enquanto que a “laranja” fez dois gols quando impôs o seu domínio. Fomos piores. Contra fatos não há argumentos. Dada essa conclusão, não podemos subtrair as críticas. Ao critério de Dunga, logicamente. Podemos simbolizar a “era Dunga” como treinador, na escolha de um determinado jogador, que foi uma exclusiva “invenção” sua – Felipe Melo. Vejamos o que há por trás dessa escolha. O volante joga exatamente na posição em que Dunga atuava, o que qualifica ainda mais a escolha para tal posição. Nuca havia disputado um jogo pela seleção, até que o comandante da coerência resolveu lhe dar a titularidade. Um jogador medíocre, que nunca havia tido boas passagens pelos grandes clubes brasileiros em que atuou. Com problemas de comportamento, sempre se revelou um jogador insuficiente psicologicamente. E no caso da Holanda, foi ele quem tratou de deixar a equipe em apuros, ao ser expulso em mais uma atitude conseqüente de sua marginalia. Engraçada a coerência de Dunga, não é? Deixou de fora Adriano, por exemplo, justificando pelo seu mau comportamento, mas entregou a posição que já havia sido sua na seleção, para um jogador medíocre tecnicamente e com postura de um maloqueiro. Dizem por aí que “o sujeito sai da favela, mas a favela nunca sai do sujeito”, e isso parece prevalecer em Felipe Melo. Não adianta morar em Turim. Aliás, o filósofo Friederich Nietzsche, que também habitou em Turim, foi um ferrenho adversário da coerência. Não acreditava nela como parâmetro para se compreender o universo do humano. Preferia uma “metafísica de artista” como o critério para compreensão do cotidiano. E no Brasil, como todos sabemos, o futebol é uma das essências constitutivas do cotidiano. Arte foi o que faltou, em uma seleção coerente com o seu valor. Se Nietzsche estivesse vivo, fatalmente relembraria Dunga que lutar em nome da coerência, é lutar apenas no plano de Deus. O único ente idealmente coerente. Esse, no entanto, o próprio filósofo se encarregou de anunciar: “Deus está morto!”.

Jayme Camargo da Silva